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O livro 'Só de Bicho' traz consigo as digitais da solidariedade e do compromisso social
Antes de ter amado um animal, nossa alma permanece desacordada. (Reprodução)
Por Marco Lacerda*
Houve um tempo, lá por volta os anos 1960-70 em que era comum entre a moçada o uso da palavra bicho: Falou, bicho! É isso aí, bicho! Até mais, bicho! Naquela época, começavam a retumbar no Brasil os primeiros ecos de uma revolução que acontecia em muitos países e tinha seu foco na Califórnia. Uma contracultura genuína – os hippies – surgira nas ruas de San Francisco e causava impacto demolidor em todo o planeta. Representavam um vasto segmento da juventude e declaravam-se em oposição aberta aos ideais vigentes, de carros último tipo, casa própria, seguro de vida e bombas napalm para destruir aldeias de pescadores no Vietnã.
Estava deflagrada uma rebelião pacífica com forte toque espiritual, uma cruzada por uma nova consciência na qual não cabia mais a brutalidade das guerras. Uma gigantesca borboleta psicodélica saiu do casulo e partiu em missão de paz, cruzou fronteiras, atravessou oceanos, levando com ela o cheiro de incenso patchouli e os acordes do novo rock que reverberava nas ruas.
Onde quer que a borboleta tocasse, seu espírito arrebatava a fantasia de massas de jovens mundo afora. E era tão grande o poder do seu toque que acabou por dar à luz uma nova tribo, um novo estilo de vida. Nada tinha acontecido antes que se parecesse com aquilo. E nada houve depois.
Lembrei desse delírio épico diante de um fato recente. Do encontro entre os jornalistas mineiros Laura Medioli e Fernando Fabbrini nasceu a ideia de reunir textos publicados nos últimos anos nos jornais e em sites e transformá-los no livro "Só de Bicho" (Sempre Editora, 178 páginas, R$ 30,00). O resultado é uma coletânea de histórias divertidas e comoventes, onde cães, gatos, cavalos, passarinhos, capivaras e tubarões são alguns dos protagonistas. Um gesto louvável, sensível, amoroso, já que a renda obtida com a venda dos livros será destinada a entidades voluntárias que trabalham no cuidado e adoção de animais de rua.
O lançamento do livro de Laura e Fernando remeteu-me àquela passagem do Gênesis que diz: “Deus os abençoou e lhes ordenou: Sede férteis e multiplicai-vos! Povoai e sujeitai toda a terra; dominai os peixes do mar, as aves do céu e todo animal sobre a terra!”. Ao proclamar tal supremacia, Deus deu ao homem um poder que o tempo se encarregaria de provar que o homem não merecia e nunca foi capaz de praticar. Não sei onde Deus estava com a cabeça ao sancionar tamanho privilégio.
Embora o Brasil e o mundo tenham feito avanços no que se refere à proteção dos bichos, ainda nos deparamos com episódios hediondos de maus tratos a animais, provando que muitos esforços ainda devem ser feitos para mudar esse cenário cruel. As criaturas que habitam a terra em que vivemos, sejam elas seres humanos ou animais, estão aqui para contribuir, cada uma à sua maneira, para a beleza do mundo.
Entre as muitas benesses trazidas com o advento das redes sociais – sobretudo do Facebook – está uma avalanche de vídeos – caseiros em sua maioria – mostrando a verdadeira face do reino animal, que o grande jornalista e escritor Fernando Portela chama de “reino dos seres superiores”. Nunca aprendemos tanto sobre a doçura, a inteligência e a fidelidade dos bichos do planeta. O menino que sofre e se indigna diante dos maus tratos infligidos aos animais, será bom e generoso com os homens.
O Natal está aí. Entre no Google, digite “Só de Bicho” e saiba onde comprar o livro. É um presente de luxo que leva consigo as digitais do amor, da solidariedade, da esperança, do compromisso social. Antes de ter amado um animal, nossa alma permanece desacordada. Falou, bicho?
Amor de animal. Veja o vídeo.
*Marco Lacerda é jornalista, escritor e Editor Especial do DomTotal
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