Por Álvaro de Juana
Papa na Missa. Foto: L'Osservatore Romano
Vaticano, 09 Dez. 16 / 11:10 am (ACI).- O Papa Francisco dedicou a homilia da Missa na Casa Santa Marta aos sacerdotes e aos cristãos sempre insatisfeitos com o que Deus lhes dá. “Não conseguem entender o cerne da revelação do Evangelho”, afirmou.
Sobre os sacerdotes “insatisfeitos”, o Papa advertiu que “fazem tanto mal” e assim têm “seu coração afastado da lógica de Deus” e, por isso, “se lamentam ou vivem tristes”.
Entretanto, a lógica de Jesus deveria dar “plena satisfação” a um sacerdote. “É a lógica do mediador” e “Jesus é o mediador entre Deus e nós, e nós devemos seguir por este caminho de mediadores”. Segundo o Papa, ser um “intermediário” é outra coisa, porque “faz seu trabalho e recebe o pagamento” e “ele nunca perde”.
“O mediador perde a si mesmo para unir as partes, dá a vida, a si mesmo, e o preço é aquele: a própria vida, paga com a própria vida, o próprio cansaço, o próprio trabalho, tantas coisas”. E “a lógica de Jesus como mediador é a lógica de aniquilar a si mesmo”, destacou.
O sacerdote autêntico “é um mediador muito próximo ao seu povo” e o intermediário atua “sempre como funcionário”, “não sabe o que significa sujar as mãos”. Por isto, quando “o sacerdote muda de mediador a intermediário não é feliz, é triste”.
“Mas para tornarem-se importantes, os sacerdotes intermediários seguem pelo caminho da rigidez: tantas vezes, separados das pessoas, não sabem o que é a dor humana; perdem aquilo que tinham aprendido em suas casas, com o trabalho do pai, da mãe, do avô, da avó, dos irmãos”.
“E tantas pessoas – continuou – que se aproximam buscando um pouco de consolação, um pouco de compreensão, acabam expulsas com esta rigidez”.
Com a rigidez, chega a mundanidade e “um sacerdote mundano, rígido é um insatisfeito porque pegou o caminho errado”.
“Sobre rigidez e mundanidade, aconteceu há algum tempo, que veio a mim um Monsenhor idoso da Cúria, que trabalha, um homem normal, enamorado de Jesus e me contou que havia ido ao ‘Euroclero’ (uma loja em Roma em que compram artigos religiosos) comprar um par de camisas e viu diante de um espelho um jovem – ele pensa que talvez tivesse uns 25 anos, o padre jovem ou (que estava) para tornar-se padre – diante do espelho, com uma manta, grande, larga, com veludo, a corrente de prata e se olhava. E depois pegou o chapéu romano, o colocou e olhava. Um rígido mundano. E o sacerdote – é sábio o Monsenhor, muito sábio – conseguiu superar a dor, com uma história de saudável humorismo e acrescentou: ‘E depois se diz que a Igreja não permite o sacerdócio às mulheres!’. De forma que o trabalho que faz o sacerdote quando se torna um funcionário, sempre cai no ridículo”.
O Papa continuou: “No exame de consciência considerem isto: Hoje fui funcionário ou mediador? Guardei a mim mesmo, busquei a mim mesmo, a minha comodidade, a minha organização ou deixei que o dia seguisse a serviço dos outros?”, perguntou.
“Uma vez uma pessoa me disse que ele reconhecia os sacerdotes pelo comportamento com as crianças: se sabem fazer carinho numa criança, sorrir para uma criança, brincar com uma criança... É interessante isto porque significa que sabem abaixar-se, aproximar-se das pequenas coisas”. Pelo contrário, “o intermediário é triste, sempre com aquela cara triste ou muito séria, rosto sisudo. O mediador é aberto: o sorriso, a acolhida, a compreensão, os carinhos”.
Ao final da homilia, o Papa propôs três “ícones” de sacerdotes mediadores:
Policarpo: “não negocia a sua vocação e vai com coragem à pira e quando o fogo o cerca, os fiéis que estavam ali sentiram odor de pão. Assim acaba um mediador: como um pedaço de pão para os seus fiéis”.
São Francisco Xavier: O Papa assegurou que morre jovem “olhando para a China”.
São Paulo: Prestes a morrer, “os soldados foram até ele, o pegaram e ele caminhava encurvado”, sabendo que ia morrer.
São “três ícones que podem nos ajudar. Olhemos nisto: como quero acabar a minha vida de sacerdote? Como funcionário, como intermediário ou como mediador, isto é, na cruz?”, terminou.
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