Por Nany Mata*
Uma mãe extremamente religiosa descobre que o filho é gay. Com a ajuda de Deus e de seus líderes religiosos ela o força, de maneiras diversas, a tornar-se heterossexual. Por razões óbvias, nada do que ela faz funciona e, pressionado demais, o jovem se mata, pulando de uma ponte em San Francisco, nos Estados Unidos. Esse é o início do enredo do longa "Orações para Bobby", baseado em fatos reais. A história se repete em uma família aqui e outra acolá.
A relação entre pais e filhos LGBT é um assunto delicado. "Eles [meus pais] puderam perceber através da minha conduta que isso era apenas um detalhe da minha personalidade. Eles entenderam que o filho deles podia ser uma boa pessoa, honesto, bom caráter, bom filho, bom amigo, mesmo sendo gay", escreveu Leonardo Vieira, depois da enxurrada de ódio pela qual passou, depois da tal foto publicada. O relato, na íntegra, era de emocionar e o relacionamento deles chegou a um final feliz, mas não é sempre assim.
Não encontrei estatísticas para tal, mas eu apostaria que a violência verbal beira os 100% ao se "assumir" uma sexualidade fora dos padrões dentro de casa. Aliás, que termo é esse? Como bem disse Vieira em sua carta, essa palavra soa pesada, parece referir-se quem se revela culpado de algo, quando não há erros ou culpas.
E a revelação, muitas vezes, resulta em violência. "Prefiro filho drogado do que viado", "Antes p* do que sapatão", "Não te criei para virar isso", "Sai dessa casa e só volta quando virar homem". É como se quisessem nos corrigir, algo natural, incorrigível. É uma coisa maluca que, além de sofrer na rua, no trabalho, em bares, shoppings, exista algo que vem de dentro de casa, teoricamente, o lugar que deveria ser seguro.
Homofobia também humilha, tortura e mata. Em situações extremas, a violência vem atitudes, como ocorreu com Itaberli Lozano, morto a facadas e incinerado pela própria mãe, com o padrasto de cúmplice, no interior de São Paulo. Segundo relatório publicado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB), foram documentados, entre 2013 e 2014, 312 assassinatos de gays, travestis e lésbicas. De acordo com a publicação, a estimativa é de que ocorra um assassinato a cada 28 horas.
Revoltante saber que aqueles que deveriam oferecer apoio, carinho e aceitação diante de um mundo já complexo demais para quem nasceu fora dos padrões, contribuem para essas estatísticas. Se família é porto seguro, que o seja também para filhos LGBT.
*Jornalista, especialista em Gestão Estratégica em Comunicação, ambos pela PUC Minas. Trabalhou e é voluntária da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), entidade sem fins lucrativos que visa a humanização no cumprimento da pena e a ressocialização de indivíduos que cometeram delitos. Como funcionária da entidade, tornou-se também voluntária e entusiasta dos Direitos Humanos. Atualmente é assessora de imprensa, tem ainda experiência como community manager, social media e reportagem.
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