“Para mim a época em que passei pregando as Santas Missões Populares foi o tempo mais empolgante, mais envolvente e que me deixou muita saudade”
O missionário Redentorista, padre Antonio Ricieri Bariani, completa, no dia 24 de dezembro de 2016, 100 anos de vida. Ele reside atualmente na casa paroquial de Trindade (GO). Completamente lúcido, neste fim de ano lançou um livro de poesias. Ele conta desde sua infância, estudos, como se tornou padre redentorista, seus tempos de missionário e muito mais.
Família e infância
“Nasci em 24 de dezembro de 1916, em Guaxima, Município de Conquista, no Triângulo mineiro. Meu pai era italiano, Joseph Fioravante Bariani e minha mãe brasileira, Maria da Loka. Éramos 10 irmãos, hoje só eu estou vivo. Fui batizado no mesmo dia em que nasci. Ainda pequeno, minha família se mudou para Igarapava (SP). Ali fiz meus primeiros estudos. Depois fui estudar em Ribeirão Preto, onde cursei Escola de Comércio por três anos. Vim para Goiás em 1939. Trabalhava numa serraria com a minha família. Em 1939 eu frequentei, à noite, aulas no Liceu de Goiás”.
Igreja e fé
“Sempre fui da Igreja. Quando era pequenino eu ia à missa levado pela mão de minha mãe, e foi nas missas que eu aprendi o gosto pelas coisas de Deus. Mais tarde, já rapaz, eu pertenci à Congregação Mariana, lá em São Paulo ainda. E me fizeram diversos convites para ser padre. Falavam que faltavam padres, que estava faltando missionário. Lembro que, quando eu era coroinha, na sacristia da Catedral de Ribeirão Preto, perguntei ao padre José, um Estigmatino: “E eu presto para ser padre? Mas eu posso ser um?”. Ele apontou o dedo pra mim e falou: “Se você quiser, você presta, você pode!” E eu respondi: “Eu vou querer! Eu quero!”
No Seminário
“Até chegar ir para o Seminário foi um processo longo. Quando morava no Estado de São Paulo quis entrar para um seminário mas não foi possível. Então aconteceu que, vindo para Goiás, conheci os Redentoristas e senti que minha vocação tinha se firmado e resolvi segui-la. Conversei com o Padre Fernando Albertini, de quem tenho muita saudade. Naquela época os redentoristas de Goiás não tinham Seminário aqui. Eram unidos com São Paulo. O superior de São Paulo, padre Geraldo Pires de Souza veio fazer uma visita a Goiás. Padre Albertini, de moto, foi depressa para a serraria onde meu pai, eu e meus irmãos trabalhávamos e foi logo dizendo: “Olha, eu falei com o superior e ele quer falar com você”. Fui falar com o Padre Geraldo Pires de Souza e nós acertamos minha ida para Aparecida (SP). Depois fiz o Noviciado em Pindamonhangaba (SP), e os estudos de Filosofia e Teologia em Tietê (SP).”
Ordenação
“Minha ordenação sacerdotal aconteceu no dia 06 de janeiro de 1949, junto com meu companheiro padre Leodônio Marques, já falecido. Aconteceu na Igreja São João Bosco, dos padres Salesianos, em Goiânia. Tenho a glória de ser o primeiro padre a ser ordenado em Goiânia. E cantei a primeira missa solene no dia 09, na Matriz de Campinas, Paróquia Nossa Senhora da Conceição, ainda na igreja antiga que, infelizmente, foi demolida. Sobre a ordenação eu digo que é um momento muito forte e marcante com a infusão do Espírito Santo...
Trabalhos
“Meus primeiros anos de sacerdócio foram em Araraquara (SP) e Aparecida (SP). Depois vim para Goiás, morando em Trindade, Brasília, e na Prelazia de Rubiataba, trabalhando com Dom Juvenal Roriz. Houve um período de dois anos que fui professor no Seminário São José, no atual Setor São José. O menino Ney Barreto, hoje padre Ney, era um dos meus alunos. Mas o tempo mais forte e marcante para mim foram os muitos anos que pertenci à equipe missionária, pregando as Santas Missões Populares. Nossa equipe pregou Missões em Goiás e em muitas cidades de outros estados brasileiros. Estivemos no Paraná (Curitiba, Londrina), em Santa Catarina (Joinvile), em muitas cidades da Bahia, do Piauí, Maranhão, Pará, Tocantins. Por isso eu digo que a época das Santas Missões, para mim, foi o tempo mais empolgante, mais envolvente e que deixou muita saudade”.
Desobrigas
“Quando morei em Trindade, nos anos de 1951/52, eu viajava de caminhão ou jardineirinhas até Aurilândia ou até Moitu, e de lá ia, à cavalo, rodando uns 15 dias fazendo desobrigas pelas fazendas, pelos povoados até as margens do Rio Caiapó. O povo tem necessidade dos sacramentos, da santa missa, da confissão, da comunhão, da catequese. Mas quem mora longe não tem como receber... então o padre vai até ele. Porque o povo tem a obrigação de confessar e receber a comunhão ao menos uma vez por ano... Então o padre vai lá para desobrigar o povo. Atende o povo... faz a catequese.. confessa... E aí o povo participa da santa missa, da comunhão... e são realizados os batizados e os casamentos. Eu fui o último padre que fez esse trabalho de desobrigas lá nos sertões daqueles tempos”.
“Falo com muita satisfação e com muita alegria da convivência com o Servo de Deus padre Pelágio Sauter. Convivi com o padre Pelágio vários anos na casa missionária de Trindade. Eu me confessava com ele, ele também se confessava comigo. Era uma maravilha a convivência com os padres antigos. Padre Pelágio era o confrade mais velho, o mais antigo de Goiás e que conhecia todo mundo. Alemão, mas conhecia os costumes de Goiás. E naquele tempo nós fazíamos três meditações por dia, e de joelhos na capela. Padre Pelágio junto, sempre junto com a comunidade. Depois, Padre Pelágio passou a ir, nas quartas-feiras, para Campinas, onde atendia o povo na Igreja Matriz, Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição”.
Trindade II
“Trabalhei nas periferias de Goiânia e Trindade, residindo no Parque Buriti e Setor Maysa III, durante vinte e seis anos. Quando cheguei para fazer parte da equipe, não havia mais espaço no casebre pequenino onde já se alojam três confrades, em três cômodos que serviam de quarto, sala de recepção/refeição e cozinha. Então morei sete anos na sacristia da Igreja Nossa Senhora da Guia, e fiquei 13 anos noapartamentinho que foi construído pra mim entre a igreja e a nova casa que hoje é a secretaria da paróquia. Depois fui para o Maysa III. O carisma da Congregação é missionário, e fiqueina região Trindade II, nesses vinte e seis anos, como missionário. Se eu pudesse voltar para as missões eu voltaria! Oh, Santas Missões Populares! Quem não esteve nas Santas Missões, não participou bastante tempo das Missões, não viveu as Missões, não sabe o que é... o que são as Santas Missões! Santo Afonso tinha muita razão em pregar Missões”.
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