Diversos movimentos populistas estão entrando em coalizão com o catolicismo mais antagonista de Francisco, considerado progressista e radical demais.
E a iminente repacificação com Roma se torna uma referência também para aqueles que são apenas idealmente de linha conservadora.
E a iminente repacificação com Roma se torna uma referência também para aqueles que são apenas idealmente de linha conservadora. (AFP)
Por Paolo Rodari
É cada vez mais forte a ligação entre católicos tradicionalistas e movimentos populistas na Europa. No rastro de Donald Trump, que, como escreveu o jornal The New York Times dias atrás, estabeleceu, mediante o seu conselheiro Stephen K. Bannon, uma relação com o mundo mais conservador do Vaticano, também na Itália e em outros países europeus, diversos movimentos populistas estão entrando em coalizão com o catolicismo mais antagonista de Francisco, considerado progressista e radical demais.
Um ponto de referência em Roma é o cardeal estadunidense ultraconservador Raymond Burke, que, nos últimos dias, foi premiado pelos líderes pro-life estadunidenses com o Law of Life Achievement Award pelas suas batalhas em defesa da vida e da família, a fim de evitar as “perseguições” e as “humilhações públicas” em Roma.
Burke, patrono da Ordem de Malta, teve que se submeter à nomeação a delegado especial da própria Ordem do sostituto da Secretaria de Estado, Angelo Becciu. E, mesmo no fronte estadunidense, ele não terá vida fácil: nos últimos dias, foi criado, por parte da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, liderada pelo cardeal Daniel DiNardo, um grupo de trabalho que, com periodicidade semanal, irá monitorar cada ação de Trump sobre os migrantes e as questões sociais: “O mundo está profundamente aflito, e muitos dos nossos irmãos e irmãs estão legitimamente aterrorizados”, comentaram sobre o “muslim ban” os jesuítas dos Estados Unidos e do Canadá, cinturão bergogliano do outro lado do oceano.
E, embora Francisco, falando com o jornal El País, tenha expressado o seu “wait and see” sobre Trump, é evidente que a hierarquia estadunidense hoje é a sua voz, até o dia de um primeiro face a face que poderia ocorrer depois da cúpula do G7 em Taormina, no fim de maio.
Burke é muito ativo no fronte italiano. Com ele, há diversos prelados, que, no entanto, preferem não aparecer, embora continuando a temer a existência de “uma grande confusão teológica” sob o céu de Bergoglio. É um mundo que se propõe como ponto de referência para aqueles que, na Itália, buscam consenso no eleitorado católico descontente com Bergoglio.
Matteo Salvini, que saiu há dez dias de uma audiência privada com o purpurado estadunidense, dá a entender que é aqui, em um catolicismo bem definido, que as suas batalhas encontram consenso. Não por acaso, para os investigadores italianos, a afixação em Roma de cartazes contra o papa, cujo conteúdo foi espalhado todos os dias por sites e blogs tradicionalistas, foi obra de movimentos da direita política. Movimentos que também encontram terreno fértil no Norte.
Na Lombardia, Formigoni, antes, e Maroni, depois, gozaram do apoio explícito de movimentos eclesiais conservadores. Assim acontece no Vêneto, onde o prefeito de Verona, Tosi, começa a sua parábola também fortalecido pelo apoio de um tradicionalismo católico conhecido por celebrar as Páscoas Veronenses, recriações da resistência antinapoleônica, de aglomerações semelhantes aos lefebvrianos – em 2005, o Pe. Abrahamowicz participou de uma missa para reparar o Gay Pride – e também de ambientes mais moderados próximos do Opus Dei. Um nome acima de todos é Paolo Biasi, ex-presidente da Fundação Cariverona, na época, primeiro acionista da Unicredit.
Na França, a novidade das últimas horas – a pesquisa é da revista Famille Chrétienne – é que um quarto dos católicos praticantes vota na Frente Nacional. Marion Le Pen se aproveita desse mundo: na quinta-feira passada (9), em uma entrevista ao jornal La Croix, ela criticou a “política” do papa sobre a imigração. “Muitas iniciativas do papa me pegam desprevenida”, disse. A Fraternidade São Pio X de Ecône (Vale do Rhône), fundada por Marcel Lefebvre, tem muito campo do outro lado dos Alpes.
E a iminente repacificação com Roma (Francisco não exclui aqueles que ideologicamente encontram-se em um lado oposto ao seu) se torna uma referência também para aqueles que são apenas idealmente de linha conservadora. Assim ocorre na Alemanha, onde muitos fiéis olham para a Alternative für Deutschland. No dia 13 de março de 2016, o partido populista de direita embolsou resultados inimagináveis, especialmente na Saxônia-Anhalt, embora Gerhard Feige, bispo de Magdeburgo, esperava que a raiva e o ódio não prevalecessem.
Lá, como na Baviera, resiste um catolicismo que se opõe a bispos e cardeais de sinal oposto, ou seja, aquelas hierarquias da Europa Central que quiseram e pressionaram pela eleição do primeiro papa latino-americano.
La Repubblica, 12-02-2017.
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