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Francisco tem encontrado opositores que não temem colocar suas caras à luz do dia.
Quanto a nós, é urgente e necessário tirar Francisco do isolamento. (Divulgação)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Francisco está isolado. Ainda que no mundo inteiro, dentro e fora da Igreja, ele encontre admiradores e apoiadores, ele está isolado. Não há dúvidas de que Bergoglio, eleito Francisco, atenda àquilo que os cardeais tanto discutiram nas reuniões do Conclave. Era preciso, de fato, trazer a Igreja para mais perto das pessoas, sobretudo quando as instituições perdem sua importância, num mundo fragmentado e líquido, e quando as sociedades vão se tornando cada vez mais secularizadas.
A escolha de um papa latino-americano corresponde a um cuidado e a uma atenção ao continente mais católico do mundo. O zelo dispensado por Francisco, na tentativa de soluções aos conflitos de nossos países latino-americanos e caribenhos reflete isso. Esse é apenas um dos sinais de que a escolha de Francisco atende a demandas muito claras na vida da Igreja. É preciso, pois, não romancear a escolha e o ministério de Francisco.
Mas, diante de tudo isso, uma coisa é clara: Francisco tem ido longe demais. É verdade que uma das incumbências atribuídas a ele pelos cardeais foi a reforma da Cúria Romana, mas suas tentativas de tornar a Igreja cada vez mais servidora do Evangelho, tem encontrado duras resistências. Todos os papas certamente encontraram resistências: Bento XVI, um papa conservador, encontrou muitas dificuldades na realização de sua missão à frente da Igreja, e o resultado disso todos já sabemos, a sua inesperada renúncia. Essas resistências, contudo, estavam veladas.
Francisco tem encontrado opositores que não temem colocar suas caras à luz do dia. Dos recantos mais sombrios da Igreja, à claridade, essas forças de resistência significam uma verdadeira negação a tudo aquilo que o pontificado de Francisco representa. E, nesse caso, mesmo que milhões e milhões de pessoas se encantem com a proposta de Francisco, de uma Igreja mais evangélica e que cumpra verdadeiramente sua missão no mundo, aqueles que deveriam amarrar uma pedra de moinho ao próprio pescoço e lançarem-se ao mar (cf. Mt 18,6), criam claras dificuldades na transformação da Igreja.
Os primeiros pontos de apoio à proposta de Francisco deveriam ser as Igrejas Particulares, isto é, as dioceses. Contudo, a maior parte dos bispos à frente dessas Igrejas ainda ressoam os pontificados de João Paulo II e Bento XVI. As Igrejas Particulares são as Igrejas que existem, que podem ser vistas. Francisco tem sinalizado, já há muito, que é preciso que os bispos atuem com coragem na transformação da Igreja. Mas, infelizmente, ainda permanece o trauma de uma Igreja centralizada em Roma, terminantemente castradora das iniciativas particulares e perseguidora das vozes dissonantes.
Também as Conferências Episcopais deveriam fazer ressoar as inspirações de Francisco, na transformação das estruturas. A CNBB, depois de muito tempo apática e, de certo modo, conivente com os problemas sociais, e de ter perdido sua postura profética no Brasil, agora dá tímidos sinais de tomada de posição. Dentro da Igreja, ainda vivemos o clericalismo, uma pastoral de manutenção e uma religiosidade de massas.
Quanto a nós, é urgente e necessário tirar Francisco do isolamento. Quando as ondas do conservadorismo vão se tornando cada vez mais claras e contundentes, tal como tem acontecido, é preciso que nós, que acreditamos numa Igreja de volta às fontes, e ressignificada pelo Concílio Vaticano II, saiamos do silêncio e nos unamos em prol dessa mesma causa. Francisco, do centro do poder, não pode ser uma profética voz isolada. Nós somos muitos, nas periferias eclesiais todas, basta que nos organizemos!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail para contato: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com
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