segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Papa Francisco alerta sobre o perigo que começa com o ressentimento e o ciúme

Por Walter Sánchez Silva


Foto: L’osservatore Romano

VATICANO, 13 Fev. 17 / 10:00 am (ACI).- Na homilia da Missa celebrada na manhã de hoje, na Casa Santa Marta, o Papa Francisco meditou sobre a leitura do Gênesis que conta a passagem de Caim e Abel, a história “de uma fraternidade que devia crescer, ser bela e acaba destruída”.

Esta história, explica o Santo Padre, começa “com um pouco de ciúme” de Caim a Abel. E Caim preferiu o instinto, “preferiu cozinhar dentro de si este sentimento, aumentá-lo, deixá-lo crescer. Este pecado que cometerá depois, que está oculto atrás do sentimento. E cresce. Cresce”.

“Assim crescem as inimizades entre nós: começam com uma pequena coisa, um ciúme, uma inveja e depois cresce e nós vemos a vida somente daquele ponto e aquele cisco se torna para nós uma trave, mas a trave nós que temos, está lá. E a nossa vida gira em volta daquilo e destrói o elo de fraternidade, destrói a fraternidade”.

Aos poucos, continuou o Pontífice, fica-se “obcecado, perseguido” por aquele mal. “E assim cresce, cresce a inimizade e acaba mal. Sempre. Eu me distancio do meu irmão, ele não é meu irmão, é um inimigo, que deve ser destruído, expulso... e assim se destroem as pessoas, assim as inimizades destroem famílias, povos, tudo!”.

Isso aconteceu com Cain no princípio, explicou Francisco, “e acontece a todos nós, a possibilidade; mas este processo deve ser detido imediatamente, no início, na primeira amargura, detido. A amargura não é cristã. A dor sim, a amargura não. O ressentimento não é cristão. A dor sim, o ressentimento não. Quantas inimizades, quantas rupturas”.

Também concelebraram a Missa alguns párocos e Francisco lhes disse: “Também nos nossos presbitérios, nos nossos colégios episcopais: quantas rupturas começam assim! Mas por que deram a sede a ele e não a mim? E por que isso? E… pequenas coisinhas… rupturas… Destrói-se a fraternidade”.


Deus, disse o Papa, pergunta a Caim: “Onde está Abel, teu irmão?”.  A resposta de Caim “é irônica”: “Não sei: Acaso sou o guarda do meu irmão?”.

É possível, continuou o Santo Padre, que não tenha matado alguém, mas “se você tiver um sentimento ruim por seu irmão, você o matou; se insultar o seu irmão, você o matou no coração. O assassinato é um processo que começa com uma coisa pequena”.

Este processo, explicou o Papa Francisco, também vemos nos conflitos bélicos, “quantos poderosos da Terra podem dizer isto… ‘Tenho interesse por este território, tenho interesse por aquele pedaço de terra, por aquele outro… se a bomba cair e matar 200 crianças não é culpa minha: é culpa da bomba. Tenho interesse naquele território… ’. E tudo começa com aquele sentimento que o leva a se distanciar, a dizer ao outro: ‘Este é fulano, ele é assim, mas não irmão… ’, e acaba na guerra que mata. Mas você matou no início. Este é o processo do sangue, e o sangue hoje de tantas pessoas no mundo clama a Deus da terra”.

“Mas está tudo ligado. Aquele sangue lá tem uma relação – talvez uma pequena gota de sangue – com a minha inveja, o meu ciúme fiz derramar, quando destrói uma fraternidade”.

Ao concluir a sua homilia, o Pontífice incentivou todos a repetir a pergunta que Deus faz a Caim, “onde está o teu irmão?”, e que nos ajude a pensar naqueles que “destruímos com a língua” e “a todos os que no mundo são tratados como coisas e não como irmãos, porque é mais importante um pedaço de terra do que o elo da fraternidade”.

Leitura meditada pelo Papa Francisco

Gênesis 4, 1-15, 25

1Adão conheceu Eva, sua mulher, e ela concebeu e deu à luz Caim, dizendo: “Gerei um homem com a ajuda do Senhor”. 2E deu também à luz Abel, irmão de Caim. Abel foi pastor de ovelhas e Caim, agricultor. 3Aconteceu, tempos depois, que Caim ofereceu frutos da terra como sacrifício ao Senhor, 4e Abel ofereceu primogênitos do seu rebanho, com sua gordura. O Senhor olhou para Abel e sua oferenda, 5mas para Caim e sua oferenda não olhou.

Caim encheu-se de cólera e seu rosto tornou-se abatido. 6Então o Senhor perguntou a Caim: “Por que estás cheio de cólera e andas com o rosto abatido? 7É verdade que, se fizeres o bem, andarás de cabeça erguida; mas se fizeres o mal, o pecado estará à porta, espreitando-te. Tu, porém, poderás dominá-lo”.

8Caim disse a seu irmão Abel: “Vamos ao campo”. Logo que chegaram ao campo, Caim atirou-se sobre o seu irmão Abel e matou-o. 9E o Senhor perguntou a Caim: “Onde está o teu irmão Abel?” Ele respondeu: “Não sei. Acaso sou o guarda do meu irmão?” 10O Senhor lhe disse: “Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão está clamando por mim, da terra. 11Agora, pois, serás amaldiçoado pela terra que abriu a boca para receber das tuas mãos o sangue do teu irmão! 12Quando tu a cultivares, ela te negará seus frutos. E serás um fugitivo, vagando sobre a terra”.

13Caim disse ao Senhor: “Meu castigo é grande demais para que eu o possa suportar. 14Se, hoje, me expulsas desta terra, devo esconder-me de ti, tornando-me um fugitivo a vaguear sobre a terra; qualquer um que me encontrar me matará”. 15E o Senhor lhe disse: “Não! mas aquele que matar Caim, será punido sete vezes!”

O Senhor pôs, então, um sinal em Caim, para que ninguém, ao encontrá-lo, o matasse. 25Adão conheceu de novo sua mulher. Ela deu à luz um filho, a quem chamou Set, dizendo: “O Senhor deu-me um outro descendente no lugar de Abel, que Caim matou”.

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