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Muitos países importadores suspenderam as compras do Brasil desde que investigação revelou supostos pagamentos de propina envolvendo a fiscalização de produtos.
Churrasco típico brasileiro em restaurante de São Paulo. (REUTERS/Paulo Whitaker)
Por Tom Polansek
CHICAGO - Um grupo de parlamentares e defensores da segurança alimentar dos Estados Unidos está pressionando o governo norte-americano a se juntar a outras nações e bloquear os embarques de carne bovina in natura do Brasil em face de um escândalo revelado pela operação Carne Fraca. Os Estados Unidos já começaram a testar toda a carne bovina do Brasil para patógenos.
Mas as organizações agrícolas argumentam que é necessária uma ação mais forte para proteger o fornecimento alimentar, pois os consumidores dos EUA têm menos possibilidade de escolher a carne desde o fim da legislação exigindo que a carne seja rotulada para mostrar sua origem. A campanha para bloquear as importações do Brasil também devem impulsionar as vendas domésticas.
Muitos países importadores suspenderam as compras do Brasil depois que a Polícia Federal brasileira divulgou, em 17 de março, uma investigação sobre supostos pagamentos de propina envolvendo a fiscalização de produtos no Brasil.
Sem uma iniciativa similar dos Estados Unidos, "os consumidores que desejam evitar o produto brasileiro teriam que evitar todos os produtos", disse Bill Bullard, diretor executivo do grupo de produtores de gado dos Estados Unidos, R-CALF USA.
Legisladores norte-americanos derrubaram as leis de rotulagem dos EUA, conhecidas como COOL, em 2015, para evitar mais de 1 bilhão de dólares em sanções comerciais pelo México e pelo Canadá.
No ano passado, os Estados Unidos começaram a permitir embarques de carne in natura do Brasil depois de terem proibido a importação devido a preocupações com a febre aftosa em bovinos.
Uma caixa de carne importada do Brasil agora seria rotulada como proveniente do Brasil se fosse vendida aos consumidores em seu recipiente original, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). No entanto, se for reembalada ou reprocessada, não há como identificá-la como brasileira, disse a agência.
A carne do Brasil é geralmente processada nos EUA e usada para produzir produtos como carne moída, alimentos congelados ou fast food, de acordo com o North American Meat Institute, que representa os processadores de carne norte-americanos.
O ministro da Agricultura do Brasil, Blairo Maggi, disse nesta segunda-feira que a prioridade do governo brasileiro é restabelecer as exportações de carnes suspensas por alguns países e, num segundo momento, o objetivo é reconquistar a confiança dos consumidores no exterior, o que não será fácil.
No último sábado, China, Egito e Chile anunciaram a reabertura de seus mercados para a importação de carne brasileira, movimentos que foram comemorados pelo governo.
Um bloqueio da carne do Brasil por Washington seria um outro golpe para a reputação do produto brasileiro, mesmo que os Estados Unidos não sejam um grande comprador.
POSSIBILIDADE DE RETALIAÇÃO
Os senadores norte-americanos Heidi Heitkamp, de Dakota do Norte, e Jon Tester, de Montana, e a deputada Rosa DeLauro, democrata de Connecticut, defendem a suspensão das importações.
Permitir que carne bovina insegura entre no país põe em risco os consumidores e "a reputação dos produtores de carne bovina dos EUA cuja carne é vendida junto com a carne importada - agora sem rotulagem obrigatória do país de origem", disse Heitkamp ao presidente dos EUA, Donald Trump.
Representantes do USDA não responderam aos pedidos de comentários especificamente sobre os pedidos dos parlamentares para uma proibição.
Sonny Perdue, indicado para ser o próximo secretário de Agricultura dos EUA, apoia as inspeções extras da agência, mas disse aos senadores norte-americanos na semana passada que o Brasil poderia retaliar se os EUA suspenderem as importações de carne bovina.
O Serviço de Segurança e Inspeção de Alimentos do USDA visita as unidades autorizadas a exportar para garantir que tenham os padrões de segurança equivalentes a de instalações dos EUA, e pode suspender a elegibilidade do Brasil se os padrões não forem mantidos.
O Ministério da Agricultura do Brasil afirma ter um sistema rígido de regulamentação de suas 4.837 unidades produtoras de produtos animais, com 2.300 funcionários trabalhando em inspeções sanitárias.
Maurício Porto, chefe da União Nacional dos Inspetores Sanitários Federais, disse que o sistema de segurança do Brasil é forte. Mas ele disse que o ministério deixou de rotar os inspetores entre as unidades processadoras para minimizar a influência e pressão das empresas.
Tony Corbo, um lobista sênior do grupo ambiental Food & Water Watch, disse que os controles extras do USDA sobre a carne brasileira importada significam que a agência está fazendo o trabalho de inspeção do Brasil.
Os Estados Unidos "gastaram muito dinheiro enviando auditores lá e aumentando as inspeções nos portos e ainda assim os reconhecemos como tendo um sistema de inspeção equivalente", disse ele sobre o Brasil. "Simplesmente não."
Reuters
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