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Quaresma é tempo pedagogicamente propício à conversão e caminho de reafirmação da filiação divina.
Esmola, oração e jejum compõem a tríade do testemunho cristão no mundo. (Divulgação)
Por Felipe Magalhães Francisco*
O período quaresmal, no calendário litúrgico, é tempo pedagogicamente propício para nos inserir no processo de conversão, que para todo cristão e cristã precisa ser diário. Preparando-nos para a memória do fundamental de nossa fé, o mistério da morte e ressurreição de Jesus, reassumimos, na quaresma, o caminho de volta à origem de nossa experiência de filhos e filhas: a recordação de nosso batismo, na celebração pascal. Pelo batismo, sacramentalmente, mergulhamos nossa existência na morte e ressurreição de Jesus, inaugurando, pela graça salvífica do Pai, um tempo de vida nova e de compromisso com a fé que professamos.
A pedagogia da quaresma, que nos faz recordar o batismo de conversão pregado por João Batista, no Jordão, ajuda-nos a perceber a importância de não nos desviarmos de nossa condição filial, alcançada como dom no nosso batismo. Ao propor um batismo de conversão no rio Jordão, João torna claro àquele povo a necessidade de voltar à mesma condição de quando pôde entrar na terra prometida: conhecendo verdadeiramente quem era Deus e nutrindo uma relação de amizade com ele. Nós, hoje, percorrendo o caminho quaresmal, somos exortador a voltar à mesma experiência, simbolizada por nosso batismo.
O batismo, graça de participação na morte-ressurreição do Senhor, é nossa inserção numa vida de filhos e filhas, chamados a viver conformes a esse dom com o qual o Pai nos agracia. Na quaresma, caminho espiritual de reafirmação de nossa vida filial, crescemos na consciência de que precisamos, em nossa vida, testemunhar tal graça salvífica que alcançamos, e que está aberta a toda a humanidade. É por isso que trilhamos esse caminho, segundo a tríade do testemunho cristão no mundo: por meio da esmola, da oração e do jejum. Nossa matéria especial desta semana quer, pois, trazer à reflexão cada elemento dessa tríade, a fim de que cresçamos na qualidade do exercício filial da misericórdia e da conversão.
O artigo Esmola: coração aberto para se doar!, do Pe. Jaldemir Vitório, insere-nos na inspiração bíblica da esmola, ajudando-nos a perceber seu sentido profundo e sua importância para a espiritualidade cristã. A verdadeira esmola pressupõe encontro com outro e deixar que o coração por ele se dilate, num movimento evangélico de compaixão. Movendo-nos em direção ao outro, como interpelação do próprio Jesus, contribuímos no processo de recuperação de sua dignidade, numa teia de solidariedade e misericórdia.
Proposto por Daniel Reis, o artigo Oração cristã: uma conversa entre amigos, contribui com o aprofundamento de nossa compreensão de que a oração é um estreitar de laços com o próprio Deus, fruto do Espírito e abertura para o outro, na intimidade da fé. Pela oração, a vida cristã se fortalece, no encontro profundo e verdadeiro com o Deus de Jesus, que nos acolhe como Pai. Como Jesus, todo cristão e cristã é chamado a nutrir essa amizade com Deus, abrindo o coração para um encontro transformador e gerador de sentido.
Para concluir nossa tríade do caminho quaresmal, o artigo Rasgai vossos corações!, de Rodrigo Ladeira, propõe uma leitura teológico-espiritual do jejum, compreendido a partir do mistério da fé cristã. Fruto da esmola e da oração, o jejum nos educa para a abertura a Deus, ao outro e a nós mesmos, bem como gera em nós o compromisso com a solidariedade em favor daqueles que nada têm. Longe de ser puro abster do que dá prazer, o jejum precisa nos inserir na dinâmica do mistério da páscoa de Jesus, fazendo ecoar em nós, o ressoar de nosso encontro com o Senhor.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).
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