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A experiência quaresmal é importante ao ser humano, independente de se ser cristão ou não.
O deserto ensina imperativos de uma travessia.
Por Gilmar Pereira*
As celebrações religiosas têm muito a ensinar por seu conteúdo antropológico. Não é necessário que se professe determinada religião para tirar algum proveito da mística que elas geram. Esse é o caso da quaresma, período que a Igreja rememora os dias de Jesus no deserto, com todas as suas implicações teológicas. O deserto é necessário.
Vale, num primeiro momento, olhar para o passado remoto ao texto evangélico. Ele está inserido numa tradição bíblica maior, a do povo de Israel. O povo hebreu fora para o Egito fugindo da seca e da fome e lá se instalara. Com o decorrer dos anos, passou a ser oprimido e, por isso, guiado por Moisés, atravessou o deserto rumo à terra que criam ser dada por Deus. A passagem da escravidão para a vida nova é chamada Páscoa. De modo parecido, Jesus viveu normalmente por longo tempo até ter um despertar, que ocorreu no seu batismo no Jordão, e ir para o deserto. Só depois disso inicia seu ministério de pregação e curas.
A experiência bíblica do deserto é a experiência da passagem, da mudança de vida, do recolhimento necessário para o início de um novo tempo. Os cristãos, anualmente, somam as duas memórias a outra, que também se liga a Jesus, que é sua passagem pela cruz e ressurreição, a qual cada fiel se soma por seu próprio batismo. O batizado, na fé cristã, é um novo homem, alguém que rompeu com uma lógica de vida e passou à vivência conformada no Cristo. No cristianismo primitivo, o batismo se celebrava após um período de preparação da pessoa durante a quaresma. Nesses dias ela seria instruída na fé de uma comunidade que a incorporaria, sendo chamada de neófita, recém-plantada.
A experiência quaresmal é importante ao ser humano, independente de se ser cristão ou não. Ora, do que se fala aqui? Da experiência de recolhimento que marca uma passagem, onde se é apurado, gestado, burilado para um novo modo de existir. Aqui se encontra a necessidade do deserto em seu significado cultural. Trata-se do lugar da purificação por sua inospitalidade.
Caracterizado por seus baixos índices pluviométricos, o deserto obriga a adaptação dos que ali tentam se instalar ou mesmo transitar. Isso implica em reduzir tudo ao mínimo necessário. Mesmo porque, a escassez impede que se fique por muito tempo em um só lugar e um nômade deve ser capaz de mobilidade. Quem já fez longas peregrinações sabe que ao fim de alguns dias até o peso de um pente é sentido. Sobreviver ao deserto pede leveza. Não só isso, esse local também endurece. Diante da agressividade do meio, quem ali está não pode ser demasiado frágil, há de se ter resistência e, por isso, deve agir contra sua preguiça ou moleza de vida. Por uma questão de sobrevivência, faz-se aquilo que não é conforme a própria vontade, mas de acordo com o que for necessário.
Recolher, reduzir, agilizar, agir contrariamente ao desejo. O deserto ensina imperativos de uma travessia. Ensina outra lógica, como a que a menor distância entre dois pontos nem sempre é uma reta. Os que se instalam no deserto preferem ficar em seus entornos. Tentar atravessá-lo passando pelo meio pode ser fatal. Ele se vive pelas beiradas e na sinuosidade de suas bordas e dunas formam-se mentalidades. Estas também se mostram comunitárias, embora o recolhimento seja o mais característico dessas paisagens. O outro é ajuda para a sobrevivência e no deserto não se sobrevive só. A carestia une. Há de se recolher, sem deixar de colaborar.
As crises pessoais precisam de deserto para que sejam resolvidas, precisam desse tempo de travessia. Quem quer mudar há de se recolher, sair de cena e reduzir os excessos, aquilo que lhe sobra na vida. Só assim se ganha leveza. Acontece que aquilo que nos pesa também se apega à alma e por isso é preciso certa dureza e ajuda de outros. Se há quem diga que a vida no Brasil só começa depois do Carnaval, a quaresma é o tempo de gestar o novo que se pretende.
Filosofia e Humanidades
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O início das aulas será no dia 7 de março de 2017 e tem o investimento mensal de R$200,00.
Informações pelo 3342-2847 ou pelo link http://goo.gl/WKXARL
Filosofia e Humanidades
Período de Inscrição: até 7 de março de 2017.Investimento mensal: R$200,00
Informações pelo 3342-2847 ou pelo link http://goo.gl/WKXARL
Rua Sinval de Sá, 700 – Cidade Jardim – Belo Horizonte - MG
Funcionamento: 2ª a 5ª feira, de 9h às 18h e 6ªfeira, de 9h às 17h.
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O Centro Loyola é uma obra da Companhia de Jesus (Jesuítas) que promove cursos, ciclos de palestras, grupos de reflexão, rodas de conversa, nas áreas de teologia, filosofia, literatura e espiritualidade.
*Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, graduado em Filosofia pelo CES-JF, graduando em Teologia pela FAJE. Apaixonado por arte, cultura, filosofia, religião, psicologia, comunicação, ciências sociais... enfim, um "cara de humanas". Escreve às sextas-feiras.
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