Cidade do Vaticano (RV) – Há 12 anos, no dia 2 de abril, São João Paulo II voltava para a Casa do Pai. Concluía-se assim um dos Pontificados mais longos e extraordinários da história da Igreja. A memória de Karol Wojtyla ainda está muito viva entre os fiéis que, em muitos aspectos, encontram uma consonância entre o Papa “vindo de um país distante” e aquele “vindo quase do final do mundo”.
A Rádio Vaticano pediu a este respeito uma reflexão ao Presidente da Pontifícia Academia para a Vida e Grão Chanceler do Pontifício Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, Dom Vincenzo Paglia, nomeado bispo pelo próprio Wojtyla no ano 2000.
“Estamos diante de um testemunho da fé cristã que soube dar a ela aquela dimensão de universalidade que hoje vemos refletida também no Pontificado do Papa Francisco. E se eu pudesse encontrar uma fonte comum, à parte o Evangelho, obviamente diria que o Concílio Vaticano II permanece para os dois como uma espécie de estrela guia. Me causou forte impressão o fato de que o Papa João Paulo II tenha realizado o seu primeiro Sínodo sobre a Família; a mesma coisa aconteceu com o Papa Francisco: também para ele o primeiro Sínodo foi sobre a família. E assim é importante ver uma linha que une, também este tema, como em um desenrolar, não em uma repetição literal, mas em um crescente. E existe então um passo de crescimento partindo da Familiaris Consortio e chegando até a Amoris Laetitia; existe uma continuidade que eu acredito será redescoberta para colher a riqueza do magistério papal nestes últimos decênios”.
RV: De tanto em tanto, alguns especialistas de várias áreas concentram-se sobre uma suposta descontinuidade entre Wojtyla e Bergoglio. Mas depois vemos que para as pessoas, no povo de Deus, estas duas figuras são sentidas como muito próximas..
“Eu convidaria todos nós a olhar este sensus fidei fidelium: o povo de Deus acolheu a relação entre estes dois Papas, obviamente diferentes entre eles. Digo isto também porque nos encontramos no aniversário da Amoris Laetitia. O senso dos fiéis – e pude constatar isto viajando por várias partes do mundo – acolheu este documento com entusiasmo, assim como havia acolhido com entusiasmo o ensinamento sobre a família de São João Paulo II e do Papa Bento. Mas existe um crescimento que o povo entendeu, assim como existe, também aqui, um crescimento dos dois grandes territórios do diálogo ecumênico e do diálogo inter-religioso: existe a atenção pelos mais pobres. Recordo pessoalmente, depois da primeira viagem ao Brasil de São João Paulo II, a impressão que ele confiou à Comunidade de Santo Egídio, a impressão ao ver as grandes periferias das cidades brasileiras cheias de pobres. E ele naquela ocasião disse: “É isto que o Concílio pedia: a Igreja que escolhe a todos, mas particularmente os mais pobres”.
RV: Entre as recordações pessoais, existe alguma em particular que o senhor poderia partilhar conosco?
“Recordo - justamente porque ultimamente estive nos Bálcãs – a paixão com que João Paulo II queria fazer parar aquela guerra dramática que ensanguentou todos os Bálcãs. Com decisão, queria visitar contemporaneamente as três capitais: Zagreb, Sarajevo e Belgrado. Não foi possível, mas a determinação que ele tinha para levar o seu testemunho de paz, é uma recordação realmente extraordinária; me impressionou a sua decisão, a ponto de bater os punhos na mesa quando o secretário quis impedi-lo. A sua decisão era a de ir a Sarajevo mesmo que fosse em um carro armado ou mesmo que falasse sozinho para uma cidade provada pela tragédia da guerra. Esta determinação pela paz, creio que tenha sido um dos maiores dons que São João Paulo II mostrou. E o Papa Francisco retomou isto com paixão”. (AG/JE)
(from Vatican Radio)
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