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Ou deixamos de fazer sofrer as crianças, ou é melhor que amarremos uma pedra de moinho ao pescoço.
Pessoas que maltratam crianças estão em todos os lugares. Na igreja inclusive, infelizmente. (Divulgação)
Teófilo da Silva*
A fala de Jesus é bastante dura, quando o assunto é o cuidado para com os pequenos. O contexto da fala de Jesus nos faz pensar tanto nas crianças, quanto nos pequenos que estão no início da caminhada de fé. Para aqueles que fizerem tropeçar esses pequenos, o conselho do Mestre: melhor amarrar uma pedra de moinho ao pescoço, e lançar-se ao mar (cf. Mt 18,6). Jesus diz isso, imediatamente depois de dizer que, no Reino, só entra quem for como uma criança e que, quem acolhe a uma delas, acolhe a ele próprio.
Esse texto é bastante iluminador, quando nos propomos a refletir sobre as violências praticadas contra as crianças. É bastante natural nossa sensação de horror, quando diante da notícia de uma criança maltratada. O maltrato contra alguém que possa se defender já é um escândalo. Quando esse alguém é um indefeso, expõe-se a crueldade à qual o ser humano pode ceder. Na lógica do Reino, isso é inaceitável. Por isso Jesus é tão incisivo no rechaço ao escândalo que se pode causar aos pequenos.
Pessoas que maltratam crianças estão em todos os lugares. Na igreja inclusive, infelizmente. Há muitas maneiras de maltrato e violência contra os menores. A violência sexual é uma das que mais chocam as pessoas, sobretudo quando praticadas por líderes religiosos. Esse não é um mal que parte apenas de presbíteros católicos, como se faz acreditar popularmente. Líderes de outras instituições religiosas também estão envolvidos nesse drama. Não se pode ignorar, também, o alto índice de violência, em todos os níveis, praticada pelos próprios familiares da criança.
Popularizou-se denominar toda violência sexual como pedofilia. Estritamente, não se pode tratar todas as formas de violência sexual praticada contra menores como sendo pedofilia. Pedofilia é uma doença, na qual homens, na maior parte dos casos, e mulheres se sentem atraídos por crianças que não atingiram a puberdade. Nem toda pessoa pedófila, necessariamente cometeu algum crime contra crianças. Há casos nos quais essas pessoas buscam tratamento, antes de cederem a seus impulsos. Apesar de avanços nos estudos a respeito da pedofilia, ainda não se tem clareza sobre suas causas nem a respeito de um tratamento plenamente eficaz.
Há, porém, violências sexuais praticadas contra menores que não são motivadas por pedofilia. Entre as quais, há, inclusive, um consenso por parte dos pais; relações incestuosas em relação a menores, tidas como normais nalguns cantos do país; o escandaloso caso de prostituição infantil... De toda forma, a violência contra as crianças é extremamente negativa e danosa, seja a motivada por doença, tal como a pedofilia, seja a motivada por outros fatores. Quando o assunto diz respeito a pessoas religiosas, então, isso ganha um contorno ainda mais triste.
A Igreja Católica, nesse contexto, desde o pontificado de Bento XVI, seguido pelo do Papa Francisco, tem dado passos no combate à pedofilia e ao abuso infantil nas fileiras eclesiais e eclesiásticas. Mas há muito o que avançar e com real urgência. Há muito ainda o que fazer, contra esses tristes e revoltantes casos. Mas não só na Igreja: em todos os cantos em que houver uma criança a padecer. Ou deixamos de fazer sofrer as crianças, ou é melhor que amarremos uma pedra de moinho ao pescoço. Palavras do próprio Jesus.
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*Teófilo da Silva é poeta e agente de pastoral.
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