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Quase 100 por cento das gravidezes que apresentaram resultados positivos para a síndrome de Down na Islândia foram abortados.
Menina com síndrome de Down. (Denis Kuvaev)
Por Mary Rezac
Um artigo recente da CBS News expressa que "poucos países estiveram tão perto de erradicar os nascimentos de pessoas com síndrome de Down como a Islândia". A palavra chave aqui é "nascimentos".
A Islândia descobriu, através de tecnologia inovadora e de diferentes pesquisas, uma cura para a anormalidade cromossômica? Não. Então como "desaparecer a síndrome de Down", como afirma um dos tópicos do artigo? Simplesmente "desaparecendo" as pessoas com síndrome de Down.
"A Islândia não está realmente eliminando a síndrome de Down. Eles estão apenas matando todos que o têm. Uma grande diferença" tuitou a atriz Patricia Heaton, que tem sido bastante sincera sobre suas crenças em pró-vida.
"Não há nada que comemorar na ‘erradicação’ na Islândia de bebês concebidos com síndrome de Down através do aborto", ressaltou Jor-El Godsey, presidente da Heartbeat International, uma rede de 1.800 centros de gravidez em crise com filosofia pró-vida que aconselha mulheres grávidas e as vincula a programas de apoio em todo o país.
"Eles são seres humanos preciosos modelados à imagem de Deus, e nenhum governo ou pessoa na terra tem autoridade para roubar as vidas de pessoas com síndrome de Down", disse Godsey à CNA. "A síndrome de Down não é uma sentença de morte e é monstruoso sugerir o contrário".
Toda mulher grávida na Islândia recebe a opção de um teste pré-natal que pode detectar a síndrome de Down com 85 por cento de precisão. "Quase 100 por cento" das gestações que apresentaram resultados positivos para a síndrome de Down foram interrompidas, segundo o relatório do CBS.
O site de verificação de fatos Snopes acrescenta uma qualificação importante à imagem.
"Em primeiro lugar o governo islandês não impõe abortos para as mães cujas crianças não nascidas resultam em positivo para a síndrome de Down, nem exige que uma mãe seja obrigada a fazer o teste", afirmam.
Snopes adverte que Hulda Hjartardottir, chefe da Unidade de Diagnóstico Pré-natal do Hospital da Universidade de Landspitali, onde cerca de 70% das crianças islandesas nascem, disse à CBS News que "bebês com síndrome de Down ainda estão nascendo na Islândia".
Embora os testes pré-natais não sejam necessários na Islândia, os prestadores de cuidados de saúde sugerem a cada mulher gravida o teste como opção. O país, que tem uma população de 330 mil habitantes, geralmente vê apenas uma ou duas crianças por ano nascidas com síndrome de Down - muitas vezes como resultado, informa o artigo, de testes defeituosos.
Outros países "não estão muito longe" no referente às taxas de aborto de bebês com síndrome de Down, afirma o artigo. "Os Estados Unidos tem uma taxa estimada (de aborto) para síndrome de Down de 67% (1995-2011), na França é de 77% (2015) e a Dinamarca é de 98% (2015)".
O artigo de CBS incluiu uma discussão sobre os dilemas éticos que representam os testes pré-natais e o aborto de bebês com síndrome de Down.
O geneticista Kari Stefansson acrescenta: "Desde o meu ponto de vista basicamente quase erradicamos a síndrome de Down da nossa sociedade – já que quase nunca há uma criança com síndrome de Down na Islândia".
Mas perguntado o que isso significa para a sociedade, ele advertiu: "Isso supõe um aconselhamento e planejamento sobre questões de genética relativamente opressivas. E eu não acho que esse tipo de aconselhamento seja desejável... Percebe-se um impacto importante em decisões que não são médicas, de certa forma.
"Eu não acho que haja nada de errado em aspirar a ter filhos saudáveis, mas o quão longe devemos desejar aqueles objetivos é uma decisão bastante complicada", disse ele.
O artigo também admite que, enquanto as pessoas nascidas com síndrome de Down correm o risco de vários outros problemas de saúde, muitas pessoas com síndrome de Down também vivem vidas saudáveis e são capazes de viver de forma independente ou semi-independente, conseguir empregos e ter relações.
"Muitas pessoas nascidas com síndrome de Down podem viver plena e saudavelmente, com uma vida útil média de cerca de 60 anos".
Talvez o melhor argumento contra a erradicação da síndrome de Down seja Augusta, a linda garota vestida de rosa de sete anos de idade que olha para fora das páginas do artigo da CBS. Sua mãe, Thordis Ingadottir, fez o teste quando estava grávida de Augusta, mas não conseguiu detectar a síndrome de Down.
Agora, Ingadottir tornou-se uma defensora das pessoas com síndrome de Down.
"Espero que ela seja totalmente integrada em seus próprios termos nesta sociedade. Esse é o meu sonho", disse Ingadottir à CBS. "Não são essas as necessidades básicas da vida? Em que tipo de sociedade você quer viver?".
Godsey disse à CNA que os pais cujos filhos têm síndrome de Down ou outras anormalidades genéticas precisam de amor e apoio - e não o aborto.
"(Estes pais)... merecem amor e apoio, o que beneficiará suas famílias, e o aborto fracassará categoricamente porque não poderá cumprir suas falsas promessas de beneficiar às famílias, aos indivíduos e à sociedade como um todo", apontou ela.
Godsey acrescentou que quase qualquer um que conheça alguém com síndrome de Down seria completamente contra sua eliminação.
"Como qualquer pessoa que conheça uma pessoa com síndrome de Down pode dizer, essas pessoas lindas são uma alegria absoluta para suas famílias e comunidades. O mundo se faz exponencialmente mais pobre quando matamos bebês inocentes pelo "crime" de não corresponder às nossas expectativas de autopromoção".
A alegria da vida com um membro da família que sofre de síndrome de Down foi celebrada pela CBS em um artigo diferente, publicado para celebrar o Dia Mundial da Síndrome de Down em 2015. Foi uma coluna de Marguerite (Maggie) Reardon, escritora sênior da CNET, sobre o momento em que ela descobriu que sua filha nasceria com a síndrome de Down.
Durante muito tempo, ela considerou o aborto, embora seu marido estivesse contra ele. O que a fez mudar de ideia foi o dia em que encontrou uma comunidade de outras pessoas com síndrome de Down e pais de crianças com síndrome de Down.
Ela ainda é uma mãe exausta e estressada, escreveu, mas não é porque a criança sofre de síndrome de Down, mas porque ela tem duas crianças pequenas que a mantêm ocupada.
"É verdade que minha filha tem alguns atrasos no desenvolvimento. E ela recebe um monte de terapias através da Early Intervention 1 para ajudar a mantê-la no bom caminho", disse.
"Mas ela também é maravilhosa. Ela tem um brilho nos olhos e um sorriso contagiante que faz com que as pessoas ainda mais miseráveis que olham para ela de cima para baixo no metrô, sorriam. Quando ela coloca a cabeça no meu ombro enquanto eu a levo para dormir todas as noites, meu coração derrete, sem importar o tipo de dia que eu tive".
"Eu acho que ela é mais especial do que as outras crianças, mas não é porque ela tem síndrome de Down. É porque sou uma mãe completamente coruja e doada que pensa que ninguém poderia ser tão adorável, brilhante ou engraçada como minha própria filha", escreveu ela. "E seu nome é Margot".
1 - Terapia usada para enfrentar problemas de crianças e suas famílias antes que sejam mais difíceis de reverter.
Crux - Tradução: Ramón Lara
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