Padre Geovane Saraiva*
Dom Helder partiu há 18 anos, no
dia 27 de agosto de 1999, após completar noventa anos, vividos e bem vividos,
sendo chamado ao seio do Pai. Homem de mil razões para viver, na mais viva
esperança, dizia: “Quando os problemas são absurdos, os desafios são
apaixonantes”. O Servo de Deus e Dom da Paz celebrava a missa lentamente, com
toda simplicidade, como se estivesse conversando com o Cristo, a Virgem, os
santos. Cada manhã, ao fim da celebração eucarística, contemplava o mundo com a
alma de um colegial em férias e com uma vontade louca de gritar a todos os que
se encontravam cansados na agitação da vida cotidiana: “Irmãos, hoje é feriado
universal”.
No time de poetas e sonhadores,
encontra-se Dom Helder Câmara como titular, pastor da ternura, da esperança, e
peregrino da paz. Como seria bom se a paz fosse um desejo de todos, fruto da
vivência do Evangelho, e que, consequentemente, levasse as pessoas à conversão
do coração! Mas, ao olharmos para o nosso mundo hedonista, com ausência de
compromisso em todos os sentidos e uma grande carência de heroísmo na fé, que
supõe luta e disposição interior, saibamos olhar Dom Helder como fonte inspiradora,
convictos de uma vida bem melhor já aqui na terra, no sonho daquela mais
elevada dignidade dos filhos de Deus.
O fogo do amor de Deus parece
sonho e utopia, mas é Deus mesmo nos dizendo para não apagar as luzes e nada de
sono profundo. Dom Helder soube acreditar, sem jamais deixar de se alimentar da
esperança como sonho eterno, e por isso mesmo foi acusado de utópico e
sonhador, porque se aproximava do “cavaleiro andante”. Respondendo a isso, ele
asseverou: “Comparar-me a Dom Quixote, está longe de ser uma nota
depreciativa”. E acrescentou: “Ai do mundo se não fosse a utopia, ai do mundo
se não fossem os sonhadores”.
Na certeza de que Deus é a
esperança que não engana seu povo, não nos esqueçamos de Dom Helder Câmara, a
boa semente plantada no coração do povo de Deus no século XX (1909-1999): “Que
sementes desejo espalhar pela Terra? Sementes de paz, de amor, de compreensão e
de esperança. Há tanto desespero, desengano, decepção, frustração e
desesperança! Sementes de esperança chegariam em boa terra”.
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