sábado, 19 de agosto de 2017

No Dia Mundial da Fotografia, eventos põem em pauta as questões contemporâneas desta arte

Inaugurado em março deste ano, o Museu da Fotografia Fortaleza já surgiu como uma instituição de referência, para os apreciadores e praticantes das artes fotográficas.

 Neste sábado, 19, a casa não poderia ficar de fora das comemorações do Dia Mundial da Fotografia. Durante todo o dia, o equipamento cultural poderá ser visitado gratuitamente. Também no sábado, às 14 horas, uma palestra aberta ao público põe em discussão questões que ajudam a entender a importância de espaços como o MFF.

Artista visual, fotógrafo e pesquisador paraense, Alexandre Sequeira apresenta a palestra “Fotografia, encontro e relações de trocas simbólicas”. A fala é uma porta de acesso ao universo de Sequeira, profissional com um currículo que inclui participações em eventos acadêmicos e exposições, no Brasil e no exterior. Seus trabalhos giram em torno do binômio fotografia e a alteridade social.

A palestra faz parte de uma ação permanente do Museu da Fotografia Fortaleza, de incentivar o debate e promover o encontro de grandes pesquisadores e profissionais com o público local. Palestras, cursos e oficinas complementam aquilo que as exposições do MFF oferecem aos visitantes.

Relações

“Há cerca de 15 anos, meu trabalho começou a se dirigir mais às relações que a fotografia estabelece, do que à fotografia propriamente dita”, explica Alexandre Sequeira. “Percebi que, quando apareço num lugar com a máquina fotográfica no ombro, as pessoas se aproximam e conversam sobre questões relacionados à fotografia: a memória, a identidade, a fabulação, o documento. A partir disso, me dei conta de que ela guarda, em si, uma série de interesses pra além da imagem. Como se a imagem fosse uma possibilidade de acessar certas questões que dizem respeito não apenas à fotografia, mas a quem somos”, detalha.

As questões enumeradas por Sequeira são marcadas por uma coincidência – são, ao mesmo tempo, pontos clássicos do debate acadêmico em torno da imagem e do ato fotográfico e demandas de “leigos”. “Não vejo contradição nisso. A academia surgiu para se debruçar sobre as questões do mundo. Acima de tudo, as questões que estão no mundo. Se uma fotografia é real ou não, por exemplo, é algo que está cada vez mais posto para qualquer pessoa. Vejo uma sintonia total entre a teoria e as relações humanas”, afirma o pesquisador, deixando entrever o tom de sua fala no Museu da Fotografia Fortaleza.

Estratégias

A nova percepção de Alexandre Sequeira teve um impacto forte em sua obra (“me sinto transformado e grato, por todas as relações que estabeleço”, diz). Sua fotografia deixou de depender tanto de questões técnicas e da busca de uma “bela imagem”. “Comecei a estabelecer trabalhos, criando estratégias de encontros, de trocas, de impressões. A fotografia é o vetor: o elemento que nos aproxima e nos une. Algumas vezes, nem sou eu que ‘faço a foto’. Me coloco mais numa condição de propositor, de ativador de uma estratégia de encontro”, conta.

A fotografia, como a entende Sequeira, é uma questão que não se restringe à estética, às artes; é uma questão comunicacional, que diz muito do homem contemporâneo, de como ele se relaciona consigo mesmo e com o mundo.

Mudanças

A mudança da relação do homem com a fotografia mudou bastante nas últimas décadas – e de forma acelerada, por conta dos equipamentos e suportes digitais. “Hoje, vivemos com um volume incalculável de imagens produzidas, consumidas e descartadas. É uma relação mais volátil do que aquela que tínhamos, por exemplo, à época do filme. Até o tempo de espera do filme, para que ele fosse revelado, nos deixava em estado de atenção, de pensamento da imagem que não tínhamos em mão. Agora, as imagens dificilmente vão para o papel. Elas costumam ficar no écran na máquina ou no celular, são vistas ali mesmo, e logo são descartadas, para que novas sejam produzidas. Engana-se quem pensa que isso é algo apenas da imagem. É um reflexo de como estamos lidando com a informação”, avalia.

Alexandre Sequeira afasta a ideia de nostalgia de sua análise do momento atual. “Não é o caso de dizer que antes era melhor. As coisas estão mudando. Essas relações nos trouxeram questionamentos importantes, do sentido de verdade, do que é um documento. A fotografia, e nossa relação com ela, nos permite pensar como o homem se coloca no mundo”, garante.

Mais informações:

Dia da Fotografia, no Museu da Fotografia Fortaleza (R. Frederico Borges, 545, Varjota). Sábado, 19 de agosto, entrada liberada. Hoje (19), às 14h, palestra “Fotografia, encontro e relações de trocas simbólicas”, com Alexandre Sequeira. Aberto ao público. Contato: (85) 3017.3661

Diário do Nordeste

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