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Se perdemos a capacidade de um mínimo de empatia pelo outro, não temos nem a nós mesmos, pois só somos humanos, pelas relações que estabelecemos.
O caminho do respeito às diferenças é tarefa urgente. (Divulgação/ Pixabay)
Felipe Magalhães Francisco*
Não é sem escândalo que acompanhamos notícias sobre ações terroristas, em várias partes do mundo. Enquanto pessoas discutem, nas redes sociais, se o nazismo era de direita ou de esquerda, milhares de pessoas são mortas, vítimas de crimes de ódio. O terror tem muitas faces e todas são cruéis: desnudam o ódio que desumaniza, que embrutece e que diminui. De homens-bomba a ataques agressivos na internet, caminhamos a passos largos rumo à descaracterização de nossa humanidade.
Se perdemos a capacidade de um mínimo de empatia pelo outro, não temos nem a nós mesmos, pois só somos humanos, pelas relações que estabelecemos. É no encontro com o rosto do outro que temos a possibilidade de descobrir o melhor de nós. Esse é um caminho de saída de nós mesmos, para que nos encontremos verdadeiramente. Para isso, é fundamental que sejamos interpelados pelo rosto do outro, reconhecendo que a alteridade nos humaniza, que a diferença nos engrandece.
O caminho do respeito às diferenças é tarefa urgente. Esse caminho só é alcançado num processo de educação permanente: a humanização só se alcança por meio da educação, possível na convivência entre a multiplicidade de discursos, de olhares, de crenças. Não absolutizar a própria compreensão da verdade é não ceder espaço e oportunidade às manifestações do terror. As diversas compreensões de verdade compõem uma ampla possibilidade de descortinar novos horizontes, fazendo com que as verdades em que depositamos nossa confiança, sejam enriquecidas com novos significados.
A absolutização de nossas verdades é a trilha mais rápida e fácil para o ódio e o terror. É preciso, pois, nutrir a capacidade do diálogo, que pressupõe respeito e reconhecimento da legitimidade do outro, em suas próprias compreensões, elaborações e crenças, ainda que sejam discordes das nossas. Esse caminho de respeito e reconhecimento é aprendido, faz parte da educação para o ser pessoa, humanizada pelas relações. Educar para a paz é tarefa que necessita do engajamento de todos e todas, de simples gestos a grandes mobilizações. Essa paz gera solidariedade, fraternidade e bem-viver para todos, não apenas para os iguais de uma mesma raça, de um mesmo credo, de uma mesma orientação sexual e de gênero.
As religiões são organizações privilegiadas para a promoção de uma cultura de paz e de respeito. Se elas falham nessa missão, falhamos todos e todas, pois são formadas por pessoas concretas, vivendo numa história marcada pela pluralidade de narrativas, de compreensões e de sentidos. Em meio a essa pluralidade, verdadeira riqueza que humaniza e que dignifica a vida, é preciso a unidade, em prol dos valores fundamentais que tornam possível a vida. É para o serviço da vida que as religiões existem.
Infelizmente, agentes religiosos das mais variadas tradições são capitaneadores do ódio e da intolerância. O terror nascido da fé é um dos mais devastadores, porque encobre a beleza e a bondade do mistério transcendente que dá sentido às religiosidades todas, embaçando a razão pela qual homens e mulheres de todos os tempos acorrem a esse mistério, no desejo de serem mais, isto é, de se realizarem como pessoas.
Para cada gesto de ódio, intolerância e desrespeito, é preciso um sinal de paz. Não a paz que silencia os justos, fazendo-os coniventes com o mal que devasta a vida. Mas a paz que faz com que rompamos com toda e qualquer expressão do ódio. Não podemos reconhecer como exercício de liberdade, práticas que destruam a dignidade da vida. Ao desrespeito, à intolerância e ao ódio, são necessárias contundentes respostas de paz, na firmeza de quem não abre mão dos valores fundamentais para o bem-viver de todos e todas. Quando o terror se avizinha, não podemos ceder a ele. Enfrentá-lo, legitimamente e com responsabilidade, não é apenas uma opção, mas um dever, ao qual não devemos nos furtar!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). Escreve às segundas-feiras. E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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