quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Papa Francisco promove 'limpeza' no Vaticano

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Pontífice teve que se dedicar em remover série de pessoas e comportamentos que prejudicam o projeto de reforma da Igreja Católica.
Houve muito confronto frente à decisão papal de implementar uma política de tolerância zero em casos de pedofilia de sacerdotes e bispos.
Houve muito confronto frente à decisão papal de implementar uma política de tolerância zero em casos de pedofilia de sacerdotes e bispos. (Reprodução/ EFE)
Por Jesús Martínez Gordo

Estes últimos meses O Papa Francisco teve que se dedicar em profundidade para remover do horizonte uma série de pessoas e comportamentos que estão dificultando o projeto de reforma da Igreja desde o início de seu pontificado.

Em primeiro lugar, ele concedeu uma "Excedencia"1 ao cardeal australiano George Pell, (membro do chamado C-9, considerado o número três do organograma do Vaticano e encarregado, a partir do dia 4 de julho de 2016, de "vigiar e controlar", mas não de administrar, os bens da Santa Sé) para poder se defender contra as acusações de abuso sexual, aparentemente cometidas entre os anos 1976-1980 e 1996-2001.

Há muitos que, interpretam tal "excedencia" como uma viagem sem retorno e não deixam de censurar a confiança depositada nele, inclusive pensam que suas diferentes nomeações são, provavelmente, o maior erro cometido por Francisco. A justiça australiana esclarecerá a consistência das imputações e, ao mesmo tempo, se a confiança outorgada foi ou não o erro que parece, pelo menos, em um primeiro momento. Teremos que esperar para saber se a "excedencia" significou uma retificação, embora tardia.

Além disso, o papa relevou o cardeal G. Müller, depois de completar seu mandato de cinco anos, como chefe da Congregação para a Doutrina da Fé (ex- Santo Ofício), uma decisão incomum que parece obedecer a diferentes razões. O cardeal alemão foi um dos opositores mais fortes e persistentes da proposta papal para pregar a verdade evangélica da misericórdia sobre as "verdades não negociáveis" da chamada lei moral natural no caso de pessoas divorciadas e casadas novamente no civil e, por extensão, na moralidade sexual e na pastoral familiar.

Também houve muito confronto frente à decisão papal de implementar uma política de tolerância zero em casos de pedofilia de sacerdotes e bispos, como o apontou Marie Collins (ativista irlandesa, vítima de abuso sexual e membro da Comissão responsável pela supervisão de menores).

Quando esta mulher renunciou, alegou a "inaceitável e vergonhosa falta de colaboração" de alguns membros da Cúria do Vaticano, citando, em particular, a recusa de tais membros em responder às cartas que lhes foram dirigidas por vítimas de pedofilia, assim como também a rota morta em que permaneceu a decisão papal de colocar um tribunal para julgar os bispos negligentes no assunto.

Eram muitos quem, depois de tais denúncias, podiam ver como o cardeal G. Müller foi um grande especialista na ativação de uma variante vaticana do chamado "direito foral": ele aceitou formalmente o que o Papa aprovou, mas não o executou... E houve muitos mais que não puderam mais suportar a resposta desrespeitosa do cardeal às denúncias de Marie Collins, apesar de ser acusada em alguns círculos do Vaticano de ser uma mulher um tanto autoritária e de não ter paciência...

Com a nomeação de Monsenhor Luis Francisco Ladaria, natural de Palma de Maiorca, jesuíta espanhol e secretário da Congregação para a Doutrina da Fé desde 2008, bem como presidente da comissão encarregada de estudar a possibilidade de um diaconato feminino, Francisco parece estar dotando suas decisões mais relevantes com uma consistência teológica, de modo que dificilmente possam ser questionáveis ​​pelo setor imóvel e resistente da Igreja.

É uma interpretação cuja verossimilhança (ou não) pode ser verificada de forma particular quando a comissão que preside o novo Prefeito da Congregação se posicione frente ao diaconato feminino, uma porta que, se aberta, deixaria francamente abertos, mais cedo ou mais tarde, os caminhos do sacerdócio ministerial e até mesmo do episcopado feminino.

Finalmente, foi excepcional e inaudito que os tribunais da Santa Sé decidiram chamar para declarar o cardeal T. Bertone (número dois no papado de Bento XVI) para esclarecer sua possível responsabilidade no desvio de 442 mil euros do hospital infantil "Bambino Gesù" dinheiro com o que, aparentemente, teria feito uns arranjos no sótão em que ele residiria, uma vez aposentado.

Um exemplo indubitável de transparência, muito aguardado e que seria desejável se se estendesse a todas as esferas do governo, no Vaticano e em todas as outras instituições eclesiais, inclusive, obviamente, as diocesanas. A impunidade não é tolerável em nenhuma instituição. E menos, na Igreja, mesmo que o implicado fosse o número dois do Vaticano ou, mesmo sendo um cardeal, um bispo, um sacerdote ou um leigo "factotum" em qualquer lugar do mundo.

Enquanto isso, outros gestos e detalhes do Papa Bergoglio foram dados a conhecer, carregados de significado esperança. Com eles, o Papa mostra, não com suas palavras, o que é ser cristão, isto é, um seguidor do Crucificado no crucificado dos nossos dias e, ao mesmo tempo, um partícipe e transmissor da vida que brota do Ressuscitado: ele aprovou para serem reconhecidas como santas, as pessoas que deram suas vidas pelo próximo aceitando livremente e voluntariamente uma morte certa e prematura. O Papa esteve também perto dos pais de Charlie Gard, o menino recentemente morto por uma doença genética estranha, ele também telefonou para R. Acuña, um gari argentino, pai de cinco filhos que perdeu suas pernas quatro meses atrás em um acidente de trabalho. Escreveu uma carta a Andrea, uma mulher doente que o convidou para ir com ela e seus companheiros em uma peregrinação a Loreto, encorajando-a a nunca desfalecer e como se tudo isso não fosse suficiente, colocou uma placa na entrada do seu escritório em que se pode ler: "proibido reclamar". "Os transgressores estão sujeitos a uma síndrome de vitimização com a consequente diminuição do tom de humor e da capacidade de resolução de problemas". "Portanto: pare de reclamar e aja para melhorar a sua vida".

Limpeza, obviamente, mas também, e, acima de tudo, misericórdia com as mãos cheias, em particular, com os mais simples e necessitados. E, claro, algumas gotas de bom humor. Três ingredientes oportunos para os tempos que correm.

1 - Permissão especial do Vaticano para os membros de altos cargos para se ausentar temporalmente das responsabilidades.

Periodista Digital - Tradução: Ramón Lara

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