Cidade do Vaticano (RV) – No último domingo o Papa Francisco, realizou mais uma Visita Pastoral em território italiano, encontrando os fiéis de duas cidades; Cesena e Bolonha. Foram horas intensas de encontros, de apertos de mãos, de selfie, de olhares profundos e de muita oração. A passagem de Francisco por essas duas cidades tocou o coração de seus habitantes e lançou mensagens profundas de acolhida aos migrantes, de otimismo aos trabalhadores em dificuldades e de esperança para quem vive situações difíceis. Um desses encontros, que gostaria de recordar devido a sua amplidão de pensamento foi o encontro com o mundo universitário em Bolonha: foi um verdadeiro abraço ao mundo universitário na “dota Bolonha” aberta ao mundo com os seus quase mil anos de “laboratório de humanismo” fundado sobre o direito.
Francisco encontrou-se com a comunidade acadêmica da “Alma Mater Studiorum”, primeira universidade do mundo ocidental. Ali o Papa recebeu o “Sigillum Magnum”, máxima honorificência acadêmica.
Já no início de suas palavras aos presentes Francisco sublinhou o significado do termo "Universitas", que encerra a ideia do “tudo” e da “comunidade, a ideia de um compromisso a “elevar a alma ao conhecimento”. Depois de chamar a atenção para a acolhida aos estudantes provenientes de todas as partes do mundo e muitos provenientes de contextos difíceis, o Papa chamou a atenção para a busca do bem. De fato, disse, é a chave para conseguir verdadeiramente ter sucesso nos estudos; o amor é o ingrediente que dá sabor aos tesouros do conhecimento e, em particular, aos direitos do homem e dos povos.
O olhar então de Francisco se dirige para três direitos que são de grande atualidade: direito à cultura, direito à esperança, direito à paz.
O direito à cultura é antes de tudo, direito de acesso ao estudo, mas também tutela de um saber humano e humanizado, não um saber que se coloca ao “serviço da melhor oferta”, que alimenta divisões e justifica opressões. Isto, afirma com força o Papa “não é cultura”. Portanto a tarefa dos universitários hoje é responder aos refrãos paralisantes do consumismo cultural “com escolhas fortes, com o conhecimento e a partilha”.
Cultura – diz a própria palavra – é o que cultiva, que faz crescer o humano. E diante de tantas lamentações e clamores que nos circundam, hoje não temos necessidade de quem se desabafa gritando, mas de quem promove boa cultura. Servem – disse Francisco – palavras que alcancem às mentes e toquem os corações, não gritos “diretos ao estômago”.
Depois o direito à esperança, que observa o Papa “no ar pesado de abandono, inquietação e solidão” que se respira hoje é o direito a não ser invadidos cotidianamente pela retórica do medo e do ódio, das frases feitas, dos populismos, e das falsas notícias. É o direito a dar voz à crônica branca, frequentemente calada e a crescer na consciência que existem na vida realidades bonitas e duradouras, que existe o “amor verdadeiro” e não aquele “usa e joga fora”.
Então uma provocação e um desejo do Papa: “quanto agradável seria que as salas de aula universitárias fossem canteiros de esperança, oficinas onde se trabalha por um futuro melhor, onde se aprende a ser responsáveis de si mesmo e do mundo! Sentir a responsabilidade pelo futuro da nossa casa, que é uma casa comum”. Mas hoje estamos enfrentando uma crise que também é uma grande oportunidade, um desafio à inteligência e à liberdade de cada um, um desafio a ser acolhido para serem artesãos de esperança.
Enfim, o terceiro direito que é também dever inscrito no coração da humanidade, o da paz. Mas hoje muitos interesses e não poucos conflitos parecem fazer desaparecer as grandes visões de paz e “lógicas particulares e nacionais”, parecem frustrar “os sonhos corajosos”.
Mas apesar disso aos jovens o Papa pede que eles não tenham medo da unidade, de não serem neutrais mas de estarem do lado da paz, porque a guerra é sempre e somente, como disse Bento XV em 1917, um “inútil massacre”. Francisco pede que não acreditem naqueles que dizem que lutar pela paz é inútil e que nada irá mudar. Pede para que não se contentem com pequenos sonhos, mas sonhem em grande. Eu também sonho – finalizou o Papa -, mas não sonho somente quando durmo, porque os sonhos verdadeiros são aqueles sonhados de olhos abertos e que são levados avante à luz do sol. (Silvonei José)
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