domtotal.com
A Pobreza abraçada por Francisco de Assis é resposta dada por quem não se fez 'surdo ao Evangelho' (1Cel 22)
O Papa Francisco, ao proclamar o Dia Mundial dos Pobres, recorda o abraço de Francisco de Assis ao leproso, afirmando: Este testemunho mostra a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos. (Reprodução)
Caríssimos irmãos e irmãs,
Que o Senhor lhes dê a Paz e todo o Bem!
Na oração das primeiras Vésperas da Solenidade de São Francisco de Assis, proclamamos a seguinte antífona no responsório breve: “Francisco, pobre e humilde, entra rico nos céus, com hinos celestes é honrado”. Este binômio, “pobre e humilde” se repete na oração conclusiva de todas as horas canônicas: “Ó Deus, que fizestes o seráfico Pai São Francisco assemelhar-se ao Cristo por uma vida de humildade e pobreza, concedei que, trilhando o mesmo caminho, sigamos fielmente o vosso Filho, unindo-nos convosco na perfeita alegria”.
Pobreza e humildade são duas virtudes-irmãs exaltadas pelo próprio Pai Seráfico na sua Saudação às Virtudes: “Senhora santa pobreza, o Senhor te salve com tua irmã, a santa humildade… A santa pobreza confunde a ganância e a avareza e os cuidados deste mundo. A santa humildade confunde a soberba e todos os homens que há no mundo e igualmente todas as coisas que há no mundo” (SV 2.11-12).
Neste ano, por ocasião da Solenidade de São Francisco de Assis, desejo destacar a “virtude da santa pobreza” vivida e abraçada por “Francisco, pobre e humilde”. E o motivo é este: No dia 13 de junho deste ano, justamente na Festa de Santo Antônio, o Papa Francisco editou um belíssimo texto intitulado “Não amemos com palavras, mas com obras”, instituindo o dia 19 de novembro como Dia Mundial dos Pobres.
A Pobreza abraçada por Francisco de Assis é resposta dada por quem não se fez “surdo ao Evangelho” (1Cel 22): “Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus” (cf. LTC 29,1-6). Assim, a referência e o núcleo central da pobreza vivida por Francisco é a pobreza de Nosso Senhor Jesus Cristo, da forma como prescreveu na Regra: “Como peregrinos e viandantes que servem ao Senhor em pobreza e humildade, peçam esmolas com confiança; disso não se devem envergonhar, porque o Senhor se fez pobre por nós, neste mundo” (RB 6,4).
A convicção da “sublimidade da altíssima pobreza” é fundamental para São Francisco e todos os seus seguidores. Ele estabeleceu a virtude da pobreza de Jesus Cristo como: critério vocacional para abraçar esta forma e regra de vida; apelo para a desapropriação total, especialmente a alegria do viver “sem nada de próprio”, com a demitização do “eu”; incentivo para um estilo de vida sóbrio como peregrinos e itinerantes; fundamento para a gratuidade da “graça de trabalhar com fidelidade e devoção”; apelo ao desapego e deposição de cargos ou mandos; um modo fraternal de relacionar-se com o Criador e as criaturas; atitude permanente de restituição ao Senhor pelos dons recebidos; acolhimento da Irmã Morte como gesto último e derradeiro para devolver com gratuidade o sopro da vida que um dia recebemos do Criador.
O Papa Francisco, ao proclamar o Dia Mundial dos Pobres, recorda o abraço de Francisco de Assis ao leproso, afirmando: “Este testemunho mostra a força transformadora da caridade e o estilo de vida dos cristãos”. A experiência de Francisco, na linguagem do Papa, deveria sensibilizar os cristãos “a um verdadeiro encontro com os pobres e dar lugar a uma partilha que se torne estilo de vida”. E mais: “Se realmente queremos encontrar Cristo, é preciso que toquemos o seu corpo no corpo chagado dos pobres, como resposta à comunhão sacramental recebida na eucaristia” (n. 3). E ainda, no mesmo texto, o Papa é categórico ao usar este imperativo: “Assumamos, pois, o exemplo de São Francisco, testemunha da pobreza genuína. Ele, precisamente por ter os olhos fixos em Cristo, soube reconhecê-Lo e servi-Lo nos pobres” (n. 4).
Para além da reflexão e a exemplo do Pobre de Assis, o Papa Francisco nos provoca a realizarmos ações e gestos que deem visibilidade a este Dia Mundial dos Pobres, tanto nas nossas Fraternidades como na ação evangelizadora. Por exemplo: ter momentos de encontro e amizade, de solidariedade e de ajuda concreta; convidar os pobres para a mesa da comunhão fraterna e eucarística; aproximar-nos dos pobres e tê-los como hóspedes privilegiados na nossa mesa, etc. Eu sonho com o retorno desses gestos! Enviem-nos os seus registros (fatos e fotos), não para nossa vanglória, mas para partilhar entre irmãos a alegria do abraço ao “leproso”. É ele que transforma as nossas amarguras em “doçura para a alma e para o corpo” (Test 3).
Que nesta solenidade do Seráfico Pai São Francisco possamos retomar a escalada do caminho que nos leva aos esponsais místicos com a Senhora Santa Pobreza, tão magnificamente descrito no 3º capítulo do Sacrum Commercium:
“Apertado é o caminho, irmãos, e estreita a porta que conduz à vida, e poucos são os que a encontram. Fortalecei-vos no Senhor e no poder de sua força, pois tudo que é difícil vai ser fácil para vós. Deponde a carga da vontade própria, lançai fora o peso dos pecados, e cingi-vos como homens fortes. Esquecidos do que está atrás, ansiai o quanto puderdes pelo que está à frente de vós. Digo-vos que todo lugar que vosso pé pisar será vosso. Pois diante de vós há um espírito, o Cristo Senhor, que vos atrairá aos cumes da montanha com vínculos de amor. Coisa extraordinária, irmãos, é desposar a Pobreza, mas facilmente poderemos gozar dos seus amplexos, pois se tornou como viúva a senhora dos povos, vil e desprezível a todos a rainha das virtudes. Ninguém há na região que ouse reclamar, ninguém que se nos oponha, ninguém que tem direito possa proibir essa salutar aliança. Todos os seus amigos a desprezaram e se tornaram seus inimigos. Quando acabou de dizer estas coisas, todos começaram a andar atrás de São Francisco”.
Feliz festa de São Francisco de Assis!
Frei Fidêncio Vanboemmel, OFM
Ministro Provincial da Província da Imaculada Conceição do Brasil
Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário