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Uma compreensão de missão que consiga encontrar eco em nossa contemporaneidade precisa deixar de lado o proselitismo.
Evangelizar, isto é, anunciar uma Boa-Notícia, é anunciar o Reino de Deus, com todas as suas
possibilidades de justiça, paz, fraternidade. (Divulgação/ Pixabay)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Em nossa sociedade, tão plural e secularizada, as religiões que se dedicam à missão têm lugar, sem dúvidas. Mas para que essa missão possa acontecer, é preciso conhecer os sinais de nosso tempo. O proselitismo cristão, deveras acentuado atualmente nas igrejas pentecostais e neopentecostais, ainda alcança setores mais pobres da sociedade, mas as juventudes, por exemplo, mesmo que passem pelas instituições religiosas, tendem a não permanecer nelas quando percebem o descompasso das religiões cristãs com os tempos atuais. No catolicismo, a baixa de fiéis é bastante considerável e as comunidades eclesiais são formadas, cada vez mais, por pessoas idosas ou quase idosas.
Possivelmente, uma compreensão de missão que consiga encontrar eco em nossa contemporaneidade precise deixar de lado o dado proselitista. Compreender que anunciar o Reino de Deus não pressupõe, necessariamente, angariar fiéis para encher os bancos das igrejas-edifício. Evangelizar, isto é, anunciar uma Boa-Notícia, é anunciar o Reino de Deus, com todas as suas possibilidades de justiça, paz, fraternidade. Em uma palavra: evangelizar é anunciar um mundo novo possível, tal como Jesus nos propõe. Tudo isso nos leva a considerar, então, que a preocupação missionária das igrejas cristãs não está no nível de sua própria sobrevivência, mas no seu serviço evangélico de anúncio e testemunho do Reino de Deus, como realidade possível.
É nesse sentido que podemos tomar como pressuposto elementar da nossa prática missionária, a compreensão d’O Reino de Deus como horizonte da missão, como nos ajuda a refletir o primeiro artigo de nossa matéria especial, proposto pelo Pe. Antônio Ronaldo Vieira Nogueira. No artigo, o autor nos sensibiliza para o lugar de centralidade que o Reino de Deus, e toda a sua justiça, ocupa em nossa missão evangelizadora. Anunciar o Reino significa, entre outras coisas, comprometer-se com ele, sobretudo na opção preferencial pelos empobrecidos e empobrecidas de nossa história, seguindo o mesmo critério de Jesus.
Se, como dissemos, precisamos compreender a missão não como proselitismo e se o Reino de Deus – que não se confunde com a Igreja – é o horizonte de nosso serviço evangelizador, é preciso que nos situemos em nossa vocação evangelizadora, colocando-nos em diálogo com as diversas realidades que compõem nosso cenário atual, tão fragmentado e plural. Para isso, a Igreja precisa compreender seu papel nesse cenário. É o que reflete o segundo artigo de nossa matéria especial, Extra Ecclesiam nulla salus e os desafios da missão eclesial, do Pe. César Thiago do Carmo Alves.
Um sinal de que a Igreja precisa estar atenta à realidade a qual tem por seara de sua missão é o programa missionário-pastoral, proposto pelo atual Bispo de Roma, o Papa Francisco. Em sua Exortação A Alegria do Evangelho, Francisco, como líder eclesial do cristianismo católico, lança o itinerário do papel da Igreja na atualidade. Para isso, é preciso que a Igreja compreenda o específico de sua natureza e missão, tal como já havia alertado o Concílio Vaticano II. É nesse horizonte que se situa o terceiro artigo de nossa matéria: Igreja próxima e em saída, do Pe. Rodrigo Ferreira da Costa, que nos provoca a uma nova compreensão do ser Igreja, bem fiel à missão dada por Jesus.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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