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As iniciativas para garantir serviços higiênicos para os países pobres não são motivadas.
As Nações Unidas estabeleceram o objetivo de garantir o saneamento básico para todos em 2030 e faltam apenas 13 anos. (Divulgação)
Por Giorgio Nebbia
No decorrer do ano, existem muitos "dias" ecológicos (da terra, do meio ambiente, da água, dos oceanos, etc.). E passa quase despercebido o Dia mundial dos banheiros, organizado pela ONU. Este ano o tema é Wastewater, ou seja, as águas com que são eliminados os excrementos.
Nos países industrializados existem operações e hábitos tão "naturais" que, nem mesmo se pensa a respeito; todos os dias é normal e indispensável livrar se do "supérfluo peso na barriga" (como o chama Boccaccio); cada pessoa, seja rica e poderosa ou pobre e desvalida, anualmente elimina cerca de 1.000 quilos, uma tonelada, de urina e fezes.
Se uma pessoa dispõe de um banheiro com água corrente, para a eliminação desses resíduos anualmente "consome" de 10 a 20 mil litros de água, que é assim sujada e contaminada; um rio cheio de matéria orgânica, bactérias, vírus, resíduos de medicamentos e outras substâncias ingeridas durante o dia.
Se os sanitários estão ligados com um sistema de esgoto e algum depurador, uma parte dos resíduos orgânicos é tratada ou processada; caso contrário, as águas sujas acabam nos rios ou no mar, e são fontes de poluição microbiológica e de propagação de vírus.
O banheiro composto por um vaso sanitário e uma caixa de água, uma tecnologia aperfeiçoada durante o século XX é agora considerado totalmente normal nos países desenvolvidos: em muitos países exige-se que os banheiros estejam presentes, além das moradias individuais, nas escolas, escritórios, prisões, hospitais e fábricas; para muitos trabalhadores são projetados e disponibilizados banheiros móveis.
Pois bem, agora vamos parar e lembrar que essa situação é um privilégio de poucos no mundo, porque quatro bilhões de pessoas como você e eu, com as mesmas necessidades fisiológicas, vivem em habitações desprovidas de instalações sanitárias com água corrente e um bilhão - você leu corretamente – defecam e realizam as próprias necessidades ao ar livre.
Seus excrementos acabam no solo, contaminam as águas superficiais com as quais entram em contato os outros habitantes da área, sendo veículos de doenças, epidemias e morte. As mais afetadas são as crianças que brincam na terra, em corpos de água contaminada, tanto que no mundo mais de 300 milhões de crianças morrem anualmente por doenças associadas à falta de saneamento básico, um massacre de inocentes.
Superar essa situação é considerado uma das prioridades sanitárias pela Organização das Nações Unidas que organiza iniciativas para difundir em todos os países a disponibilidade de banheiros e instalações sanitárias que garantam aos mais pobres segurança higiênica e dignidade, para um delicado e privado indispensável ato da vida cotidiana.
Para chamar a atenção das autoridades sanitárias e da opinião pública sobre esse grave problema, todos os anos realiza-se o "Dia mundial dos banheiros", proposto pela Organização das Nações Unidas, em colaboração com a associação internacional World Toilet Organization.
As iniciativas para garantir serviços higiênicos para os países pobres não são motivadas apenas por considerações éticas ou pelo amor ao próximo; a disseminação de instalações higiênicas para aqueles que não as têm, representa um enorme potencial de negócio industrial e financeiro.
De fato, juntamente com as conferências anuais da World Toilet Organization - a próxima será realizada no final de novembro, em Melbourne, Austrália - acontece uma grande feira de sanitários e sistemas de esgoto em que centenas de empresas apresentam suas propostas de sistemas de saneamento, preferencialmente a baixo custo e eficientes, para exportação para os países pobres.
O "mercado" não tem limites: em países como o Sudão do Sul, Madagascar, Congo e Gana, mais de 80% da população não têm banheiros. A situação não é melhor mesmo nas habitações das megalópoles de muitos países emergentes, em que a rapidez do crescimento urbano não está mantendo o ritmo com o dever de assegurar instalações sanitárias adequadas para serviços sanitários, esgotos e estações de tratamento.
A falta disso tudo, "custa" inclusive em termos de dinheiro, quando se consideram as despesas com que a comunidade deve arcar, a fim de tratar doenças causadas pelo contato com a água suja nas casas e nas comunidades. Foi calculado - há sempre economistas prontos para traduzir em dinheiro até mesmo a dor humana - que para cada euro gasto para melhorar os serviços higiênicos, um país vai economizar 4, devido a gastos menores em assistência sanitária.
As Nações Unidas estabeleceram o objetivo de garantir o saneamento básico para todos em 2030 e faltam apenas 13 anos. É claro, portanto, que as autoridades sanitárias de vários países irão pedir para aqueles que os produzem, equipamentos de higiene, contando inclusive com financiamentos internacionais.
É uma nova corrida para inventar, aperfeiçoar e fabricar ferramentas para melhorar as condições de higiene do mundo, especialmente nos países mais pobres: oportunidades para negócios e atividades industriais para um 'mercado', que envolve centenas de milhões de pessoas.
Nas universidades pode parecer ridículo trabalhar em problemas tão "vulgares" como a concepção de "sanitários para aldeias" e técnicas de tratamento de esgoto, embora sua solução muitas vezes requeira competências técnicas e científicas avançadas.
Na Itália apenas associações de voluntários e famílias missionárias trabalham em países atrasados, com recursos limitados e no meio do desinteresse geral da política e até mesmo das empresas. Na concepção e construção de instalações sanitárias e sistemas de saneamento para países atrasados trabalham intensamente apenas os países de nova industrialização, como a China e a Índia; em Singapura e na Índia existem Toilet Colleges para a pesquisa técnica e científica e para a educação e informação.
No entanto, essas tecnologias humildes e consideradas "pobres", poderiam dar vida inclusive na Europa para novas empresas e novos empregos, com perspectivas de uma enorme demanda futura: uma engenharia do respeito pelo próximo e pelo meio ambiente.
Il Manifesto, 18-11-2017.
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