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Há forte relação entre o desmatamento da Amazônia e a conservação do Pantanal.
De acordo com coordenador do Programa Cerrado Pantanal, do WWF Brasil, Júlio César Sampaio, é preciso entender que é mais rentável preservar que destruir. (Divulgação)
Por André Garcia Santana
Para além dos prejuízos ecológicos o desmatamento do Pantanal já apresenta seu preço em reais: são mais de R$24 mil por hectare perdidos ao ano. Considerando que 18% da planície já foi desmatada – por conta da expansão de commodities, principalmente para produção extensiva de gado – o custo total é de R$19 milhões ao ano. Os dados são da ONG WWF Brasil, que promoveu um evento para comemorar o Dia do Pantanal e lançou, em parceria com o ilustrador Mauricio de Sousa, um gibi inédito estrelado pelo personagem Chico Bento.
De acordo com coordenador do Programa Cerrado Pantanal, do WWF Brasil, Júlio César Sampaio, é preciso entender que é mais rentável preservar que destruir. “O Pantanal fornece aproximadamente R$ 560 bilhões ao ano em serviços ambientais para todo o planeta. Isso seria o que o bioma provê de água, solos produtivos, ar de qualidade, diversidade de peixes, regulação do clima para o globo. O valor econômico do Pantanal não é considerado nas análises de viabilidade de grandes projetos de infra-estrutura.”
Para a doutora em Direitos Humanos e Meio Ambiente, Marli Deon Sette, devem ser criados mecanismos para frear o corte de vegetação nativa. "É necessário deter o desmatamento no Pantanal por meio de mecanismos econômicos que inibam produções não amigáveis ambientalmente, como por exemplo a monocultura da soja – que degrada as terras pantaneiras – a construção de hidrelétricas e o uso de agrotóxicos”.
Ela reforça que o Brasil também precisa criar mecanismos para remunerar os proprietários que preservem as riquezas naturais: “temos que demonstrar que é economicamente mais vantajoso para os proprietários das terras manter a mata do que retirá-la. Um desses mecanismos deveria ser o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), bem como incentivar o uso inteligente do Pantanal com práticas como a pecuária tradicional, agricultura familiar não mecanizada e o turismo ecológico e rural”.
Já a doutora Marli Deon Sette, é urgente que haja uma legislação federal que proteja o Pantanal. “Hoje temos convenções (RAMSAR), tratados, tratamento constitucional diferenciado, mas não temos lei nacional específica. O PL750, que tramita no Congresso desde 2011, ainda precisa de vários ajustes para que finalmente, ao ser aprovado, proteja o Pantanal. “O PL deve, por exemplo, ser ajustado para conter o uso indiscriminado de agrotóxicos, a construção de hidrelétricas, conter a monocultura da soja e a falta de proteção expressa dos corixos, capões e brejos” afirmou Sette.
O professor José Sabino da Universidade Anhanguera de Mato Grosso do Sul (Uniderp) falou do risco da implantação das PCHs no Pantanal: “Na Bacia do Alto Paraguai há planejamento de se construir perto de 115 PCHs. Isoladamente elas causam pouco impacto, mas em conjunto podem criar um impacto sem precedentes à hidrodinâmica do pulso de inundação do Pantanal, vital para os ciclos naturais da planície pantaneira”.
Sabino também falou sobre a importância da construção do aquário do pantanal, cujas obras estão paralisadas desde o início de 2015. “É uma pena porque seria um equipamento de lazer, turismo, educação e pesquisa, além de gerar divisas – estimativas chegam a falar de R$ 100 milhões/ano oriundas de 300 mil visitantes/ano – e ser um efetivo instrumento de divulgação e proteção dos peixes do Pantanal”, disse.
O especialista em mudanças climáticas da Embrapa Pantanal, Iván Bergier, disse que as chuvas estão ficando cada vez mais extremas na região. “Chove mais em menos dias desde pelo menos 1926 até 2016. Isso pode ter relação com o aumento de temperatura do planeta induzida pela emissão antrópica de gases estufa”, afirmou durante o encontro. Segundo Bergier, chuvas extremas podem acelerar processos naturais de formação de arrombados e de avulsão, como o do Rio Taquari.
Sendo assim, há forte relação entre o desmatamento da Amazônia e a conservação do Pantanal. Se se o desmatamento da Amazônia superar um certo nível crítico, é possível que as chuvas de verão no Pantanal se tornem mais escassas e ao mesmo tempo mais extremas, e isso sim pode acarretar em risco hídrico para o Pantanal no médio e longo prazos. Portanto a conservação da Amazônia é fundamental para manter a segurança hídrica do Pantanal, ou seja, a disponibilidade de água para o Pantanal e, de certa forma, para toda América do Sul.
Olhar Direto, 26-11-2017.
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