quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Igreja retoma Conferência de Medellín

domtotal.com
Aos 50 anos de Medellín é convocado o Congresso para 23 a 28 de agosto de 2018.
Capital colombiana será novamente sede do Congresso, em 2018.
Capital colombiana será novamente sede do Congresso, em 2018.
Por Mauro Lopes*

A Igreja da América Latina, sob liderança do Papa Francisco, ensaia retomar de maneira decidida o percurso interrompido por João Paulo II. O CELAM (Conselho Episcopal Latino-Americano) acaba de anunciar a convocação do Congresso 50 anos de Medellín que acontecerá de 23 a 28 de agosto de 2018 “na mesma cidade colombiana e nas mesmas instalações do Seminário de formação sacerdotal, que foi a sede dessa histórica Conferência”. 

O objetivo, segundo o comunicado do CELAM será “comemorar e projetar a mensagem da Conferência de Medellín como um eixo-chave da Igreja no continente, em diálogo com a Igreja Católica do mundo”.

O encontro já está sendo preparado, informou o comunicado divulgado na tarde desta segunda (30), e será promovido pelo CELAM, pela Confederação dos Religiosos e Religiosas, secretaria da Caritas da América Latina e Caribe e pela Arquidiocese de Medellín.

                                                                   
(A Conferência de Medellín já aconteceu sob o pontificado de Paulo VI)

O Congresso – diz o documento básico da organização – “procura reconhecer com gratidão a aplicação de Medellín em nossas dioceses (Igrejas Particulares), aprofundar algumas das questões fundamentais que permanecem atuais no presente, examinar novos sinais dos tempos de hoje e projetar uma ação evangelizador que leve em consideração o espírito da Segunda Conferência, enriquecida com o Magistério da Igreja latino-americana, bem como o Pontifício Magistério, especialmente com os ensinamentos do Papa Francisco.”

Segundo o comunicado do CELAM, “para realizar este congresso, é necessário examinar a situação na América Latina hoje, identificando os desafios da transformação exigida pelo continente e as contribuições da Conferência de Medellín ainda válidas e proféticas no tempo presente. Desta forma, as chaves temáticas, o processo vivido e os efeitos e impactos causados pela Conferência de 1968, em Medellín, podem ser entendidos”.

Acabou o tempo da perseguição à Teologia da Libertação sob a liderança da Cúria romana e dos bispos reacionários da América Latina acabou; o texto reconhece o valor da formulação teológica da região de maneira assertiva: “Na segunda metade da década (de 1960 – nota minha), a Teologia da Libertação não hesitou em afirmar que a pobreza e a exclusão também constituíam uma forma de pecado e chamavam os católicos para lutar para libertar-se de tais males”.

Ao formar uma parceria com a Confederação dos Religiosos e Religiosas da América Latina, a convocação também manifesta uma revalorização das Conferências de Religiosos(as) que cumpriram importante missão de defesa dos direitos humanos durante os regimes totalitários de nosso Continente.

A chave de leitura do comunicado para a história da Igreja a partir do Vaticano II vira do avesso a perspectiva conservadora dominante de Wojtyla a Ratzinger e parece indicar que depois dos primeiros anos de vacilação, o CELAM adota explicitamente a perspectiva de Francisco. Eis como o texto aborda a história da Conferência de Medellín:

“Em um contexto internacional particularmente agitado, com manifestações de todos os tipos pedindo um mundo mais livre e justo, o CELAM decidiu comprometer-se entre outras opções, com a causa dos setores populares da América Latina através da ‘opção preferencial pelos pobres".

Líderes importantes do catolicismo, atentos ao que estava acontecendo, consideraram que a Igreja não podia continuar ignorando os ‘sinais dos tempos’, que tinham de se adaptar às demandas do tempo. ‘Os anos sessenta’ foram os anos do Concílio Vaticano II (1962-65), em que a Igreja, liderada por João XXIII, queria renunciar a um cristianismo medieval e assim dar um passo fundamental para uma melhor compreensão do mundo moderno. 

Em 1967, a Encíclica Populorum Progressio de Paulo VI concluiu que sem um verdadeiro desenvolvimento não poderia haver paz no mundo. Na segunda metade da década, a Teologia da Libertação não hesitou em afirmar que a pobreza e a exclusão também constituíam uma forma de pecado e chamava os católicos para lutar a fim de libertar-se de tais males.

*Pelo CELAM / domtotal

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