terça-feira, 14 de novembro de 2017

Na COP23, brasileiros mostram que bioenergia pode reduzir emissão de carbono

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Produção de bioenergia pode representar uma contribuição real para atender à crescente demanda de energia no setor de transporte global.
Estima-se que apenas de 3% do consumo mundial de energia no setor de  transportes é atendida por biocombustíveis.
Estima-se que apenas de 3% do consumo mundial de energia no setor de  transportes é atendida por biocombustíveis. (Agência Brasil).

Representantes brasileiros na Conferência das Nações Unidas sobre  Mudança Climática (COP23), que está sendo realizada em Bonn, na  Alemanha, apresentarão hoje (14) um estudo sobre a importância da  bioenergia na transição de uma economia baseada em recursos fósseis para  uma focada em energias renováveis.

 De acordo com o estudo, a  produção de bioenergia pode representar uma contribuição real para  atender à crescente demanda de energia no setor de transporte global e,  ao mesmo tempo, reduzir significativamente as emissões de gases de  efeito estufa. A contribuição brasileira se somará a outras iniciativas no mesmo sentido apresentadas na COP23.

 Em entrevista exclusiva à Agência Brasil,  Marcelo Poppe, coordenador do estudo feito pelo Centro de Gestão e  Estudos Estratégicos (CGEE), instituição ligada ao Ministério da  Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, explicou como o Brasil  vem se preparando e investindo em tecnologias avançadas de baixo  carbono.

 “Vivemos  hoje uma emissão de gases de efeito estufa muito grande e quase 90%  dessas emissões vêm de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e  o gás. E o transporte consome quase um quarto dessas emissões, através  de combustíveis como o diesel e a gasolina. Há uma necessidade, pactuada  no Acordo de Paris, [firmado em 2015 por 195 países],  de reduzir essas emissões de uma maneira que se evite que a temperatura  do planeta ultrapasse os 2ºC [graus Celsius] ou mesmo 1,5ºC para evitar  perigos de desestabilização do equilíbrio climático da Terra”, explicou  Poppe.

 Bioetanol

 O estudo brasileiro  mostra como é possível utilizar, além do açúcar das plantas, também  fibras e outras partes dos vegetais na produção de bioenergia, o chamado  bioetanol de segunda geração. Segundo Poppe, a produção desse bioetanol  pode representar uma contribuição real para se atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que prevê a redução das emissões de gases de efeito estufa.

 “O  bioetanol tem a vantagem de poder ser produzido a partir não só dos  açúcares, mas de outras partes dos vegetais. Isso dá acesso a diversos  outros países, que não são tropicais e não têm clima e solos propícios à  plantação de milho, beterraba e cana, para produzir esse insumo a  partir de outras fontes. O custo vai ser superior, num primeiro momento,  mas é possível de fazer”, afirmou o pesquisador.

 O Brasil se comprometeu a promover uma redução das emissões de gás carbônico de  37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025 e, posteriormente, 43%, até  2030. Para isso, o país precisa adotar medidas para aumentar a  participação da bioenergia sustentável na matriz energética para  aproximadamente 18% até 2030. Além disso, deve expandir o consumo de  biocombustíveis, elevar o suprimento de etanol, inclusive aumentando a  participação de biocombustíveis avançados de segunda geração e aumentar a  presença do biodiesel na mistura do diesel.

De  acordo com o estudo, considerando um consumo global de gasolina  estimado em 1,7 trilhão de litros em 2025, o bioetanol poderia  substituir 10% da gasolina total consumida no mundo, usando menos de 10  milhões de hectares de terra. O mundo experimentaria rapidamente uma  redução expressiva de emissões de gás carbônico no setor de transporte,  responsável por um quarto das emissões totais.

Poppe afirma que  os investimentos em bioenergia estão sendo implementados no Brasil por  meio de parcerias público-privadas. Uma das iniciativas é o Plano  Conjunto de Apoio à Inovação Tecnológica Industrial dos Setores  Sucroenergético e Sucroquímico (PAISS), liderado pelo Banco Nacional do  Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pela Agência de Pesquisa e  Inovação (Finep), que já financiou  atividades inovadoras envolvendo  empresas estabelecidas e iniciantes, bem como importantes instituições  de ciência e tecnologia.

“O PAISS apoiou essa transição e fez com  que duas fábricas fossem instaladas no Brasil. Agora, a gente precisa  garantir a cadeia produtiva e o mercado para esses produtos, para entrar  num círculo virtuoso de aumento da produção, que reduz o custo, aumenta  o consumo e desenvolve essa nova indústria”, disse Poppe.

Neste  sentido, o papel do governo é decisivo para apoiar empreendimentos  inovadores em bioenergia e bioprodutos, garantindo condições de mercado  atraentes e reduzindo os impactos de incertezas, especialmente durante o  ciclo de inovação e antes da consolidação da produção comercial.

Visão consistente

O  objetivo do estudo brasileiro é fornecer uma visão consistente dos  benefícios da produção de bioenergia, seja em nível nacional ou global,  fornecendo fundamentos confiáveis para a transição de uma economia  baseada em recursos fósseis para uma bioeconomia moderna. O documento  tem por objetivo mostrar a importância do crescimento nos investimentos  em soluções de baixo teor de carbono e fortalecer a cooperação  internacional.

“Como 25% das emissões vêm do transporte, essa é  uma área que tem que ser enfrentada. Nesse aspecto, os biocombustíveis  são uma possibilidade de reduzir rapidamente (as emissões), porque são  absolutamente compatíveis com os veículos existentes no planeta. Claro  que, para aumentar a escala de produção, é preciso uma disponibilidade  muito grande (de bioenergia no mercado) e uma redução de custos. É o que  estamos buscando e, para isso, precisamos tanto de políticas públicas,  quanto de desenvolvimento, eficiência, tecnologia, inovação”, defendeu o  pesquisador.

Ele explicou que, atualmente, há uma discussão  intensa sobre a precificação de carbono. “Evidentemente que se houver  uma precificação de carbono a nível internacional, vai aumentar muito a  competitividade das fontes que têm baixo teor de carbono. Vai melhorar  muito. Como isso ainda não existe, há um certo subsídio para a indústria  do petróleo, pois não é computado o custo ambiental dela; o que ela  acarreta de consequências para o planeta. E isso provoca uma certa  desvantagem das outras fontes de competir com o petróleo”.

 Tendências

 Com  a discussão em pauta, o estudo aponta que a tendência é que haja  investimentos no setor de bioenergias e bioprodutos, necessários para a  transição para uma economia baseada em recursos naturais renováveis.

 É  fato que a vida moderna, com acesso a serviços e bens de consumo,  depende da energia que ainda provem predominantemente de fontes de  energia fóssil. No entanto, são bem conhecidas as consequências  ambientais e o impacto que geram no planeta, incluindo mudanças  climáticas. Desta forma, a transição impõe desafios e investimentos, mas  se faz necessária.

 “Embora exista um potencial natural  suficiente, a construção de novas infraestruturas de energia requer  altos investimentos e períodos de maturação relativamente longos,  característicos dos sistemas energéticos. Essa transição energética é  ainda mais aguda e complexa no setor de transportes, onde as tecnologias  de veículos impõem, com poucas exceções, o uso de combustíveis  líquidos, devido às suas vantagens logísticas e pronta disponibilidade  para uso final. Para tornar esta situação mais difícil, a expansão da  frota de veículos globais e a necessidade de energia associada é uma  tendência clara, principalmente nos países em desenvolvimento”, diz o  documento brasileiro.

Atualmente,  estima-se que apenas de 3% do consumo mundial de energia no setor de  transportes é atendida por biocombustíveis, correspondendo a uma  produção anual de quase 100 bilhões de litros de etanol, com  expectativas de que este volume dobre até 2030, aumentando a  participação para 5% do consumo do setor.


Agência Brasil

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