terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Como cada texto se tornou sagrado?

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Nem tudo o que aconteceu com o povo foi escrito e nem tudo o que foi escrito ficou sendo 
A Bíblia não veio pronta do céu nem foi ditada por anjos.
A Bíblia não veio pronta do céu nem foi ditada por anjos. (Reprodução/ Pixabay)
Por Therezinha Motta Lima da Cruz*

A Bíblia não veio pronta do céu nem foi ditada por anjos. Deus usou para se revelar a nós o mesmo método que depois foi aplicado à missão de Jesus: ele parte do humano, da realidade humana da vida. Dizemos que Jesus se revelou como homem, no meio da vida concreta do povo de Deus. O mesmo podemos dizer da Bíblia: ela foi nascendo a partir da experiência humana, Deus vai se comunicando através dos acontecimentos e da compreensão de cada fase da história.

Nem tudo o que aconteceu com o povo foi escrito e nem tudo o que foi escrito ficou sendo considerado Palavra de Deus, parte da Bíblia. Ainda hoje temos acesso a textos que a nossa Igreja chama de “apócrifos”. São textos que falam de Deus, que mencionam até pessoas citadas na Bíblia, mas não foram assumidos como parte do livro da Palavra. Alguns dados que não fazem parte da Bíblia, mas estavam citados nesses textos apócrifos, até foram entrando na nossa tradição (por exemplo: os nomes dos reis magos, do pai e da mãe de Maria...). 

Nosso irmãos evangélicos chamam de apócrifos 7 livros que estão na nossa Bíblia e que nós chamamos de “deuterocanônicos” (Eclesiástico, Sabedoria, Judite, os dois livros dos Macabeus, Tobias e Baruc). Eram parte de uma tradução em língua grega e eles preferiram ficar só com os que estavam em hebraico. Mas são respeitados como mensagem edificante.

Cada texto bíblico passou por um longo processo antes de ser admitido como Palavra de Deus. Era mais ou menos assim:

- um fato acontecia, um profeta se manifestava, mas não se registrava o acontecido por escrito, até porque escrever era dispendioso e complicado, não havia as facilidades de hoje.

- os fatos ou as mensagens eram transmitidos oralmente, de geração em geração, até por séculos, na medida em que eram considerados importantes; transmissões orais, como sabemos, vão sendo enriquecidas com o passar do tempo.

- a situação histórica vivida pelo povo possibilita o registro por escrito de textos considerados importantes para sustentar a fé.

- os textos escritos vão sendo usados em orações, cultos, pregações e vão sendo percebidos como Palavra de Deus

- em situações mais propícias, os textos vão sendo reunidos para formar o livro.

Não se trata de uma invenção humana, é o método que Deus quis usar, respeitando os diferentes estágios de vida do povo, para comunicar a sua mensagem.

Hoje dizemos que Bíblia e Tradição estão unidas, porque uma sustenta a outra e ambas formam a identidade da nossa Igreja. Hoje somos povo de Deus, parte dessa mesma história, que foi iluminada com a revelação mais completa que nos veio através de Jesus. 

A história desse povo continua em nós. Então poderíamos até perguntar: se a Bíblia fosse escrita hoje, como seriam os textos, de que falariam?  Mesmo sem os rotular com essa palavra, temos profetas hoje? Quem seriam?  A Igreja ensina que, ao sermos batizados, cada um de nós é chamado a ser sacerdote, profeta e rei. O sacerdócio do leigo não é igual ao dos ministros ordenados, mas ele também é chamado a oferecer a Deus sua vida, suas obras, orando por si e pelos irmãos. O leigo também é profeta quando anuncia o projeto de Deus e denuncia o que está errado. Ser rei é ter um certo poder para tomar decisões e fazer certas coisas acontecerem ao nosso redor - é missão de todos nós.

Podemos pensar na história da nossa vida como um livro onde poderíamos descrever a importância que a Palavra de Deus tem para nós? Esse livro iria sendo modificado à medida que crescemos na compreensão do que Deus nos vai pedindo? Poderia servir para deixar bons exemplos? 


www.catequesedobrasil.org.br

*Therezinha Motta Lima da Cruz é voluntária nas Comissões de Comunicação e Planejamento do CONIC. Autora de livros de ensino religioso pela editora FTD. Assessora nacional de catequese da CNBB no período 1992-1996 e membro do GRECAT (Grupo de Reflexão Catequética da CNBB).

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