quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Por que os blogueiros 'católicos' parecem não respeitar o Papa?

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Por que alguns blogueiros chamados de 'católicos' são tão negativos? Mais ainda, por que alguém os está ouvindo? Por que suas opiniões desagradáveis estão impressas?
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Blogueiros "católicos" transformaram seu canto da internet em uma "fonte de ódio". (Unsplash/ Glenn Carstens Peters)
Por Phyllis Zagano*

Eu gosto muito das pessoas expressarem livremente suas opiniões, mas quando a fala livre se transformou em um libertinagem de opiniões?

Eu não estou falando sobre o chamado fenômeno das “notícias falsas”, refletindo a inclinação política de uma publicação de alguma notícia ou fofoca sobre uma pessoa em específico.

Estou falando sobre o tom desagradável do discurso público, especialmente os blogs não editados - de maneira especial dos blogs "católicos" - que vomitam todo tipo de bobagens em todo o mundo.

Deixe-me explicar. Como o comentador de televisão da CNN, Chris Cuomo, disse, não há muito tempo: "A situação lá fora, no mundo, é tão feia... As pessoas estão aí para te dizer se o que você diz é verdadeiro ou não".

Tenho certeza de que o mesmo sentimento aparece em algum lugar da Bíblia.

O fato é que os blogueiros desrespeitam cada vez mais seus alvos, do Papa Francisco ao vereador da cidade, e inclusive sobre qualquer moça da vizinhança. Todo mundo está em um jogo de se auto nomear de especialistas.

Além disso, denúncias de difamação e calúnia flutuam em uma neblina amnésica. Ninguém lembra mais do que são.

Para que lembremos, a calúnia é uma mentira falada. A difamação, por outro lado, é uma mentira publicada.

Apesar da difamação, há muitos comentaristas negativos que não gostam de nada que o Papa Francisco faz ou diz.

Por exemplo, pensemos no casamento celebrado pelo Papa no avião na volta do Peru. Um casal civilizado, ambos comissários de bordo, pediram a benção do Papa. Ele perguntou se eles eram casados. Sim, eles responderam. Mas no dia do casamento em 2010, o prédio da igreja entrou em colapso e acabaram só com um casamento civil. Depois de fazer algumas perguntas e procurar as testemunhas necessárias, o Papa realizou uma cerimônia de casamento - tecnicamente uma convalidação - logo aí no avião. Um cardeal escreveu a mão um certificado de casamento e todos assinaram. Todo mundo no avião estava muito feliz.

Claro, uma vez que as coisas se tornaram públicas, a blogósfera explodiu e os suspeitos habituais começaram a olhar e estudar os livros de Códigos e Cânones de Direito, criticando com apontamentos de um ou outro artigo ou cláusula.

Então?

O central do bom gesto do Santo Padre a 36.000 pés de altura é que os católicos - especialmente os católicos em casamentos civis - deveriam se casar em cerimônias católicas. Os blogueiros criticamente negativos, inclinados a encontrar algo errado em tudo o que o Papa faz ou diz, objetaram fortemente. Estes incluíam especialistas autodenominados em casamento, poucos (se houver) daqueles que ocupam escritórios de justiça eclesial diocesana.

Essas críticas e negações eletrônicas da fofoca da cidade só espalham a desconfiança e o ódio por uma razão perfeitamente simples: um padre conheceu um casal que queria que seu casamento (oito anos, dois filhos) fosse abençoado.

Por que esses blogueiros chamados de "católicos" são tão negativos? Mais ainda, por que alguém está ouvindo-os?

Por que suas opiniões desagradáveis estão impressas? Uma vez, as palavras eram difíceis de serem publicadas. Na verdade, ainda é difícil ser publicado por editoras respeitáveis. Aqui está o ponto nodal. As editoras respeitáveis estão sendo jogadas para escanteio e tiradas de cena por indivíduos autonomeados (e muitas vezes auto elevados) com mais palavras do que formação.

Hoje, mais de 30 milhões de blogueiros emitiram reflexões não editadas sem benefício de verificadores de fato ou editores que realmente participaram dalguma escola de jornalismo. Eles criam o fato a partir de sua própria opinião e ganham seguidores através de sua negatividade.

Há quase dois anos, o sacerdote brasileiro Thomas Rosica, CEO da Canadian Salt & Light Catholic Media Foundation, disse que os blogueiros "católicos" transformaram seu canto da internet em uma "fonte de ódio". Havia cerca de 2.500 blogs "católicos" e depois - blogs do clero e religiosos - ninguém sabe com certeza quantos estão lá agora. Todavia, eles não são todos desagradáveis ou fundados na fantasia. Mas alguns deles são. E eles repetidamente atacam o Santo Padre.

Um fato interessante que não parece estar nos radares da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA e de outras conferências episcopais é o fato dos clérigos precisarem de permissão para publicar ou falar em suas próprias dioceses ou em outras. Os blogueiros atravessam territórios diocesanos. Em teoria pelo menos, o clérigo fala para o bispo e com a permissão do bispo em cujo território ele fala ou publica. Com os blogs, os territórios são ilimitados. Assim, pode-se argumentar que, quando um clérigo blogueiro desrespeita o Santo Padre, ele está fazendo isso em nome de seu próprio bispo e com a permissão do resto dos bispos.

Isto é algo muito sério para ser pensado.


National Catholic Reporter - Tradução: Ramón Lara

*Phyllis Zagano é associado de pesquisa sênior na Universidade Hofstra em Hempstead, N.Y. Seus livros incluem 'Sacred Silence: Daily Meditations for Lent' e 'In the Image of Christ: Essays on Being Catholic and Female'.

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