quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Respostas para perguntas não feitas: risco e erro do Cristianismo atual

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O Cristianismo saiu de uma postura teológica de ouvir para responder e seguiu por um posicionamento doutrinal de dizer o que é certo e o que é errado.
Propor o seguimento de Cristo tem a ver com ser conectado com o presente e com as questões desse tempo.
Propor o seguimento de Cristo tem a ver com ser conectado com o presente e 
com as questões desse tempo. (Reprodução/ Pixabay)
Por Fabrício Veliq*

Um dos grandes riscos e também erros da teologia cristã atual é o de propor respostas para perguntas que não lhes foram feitas e que, dessa forma, não interessam em nada à sociedade contemporânea.

Se voltarmos à história do Cristianismo, é possível perceber que os debates que ocorreram nos primeiros séculos, tais como aqueles a respeito da divindade de Jesus, ou o problema das duas vontades em sua pessoa, ou aqueles que discutiam a divindade do Espírito, ou ainda, aqueles concernentes à cristologia de Ário, dentre tantos outros que poderiam entrar nessa lista, tinham em vista defender a fé cristã e dar respostas às perguntas feitas pela sociedade daquele tempo. Ou seja, as respostas cristãs surgiam à medida que as perguntas e acusações lhes advinham.

Com o passar do tempo, essa preocupação apologética, que de início era uma defesa da fé e resposta aos questionamentos exigidos por parte da sociedade à nova religião que surgia, transformou-se, principalmente na Idade Média, na preocupação em determinar quais perguntas poderiam ser feitas pela sociedade (se é que alguma pergunta real poderia ser feita naquele período?) e quais respostas que deveriam ser dadas para essas mesmas perguntas. Assim, o Cristianismo saiu de uma postura teológica de ouvir para responder e seguiu por um posicionamento doutrinal de dizer o que é certo e o que é errado sem ser perguntado e condenando tudo e todos que iam contra sua própria doutrina.

Hoje em dia, em muitos lugares, é possível perceber que essa postura continua. Tem-se presenciado o crescimento de um Cristianismo mais preocupado em legislar sobre a sociedade do que em levar a boa nova do Evangelho. Em outras palavras, cresce-se um Cristianismo doutrinal e preocupado em dizer dogmas que, muitas vezes, não fazem mais sentido para a sociedade em que se está no lugar de um Cristianismo disposto a ouvir e ver a realidade do povo que sofre para, mediante isso, propor respostas e lutar em favor desse povo sofredor.

Agindo assim, o Cristianismo deixa de ser resposta teológica para se transformar em resposta dogmática, fugindo de tudo aquilo que foi ensinado por Jesus. Ao mesmo tempo, e também como conseqüência disso, passa a propor respostas para perguntas não feitas e torna-se uma religião do passado, esquecendo que propor o seguimento de Cristo tem a ver com ser conectado com o presente e com as questões desse tempo, envolvendo-se com elas e as vivenciando de forma intensa. Dizendo de outro modo, significa recuperar para si a verdade da encarnação, de viver a carne do mundo para, nele, mostrar a mensagem da boa nova de que Deus ama e se importa com a humanidade e sua Criação.

 Ao fazer isso, ouvir as questões atuais, voltar o olhar para a realidade do mundo e sua mazelas, lutar em favor daqueles que sofrem e contra a desigualdade que impera nessa terra, propondo respostas e alternativas de inclusão, igualdade, justiça, paz e comunhão não será uma tarefa estranha, antes, mera conseqüência de assumir o caráter encarnacional do chamado do Evangelho de amar uns outros, sendo semelhantes ao nosso Pai que está nos Céus.

*Fabrício Veliq é teólogo. Mestre e doutorando em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica, formado em matemática, graduando em filosofia pela UFMG e graduando em Teologia pela UMESP. Membro do grupo de pesquisa Fundamental and Political Theology em KU Leuven e do Grupo de Pesquisa Estudos de Cristologia da FAJE. Ministra cursos de teologia no cursos de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana, no Centro de Formação e Cultura em Divinópolis e é também professor voluntário no CITEP na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí, tanto presenciais, como online. Seu blog, caso queiram conhecer mais de seus textos, é www.fveliq.blogspot.com. Seu e-mail, caso queiram entrar em contato, é fveliq@gmail.com

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