domingo, 18 de fevereiro de 2018

Manifesto de índios brasileiros emociona durante a Berlinale

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Presença do índio Ubiratã com seu belo cocar na Potsdamer Platz fez a diferença.
Filme também mostra como outros aspectos da modernidade, como a internet, mudaram a vida de toda a tribo
Filme também mostra como outros aspectos da modernidade, como a internet,
 mudaram a vida de toda a tribo (Reprodução).

O filme Ex-Pajé, de Luiz Bolognesi, fez sua estreia mundial na noite deste sábado (17) no Festival Internacional de Cinema de Berlim. Durante sua apresentação na mostra “Panorama” da Berlinale, o diretor leu um manifesto pela proteção dos índios brasileiros, ao lado de dois membros da tribo Paiter Suruí.

O filme seria apenas mais um na longa lista de documentários exibidos na capital alemã. Mas a presença do índio Ubiratã com seu belo cocar na Potsdamer Platz fez a diferença nesta fria em Berlim. Acompanhado de sua mãe, que entrava pela primeira vez em uma sala de cinema, ele veio especialmente do Brasil para apresentar, ao lado do diretor Luiz Bolognesi, um filme contando o impacto da modernidade em seu povo.

O documentário apresentado na Berlinale tem como personagem principal Perpera, o antigo pajé da tribo, que perdeu sua função com a chegada dos brancos (médicos e pastores). “Antes as pessoas vinham me ver, hoje elas compram aspirina”, diz Perpera no filme.

Esse aspecto, aliás, é tratado em vários momentos no documentário, como quando a mãe de Ubiratã é hospitalizada. “Quase a perdemos e eu acho que se ainda tivéssemos o pajé em nossa aldeia, ela não teria precisado ter ido para um hospital”, relatou, emocionado, o jovem índio.

Redes sociais

O filme também mostra como outros aspectos da modernidade, como a internet, mudaram a vida de toda a tribo. “A tecnologia vem de uma forma intensa e entra nas aldeias sem freio. Mas a gente tenta se adaptar e usar como uma ferramenta, pois com ela a gente pode registrar a nossa cultura”, explicou Ubiratã. “Com toda a pressão do desmatamento em nosso território, a gente tenta divulgar em redes sociais para que o mundo conheça o que esta acontecendo de verdade”.

Logo após a projeção do filme, que foi ovacionado pela plateia, o diretor Luiz Bolognesi leu um trecho de um manifesto assinado por representantes das principais tribos indígenas e ONGs dedicadas à causa no Brasil.

“Os espíritos da floresta estão irritados, chorando por ajuda, como se para cada árvore derrubada, cada rio poluído, eles se aproximassem da extinção. Um sábio xamã disse uma vez, a floresta é um portal cristalino, e todos nós, os humanos, precisamos disso. Se a floresta partir, nosso espírito partirá também. Os pajés devem existir e, para existir, devem ser respeitados. Antes que seja tarde demais, o mundo seja esvaziado de sua espiritualidade e o Céu pode cair sobre nossas cabeças! Chega de etnocídio! Mais pajés! Menos intolerância”, leu o diretor.

Silvano Mendes / Rádio França

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