domingo, 8 de abril de 2018

Agnósticos?

domtotal.com
Reflexão sobre a liturgia do 2º Domingo da Páscoa - João 20,19-31
Querer permanecer nessa
Querer permanecer nessa "postura neutra" sem se decidir a favor ou contra a fé, já é tomar uma decisão. (A incredulidade de são Tomé - Caravaggio)
Por José Antonio Pagola*

Poucos nos têm ajudado tanto quanto Christian Chabanis a conhecer a atitude do homem contemporâneo diante de Deus. Suas famosas entrevistas são um documento essencial para saber o que os cientistas e pensadores mais reconhecidos pensam sobre Deus hoje.

Chabanis confessa que, quando começou suas entrevistas com os mais prestigiosos ateus do nosso tempo, pensava em encontrar neles um ateísmo rigoroso e bem fundamentado. Na verdade, ele descobriu que, por trás de profissões sérias de lucidez e honestidade intelectual, muitas vezes havia uma "ausência absoluta de busca da verdade".

Não surpreende a constatação do escritor francês, pois algo semelhante acontece conosco. Muitos daqueles que renunciam a crer em Deus o fazem sem terem iniciado algum esforço para buscá-lo. Penso sobretudo em tantos que se confessam agnósticos, às vezes de maneira ostensiva, quando na verdade estão muito longe de uma verdadeira posição agnóstica.

O agnóstico é uma pessoa que coloca o problema de Deus e, não encontrando razão para crer nele, suspende o juízo. O agnosticismo é uma busca que termina em frustração. Só depois de ter procurado o agnóstico adota sua posição: "Não sei se existe Deus. Não encontro razões para nem para crer nele nem para não crer”.

A posição mais comum hoje é simplesmente ignorar a questão de Deus. Muitos daqueles que se dizem agnósticos são, na realidade, pessoas que não buscam. Xavier Zubiri diria que são vidas "sem a vontade da verdade real". A existência ou não de Deus lhes é indiferente. Eles não se importam se a vida termina aqui ou não. Basta-lhes "ir vivendo", abandonar-se "ao que for", sem mergulhar no mistério do mundo e da vida.

Mas essa é a atitude mais humana ante a realidade? Pode uma vida, na qual a vontade de busca de sua verdade última está ausente, ser apresentada como progressiva? Pode-se afirmar que essa é a única atitude legítima de todos? Pode-se dizer que essa é a única atitude legítima de honestidade intelectual? Como se pode saber que não é possível crer se nunca se buscou a Deus?

Querer permanecer nessa "postura neutra" sem se decidir a favor ou contra a fé, já é tomar uma decisão. A pior de todas, pois equivale a renunciar a busca por uma aproximação do mistério último da realidade.

A postura de Tomé não é a de um agnóstico indiferente, mas aquela de quem procura reafirmar sua fé na própria experiência. Por isso, quando se encontra com Cristo, abre-se com confiança a ele: "Meu Senhor e meu Deus!" Quanta verdade contêm as palavras de Karl Rahner!: “É mais fácil deixar-se afundar no próprio vazio do que no abismo do santo mistério de Deus, mas não supõe mais coragem nem tampouco mais verdade. Em todo caso, esta verdade resplandece se é amada, aceita e vivida como verdade que liberta”.


Periodista Digital - Tradução: Gilmar Pereira

*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol.

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