16 de Abril de 2018 por esmael
O jornalista Ricardo Cappelli faz o papel do “advogado do diabo” ao analisar o Datafolha e perguntar quem está verdadeiramente preocupado com Lula. Para ele, o petista terá que se preparar para uma longa estadia atrás das grades. “O ex-presidente precisa ganhar as eleições, virar a conjuntura para que tenha condições mínimas de tentar sair do cárcere”, escreve.
Por Ricardo Cappelli*
O destino de Lula está diretamente ligado ao resultado eleitoral de outubro. O ex-presidente possui vários processos ainda em curso contra ele. Seus algozes, apesar das ilusões de setores da esquerda, já deram inúmeras demonstrações que irão marchar sobre ele.
Uma vitória do campo conservador conduzirá o país para um processo de direitização, um inverno longo e rigoroso, uma era de trevas com a legitimação das perseguições. Será a consolidação de uma democracia de fachada tutelada pela grande mídia e por setores antinacionais da burocracia estatal.
Se isso ocorrer, Lula terá que se preparar para uma longa estadia atrás das grades. Para as pessoas do mundo real, seis anos, tempo estimado de sua prisão em regime fechado, é uma eternidade. Isolado e incapaz de interferir na política, nosso maior líder flertará com o ocaso de sua história.
Os mais apressados afirmarão que pensar em eleições é ilusão, que elas podem não ocorrer. Sinceramente, nunca vi ninguém cancelar um jogo quando pode escolher os jogadores do time adversário e ainda tem o juiz e o “tira-teima” da TV ao seu lado.
O resultado do Datafolha realizado após a prisão confirma o que já é sabido. Lula continua como o principal cabo eleitoral do país, mas o impacto de seu encarceramento será sentido. Para o povo uma pessoa presa é uma pessoa presa, limitada.
O país está rachado sobre a justeza da prisão. A maioria acredita que ele não será candidato, um raciocínio lógico.
Os nomes apresentados como alternativa pelo PT patinam. Os apaixonados correrão para dizer que escondo números que indicam que dois terços dos eleitores de Lula votariam com certeza num candidato indicado por ele.
Na transferência mecânica destes dados para realidade, Haddad, Wagner, você ou eu, com a mão de Lula no ombro, teríamos 20% dos votos na eleição presidencial. Será?
Jaques Wagner, o mais equilibrado líder petista do momento, afirmou numa bela entrevista concedida na porta da PF em Curitiba que não acredita que isto seja automático. “Já vi gente ganhar e perder com o apoio de Lula”, afirmou o carioca-baiano, abrindo a possibilidade do PT apoiar uma candidatura de outro partido.
O PSB parece ter definido seu caminho com Joaquim Barbosa. O Datafolha confirma a montagem de um paredão para Alckmin. A dupla Bolsonaro-Joaquim Barbosa atropela o paulista no seu eleitorado tradicional, uma barreira quase intransponível que poderá selar seu destino.
Joaquim e Marina, por flancos distintos, disputarão com Bolsonaro a negação da política e dos políticos tradicionais.
Restam no núcleo do campo popular e democrático PT, PDT e PCdoB, além do PSOL. Com a mesma tática do PT dos anos 80, é perda de tempo imaginar uma composição eleitoral com o partido liderado pelo jovem Guilherme Boulos.
Temos ainda Bolsonaro e um campo que, cedo ou tarde, irá se unificar. Rodrigo Maia, Alckmin, Flávio Rocha, Álvaro Dias, Temer-Meireles e outros irão confluir para um mesmo caminho, é questão de tempo. A centro-direita terá seu candidato.
A esquerda ainda pode disputar as eleições. A unidade do campo com o apoio de Lula coloca o campo popular e democrático no segundo turno. Divididos jogaremos roleta russa. A chance de desastre passa a ser enorme.
O PT é o maior partido do país. Teve a presidência da república por quatro mandatos consecutivos com o apoio de seus aliados. Não por acaso virou o alvo principal da reação.
Numa guerra assimétrica, com um inimigo de maior poder ofensivo, é uma estratégia correta oferecer o peito aberto? Ou seria mais correto lhe impor uma derrota com inteligência, misturado no meio de aliados históricos? A paixão deve ficar de lado, o coração não é bom conselheiro na guerra.
Zé Dirceu deve voltar para cadeia esta semana. Marcelo Sereno e Gilmar Machado, dois petistas históricos, foram encarcerados na semana que passou. O processo de Gleise está na fila no STF e os sinais não são nada bons. A caçada continua a todo vapor.
Uma saída estreita, de patriotismo partidário descolado da realidade, pode parecer ato de bravura. Na verdade, esconde o oportunismo dos que querem sobreviver eleitoralmente ou manter postos em burocracias partidárias surfando no calvário de Lula.
O ex-presidente precisa ganhar as eleições, virar a conjuntura para que tenha condições mínimas de tentar sair do cárcere. Quem está verdadeiramente preocupado com Lula?
*Ricardo Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) na gestão 1997-1999.
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