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É na interioridade humana que se realiza o que de fato é existir: sair de si como possibilidade de um encontro.
O ser humano é ser-com-os-outros: com o outro de si, com o mundo e com o Transcendente.
O ser humano é ser-com-os-outros: com o outro de si, com o mundo e com o Transcendente. (Ben White/ Unsplash)
Por Felipe Magalhães Francisco*
Ensina-nos a antropologia filosófica que o ser é humano é radicalmente aberto. Isso porque é ser-com-os-outros: com o outro de si, com o mundo e com o Transcendente. Essa abertura radical é condição de possibilidade para a realização do humano como ser. O aspecto religioso, presente em todas as sociedades humanas, é sinal dessa abertura: temos sede do infinito, daquilo que nos ultrapassa e que nos permite ser bem mais, fora dos condicionamentos próprios de nossa fragilidade.
É na interioridade humana, nesse sentido, que se realiza o que de fato é existir: sair de si como possibilidade de um encontro. Isso é exercício de transcendência. A existência como saída pressupõe a interioridade. Dessa forma, também o aspecto religioso comporta, necessariamente, o elemento subjetivo, para além da dimensão objetiva da expressão religiosa, geralmente associada a alguma tradição de fé. Interessa-nos, na presente matéria especial, refletir o aspecto subjetivo, isto é, da interioridade, da relação entre o ser humano e o divino.
As religiões oferecem um importante serviço de mediação do Sagrado. Esse serviço, contudo, não é exclusivo. A conexão com o Sagrado extrapola as liturgias, pois também corresponde ao âmbito individual e da devoção popular, dimensões fortes e importantes dessa conexão. É o que trata Alex Kiefer Silva, no artigo As religiões e a mediação do Sagrado. É certo que, na contemporaneidade, observa-se o retorno do Sagrado, em suas múltiplas formas e isso diz respeito às transformações pelas quais tem passado a humanidade e é um elemento que não deve nos passar despercebido, se queremos compreender o sujeito hodierno.
Focando na dimensão da interioridade, temos o artigo O deus que está em mim, de Daniel Couto. No texto, o autor reflete sobre as dimensões da personalidade, como personalidade em-si; de-si; e para-si, sendo esta última que se relaciona, fundamentalmente, com o transcendente por meio daquilo que o autor define por interioridade. A subjetivação do encontro com o transcendente, por se tratar de uma relação interior, diz muito mais respeito ao sujeito que à própria essência do divino. Conhecer o divino interior é conhecer mais sobre nós mesmos.
Lançando o olhar para o aspecto fenomenológico da relação humano-divino, Aldo Reis nos propõe o artigo O sagrado e o humano: uma abordagem filosófica, no qual reflete sobre o ser humano encarnado, marcado pelas experiências. É o mundo, lugar da inscrição que o ser humano faz de si, onde se dá a manifestação do Sagrado. Para isso, o olhar filosófico acerca dessa manifestação precisa se voltar para o mundo, numa nova compreensão. Dessa maneira, pode-se compreender que a manifestação do Sagrado se dá por meio de uma ressignificação transcendental própria do ser humano, por meio da vivência do mundo.
Boa leitura!
*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.
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