O deputado Enio Verri (PT-PR) afirma que “um muquifo de quinta”, a 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, está a descumprir decisão do STF. Segundo ele, resta é um descarado cinismo diante de uma inexplicável bestialidade acerca da prisão política de Lula e uma profunda despolitização da população.
Enio Verri*
O caráter fundamentalmente persecutório da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula se consolida em cada um de seus capítulos. Depois das indecentes e desmoralizantes imagens extraídas de um muquifo de quinta, a 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba se nega a uma decisão do diminuto Supremo Tribunal Federal. Definitivamente, as instituições nacionais não estão em pleno funcionamento. É inadmissível que as corregedorias dos órgãos de fiscalização e controle não tenham ainda pedido explicações à Força Tarefa, tanto sobre as revelações da ocupação do imóvel quanto dessas afrontas ao Estado Democrático de Direito.
A prisão política de Lula é mantida à revelia da compreensão jurídica e dos direitos humanos. A Vara de piso está segura de que o fato não terá maiores consequências e confirma a compreensão da Suprema Corte e o do CNJ quanto a condição desta como instância superior. Enquanto isso, mantêm Lula encarcerado, de forma criminosa. Ele tem 72 anos, vem de um tratamento de câncer com acompanhamento médico periódico. E se a sua prisão política não fosse relevante, não estaria sendo denunciada em várias partes do mundo, inclusive na Comissão de Direitos Humanos da ONU. O cinismo reinante suscita a se acreditar em interesses mais poderosos que o Estado.
Essa desordem jurídica e a inação das instituições e da população interessam aos grupos financeiros que estão com as mãos bem próximas, definitivamente, dos recursos energéticos e das empresas estratégicas brasileiras. O que está em jogo não são apenas os bens materiais. Temer e sua camarilha estão entregando a outras nações o poder de decisão de como e para quem o Brasil vai se desenvolver. O País está muito próximo de se consolidar como a maior colônia de produtos primários do mundo. Países centro de poder estão prestes a controlar os destinos econômicos e, por conseguinte, os sociais e, provavelmente, os políticos, caso não haja reação à altura.
Os membros dos três Poderes que agiram em favor do golpe de 2016 o fizeram sob a certeza de que não haveria reação popular. A população foi e é mantida inerte com um longo processo de demonização da política, dos partidos políticos em geral, mas especificamente do Partido dos Trabalhadores. E esse mecanismo funcionou e funciona devido a uma profunda despolitização da população, que acredita, por exemplo, ser censura a proposta de reforma da comunicação. Desde 2005, com mais e mais intensidade, o PT é diuturnamente exposto de forma negativa.
Além de atacar o PT, a imprensa golpista esconde as imagens do apartamento que fazem vergonha aos mais fervorosos prosélitos da Operação Lava Jato. Ela também invisibiliza o acampamento Marisa Letícia, inclusive o atentado fascista, sofrido à bala, no qual duas pessoas foram feridas, uma delas em estado grave. E ela também distorce a realidade econômica pela qual passa o País, repetindo o mantra da privatização para a salvação do Brasil, sendo que o problema é menos de caixa do que de produção. O Brasil está parado, é essa a realidade. Um país à deriva.
O desemprego não para de crescer e a renda real mensal dos trabalhadores está caindo. Nos últimos cinco meses, o desemprego saltou de 11,8% para 13,1% da população, enquanto que a renda dos trabalhadores caiu de R$ 2.173, para R$ 2.169. Os que tiveram condições de cozinhar com gás de cozinha, durante os governos do PT, voltaram a usar lenha ou carvão para preparar os alimentos. Um aumento de 1,2 milhão de pessoas a mais, entre 2016 e 2017. E o mercado de trabalho está em queda. Um dos segmentos referência para avaliar as condições econômicas, a construção civil, retraiu em – 5,8% a contratação de mão de obra e, a indústria, – 2,7%.
Em 2017, o investimento público foi o pior, em 50 anos, apenas 1,7% do PIB. A EC 95 foi criada para asfixiar o Estado na sua capacidade de investir no seu desenvolvimento, de criar tecnologia e empregos e de promover a mais justa distribuição das riquezas. A nossa elite é tão sabuja que faz de tudo para falir o Estado, de modo que ele fique mais atrativo pra as nações centro de poder que estão brigando para adquirirem nossas fontes energéticas e nossas empresas estratégicas. A farsa não mais se sustenta, mas o golpe segue em frente aos trancos e afrontas inimagináveis para uma democracia. O que resta é um descarado cinismo diante de uma inexplicável bestialidade.
*Enio Verri é deputado federal pelo PT do Paraná.
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