O Sermão do Bispo Michael Curry no Casamento Real

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'Há poder no amor': Essas foram as palavras do bispo presidente da Igreja Episcopal nos Estados Unidos, que falou no casamento do príncipe Harry e a duquesa Meghan Markle.

O bispo falou sobre o poder do amor e da fé, mesmo para consolar os que estão em cativeiro, referindo-se explicitamente aos salmos cantados pelos escravos no sul dos EUA. (Reprodução)

Por Margaret Lyons, Anna Schaverien e Jonah Engel Bromwich*

Mantenham sempre seus fascinators, tiaras, regalias e romance. Mas a surpresa, a estrela maior - a Pippa Middleton, para alguns - deste casamento real foi um sermão sobre o amor, você acreditaria?

Michael Bruce Curry, o bispo presidente da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, pronunciou um discurso de 13 minutos, implorando aos cristãos que colocassem o amor no centro de suas vidas espirituais e políticas. Até aquele momento, a cerimônia tinha sido bastante séria, abafada até, com apenas a menção de "união sexual" para mantermos a educação real.

"Precisamos descobrir o poder do amor, o poder, o poder redentor do amor", disse ele. "E quando o descubramos, seremos capazes de fazer deste velho mundo um novo mundo".

Com sua repetição e ênfase, seu sermão baseou-se nos elementos da tradição eclesiástica negra. Foi um contraste impressionante frente ao sermão de Richard Chartres, bispo de Londres, no casamento real anterior em 2011.

"Imagine governos e nações onde o amor é o caminho", disse o reverendo Curry. “Imagine este velho mundo cansado com o amor como caminho - quando o amor é o caminho, amor abnegado, sacrificial, redentor!… Quando o amor for o caminho, a pobreza tornar-se-á história”. Ele citou explicitamente várias vezes Martin Luther King Jr. e fez alusão às mesmas passagens do livro do profeta Amós - “Corra, porém, a justiça como as águas, e a retidão como o ribeiro impetuoso” (Amós 5,24) citando a conhecido uso da passagem bíblica no discurso de King.

O bispo Curry, de 65 anos de idade, disse que o cristianismo era “um movimento baseado no amor incondicional de Deus pelo mundo e um movimento que obriga as pessoas a viverem esse amor e a mudarem não apenas suas vidas, mas a própria vida do mundo”, ele disse.

O bispo falou sobre o poder do amor e da fé, mesmo para consolar os que estão em cativeiro, referindo-se explicitamente aos salmos cantados pelos escravos no sul dos Estados Unidos.

Curry nasceu em Chicago em 1953. É casado e tem duas filhas, adquiriu uma certa fama fora da comunidade religiosa depois de um sermão que fez em 2012, “Precisamos de alguns cristãos malucos”, foi amplamente visto online. Ele é o primeiro líder afro-americano da Igreja Episcopal.

Perguntado pela rede de televisão CBS como ele havia se preparado para fazer o sermão, o Reverendo Curry disse que "iria e deixaria rolar".

Ele disse: “Eu nunca esquecerei do meu pai quando eu ainda era um pastor novo. Meu pai me disse apenas para ser sempre quem eu realmente sou. ‘Não finja ser outra pessoa’”.

O texto do sermão:

E agora, em nome de nossa amorosa libertação e nosso dador de vida Deus Pai, Filho e Espírito Santo. Amém.

Dos Cânticos de Salomão na Bíblia: Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, pois o amor é tão forte como a morte, paixão tão feroz como a sepultura, os seus clarões colo luzes de fogo, uma chama viva. As águas não podem apagar o amor, nem as dilúvios podem afoga-lo.

O falecido Dr. Martin Luther King uma vez disse, e cito: precisamos descobrir o poder do amor, o poder redentor do amor, e quando fizermos isso faremos deste velho mundo um novo mundo. Porque o amor é o único caminho.

Há poder no amor. Não subestimem isso. Não o sobrestimemos. Há poder, poder verdadeiro no amor. Se você não acredita em mim, pense no momento em que você se apaixonou pela primeira vez. O mundo inteiro parecia parar em torno de você e sua pessoa amada. Há poder, poder no amor.

Não apenas em suas formas românticas, mas em qualquer forma, qualquer forma de amor. Existe um certo sentido em que quando você é amado e você sabe disso, quando alguém cuida de você e você sabe disso, quando você ama e o mostra, isso realmente parece certo. Há algo certo sobre isso.

E há uma razão para isso. O motivo tem a ver com a fonte. Nós fomos feitos por um poder de amor. E nossas vidas foram significadas e devem ser vividas nesse amor. É por isso que estamos aqui.

Em última análise, a fonte do amor é o próprio Deus, a fonte de todas as nossas vidas. Há um antigo poema medieval que diz: "onde está o amor verdadeiro, o próprio Deus está presente".

O Novo Testamento diz assim: “amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor é de Deus e os que amam nascem de Deus e conhecem a Deus, os que não amam não conhecem a Deus. Por quê? Porque Deus é amor. Há poder no amor. Há poder no amor para ajudar e curar quando nada mais pode. Há poder no amor para erguer e liberar quando nada mais pode fazê-lo. Há poder no amor para nos mostrar o caminho da vida. Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, pois o amor é tão forte como a morte.

Mas o amor não é apenas sobre um jovem casal. Agora, o poder do amor é demonstrado pelo fato de estarmos todos aqui. Dois jovens se apaixonaram e todos nós aparecemos. Mas não é apenas por e sobre um jovem casal com quem nos alegramos.

É mais do que isso. Jesus de Nazaré em uma ocasião foi convidado por um advogado para resumir a essência dos ensinamentos de Moisés. Ele voltou e voltou para as escrituras hebraicas, no Deuteronômio e no Levítico, e Jesus disse que você deve amar o senhor seu Deus com todo o seu coração, toda a sua alma, toda a sua mente e todas as suas forças.

Este é o primeiro e grande mandamento, e o segundo é assim: ame seu próximo como a si mesmo. E então na versão de Mateus, acrescentou, ele disse, nesses dois mandamentos de Amor a Deus e Amor ao Próximo, está o fundamento de toda a lei, de todos os profetas, de tudo o que Moisés escreveu, tudo nos santos profetas, tudo nas escrituras, tudo o que Deus tem tentado dizer ao mundo. Ame a Deus, ame seus próximos e, enquanto estiver fazendo isso, ame-se a si mesmo.

Agora alguém disse uma vez que Jesus começou o movimento mais revolucionário em toda a história humana, um movimento baseado no amor incondicional de Deus pelo mundo. Um movimento chamando as pessoas a viverem esse amor. E, ao fazê-lo, mudar não apenas suas vidas, mas a própria vida do mundo em si.

Estou falando de um poder, um poder real. Poder para mudar o mundo. Se você não acredita em mim, bem, havia alguns velhos escravos no sul dos Estados Unidos, antes da Guerra Civil Americana que explicaram o poder dinâmico do amor e por que tem o poder de transformar. Eles o explicaram dessa maneira. Cantaram um canto espiritual, mesmo no meio de seu cativeiro, aquele que diz que há um bálsamo em Gileade. Um bálsamo de cura, algo que pode fazer as coisas certas.

Há um bálsamo em Gileade para curar todo o corpo. Há um bálsamo em Gileade para curar a alma doente do pecado. Uma das estrofes explica o porquê, eles dizem: "Se você não pode pregar como Pedro e não pode orar como Paulo, apenas fale do amor de Jesus e como ele morreu para salvar a todos nós". Oh, esse é o bálsamo em Gileade. Esse caminho de amor é o caminho da vida. Eles conseguiram, ele morreu para salvar a todos nós. Ele não morreu por nada que pudesse sair disso. Jesus não recebeu um doutorado honoris causa por morrer. Ele não estava tirando nada disso. Jesus desistiu de sua vida, sacrificou sua vida pelo bem dos outros, pelo bem do outro, pelo bem-estar do mundo. Para nós, isso é o que é amor.

O amor não é egoísta e egocêntrico. O amor pode ser sacrificial. E, ao fazê-lo, torna-se redentor, e esse modo de amor abnegado, sacrificial e redentor, muda vidas. E isso pode mudar este mundo. Se você não acredita em mim, pare e pense ou imagine. Pense e imagine um mundo onde o amor é o caminho. Imagine nossas casas e famílias com o amor como caminho. Imagine bairros e comunidades onde o amor é o caminho. Imagine governos e nações onde o amor é o caminho. Imagine negócios e comércio onde o amor é o caminho. Imagine este velho mundo cansado onde o amor é o caminho, abnegado, redentor sacrificial. Quando o amor for o caminho, então nenhuma criança irá dormir com fome neste mundo novamente. Quando o amor for o caminho, vamos deixar a justiça correr como um fluxo poderoso e a retidão como um riacho que flui sempre. Quando o amor for o caminho, a pobreza se tornará história. Quando o amor for o caminho, a terra será um santuário. Quando o amor for o caminho, vamos deixar nossas espadas e escudos, na beira do rio, para não mais estudar a guerra. Quando o amor for o caminho, existirá um grande espaço para o bem, um grande espaço para todos os filhos de Deus. Porque quando o amor é o caminho, nós realmente tratamos uns aos outros bem, como se fôssemos realmente uma família. Quando o amor é o caminho, sabemos que Deus é a fonte de todos nós e sabemos que somos irmãos e irmãs, filhos de Deus. Meus irmãos e irmãs, isso é um novo céu, uma nova terra, um novo mundo, uma nova família humana. E deixem-me dizer uma coisa, o velho Salomão estava certo no Antigo Testamento, isso é fogo.

Com Pierre Teilhard de Chardin, e com isso vou acabando, todos somos chamados a nos casar.

O jesuíta francês Pierre Teilhard de Chardin foi sem dúvida uma das grandes mentes, um dos grandes espíritos do século XX. Um jesuíta, sacerdote católico romano, cientista, estudioso, místico. Em alguns de seus escritos, ele falava desde sua formação científica, bem como sua formação teológica. Em alguns de seus escritos, ele disse, como em quase todos, que a descoberta, a invenção ou o aproveitamento do fogo foi uma das grandes descobertas científicas e tecnológicas de toda a história humana. O fogo, em grande medida, tornou possível a civilização humana. O fogo tornou possível cozinhar alimentos e fornecer formas sanitárias de comer, o que reduziu a disseminação de doenças em seu tempo. O fogo tornou possível aquecer ambientes frios e, assim, tornou a migração humana em todo o mundo uma possibilidade, mesmo em climas mais frios. O fogo tornou possível muitas coisas, sem ele não teríamos a Idade do Bronze, nem a Idade do Ferro, nem a Revolução Industrial. Os avanços da ciência e da tecnologia dependem grandemente da capacidade humana e da capacidade de pegar o fogo e usá-lo para o bem humano.

Alguém chegou aqui em um carro hoje? Um automóvel? Acenem com a cabeças se você fez isso, eu estou supondo, porque sei que havia algumas carruagens. Mas aqueles de nós que viemos em carros, o fogo controlado tornou isso possível. Eu sei que a Bíblia diz, e eu acredito, que Jesus andou sobre a água, mas eu tenho que te dizer que eu não andei através do Oceano Atlântico para chegar aqui. O fogo controlado naquele avião me trouxe aqui. O Fogo torna possível para nós enviar mensagens de texto, twittar e enviar e-mails, usar Instagram e Facebook, e ser socialmente disfuncionais uns com os outros. O fogo torna tudo isso possível e Chardin já disse que o fogo foi uma das maiores descobertas de toda a história da humanidade. Ele então passou a dizer que, se toda a humanidade aproveitasse a energia do fogo novamente, se a humanidade capturar a energia do amor, será a segunda vez na história que descobrimos o fogo.

O Dr. King estava certo, precisamos descobrir o amor. O poder redentor do amor. E quando fizermos isso, faremos deste velho mundo um novo mundo. Meu irmão, minha irmã, Deus te ama. Deus te abençoe. E que Deus nos mantenha a todos naquelas mãos poderosas de amor.

New York Time - Tradução: Ramón Lara

*Margaret Lyons é a crítica de televisão de Watching. Ela já passou cinco anos como escritora e colunista de TV da Vulture.com. Ela também ajudou a lançar o Time Out Chicago e mais tarde escreveu para a Entertainment Weekly, entre outras publicações. @Margeincharge Jonah Bromwich mora em Nova York. Ele escreve para a seção Style. @Jonesieman