quarta-feira, 30 de maio de 2018

Quando o santo faz rir, o bom humor abre o céu

domtotal.com
A dor e o sofrimento não podem sufocar a alegria, profunda e duradoura, de sermos salvos, de ter como destino a vida eterna.
O bom humor dos santos nasce da capacidade de não se levar muito a sério, o seu pensar de forma positiva por saber que nos aguarda um destino como ressuscitados.
O bom humor dos santos nasce da capacidade de não se levar muito a sério, o seu pensar de forma positiva por saber que nos aguarda um destino como ressuscitados. (Reprodução/ Pixabay)
Por Riccardo Maccioni*

Talvez o melhor resumo esteja na saudação de Domingos Sávio a um novo amigo de oratório. "Para nós a santidade consiste em ficar muito alegres e em fazer muito bem o nosso dever". Se uma qualidade não pode faltar na "bagagem" do cristão, essa é a alegria, da qual o bom humor é reflexo, marca de reconhecimento, imagem exterior.

Falam disso as hagiografias, é confirmado pelos textos de reflexão espiritual, não realmente muitos na verdade, o repetem ad nauseam os párocos. "Um cristão não pode ser triste." Tese racionalmente e unanimemente aceita, mas muito difícil de realizar. Porque não se trata tanto de rir das dificuldades, mas, e é mais difícil, de enfrentar as provações com a sabedoria, com o distanciamento adequado de quem vive no mundo sem ser escravo das suas lógicas. O santo - escreve o papa Francisco na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate "é capaz de viver com alegria e senso de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros com um espírito positivo e rico de esperança ". Uma atitude que é aprendida frequentando a escola da leveza, engajando-se no esforço, às vezes verdadeiramente heróico, de limitar as enfadonhas exigências do próprio eu, o peso do egocentrismo. "Os anjos podem voar porque não levam nada a sério", afirma uma deslumbrante máxima de Gilbert Keith Chesterton, que acrescenta: "É fácil ser pesado, é difícil ser leve. Satanás caiu devido à força da gravidade”. O que não significa, obviamente, que o narcisista esteja condenado à danação, mas apenas que, para ele, o caminho da libertação de si mesmo é mais difícil.

Tanto o egoísmo é uma corrida para acumular bens, prestígio e visibilidade como o caminho para a santidade pede para abandonar os enfeites pomposos, para não levar muito a sério honras, riquezas, prêmios de capa de revista. E o objetivo da felicidade, que consiste em realizar plenamente o plano que Deus tem para nós, alcança-se mais facilmente sem lastros desnecessários. O santo é de certa forma um especialista na arte, árdua e impopular, de tirar, de liberar, de abrir os espaços ocupados pelas certezas efêmeras, para dar lugar à vida do Espírito. É um profeta do retorno ao essencial, um espeleólogo nas profundezas do homem, na busca do que realmente importa. E essa capacidade de ir mais longe, permite-lhe colher as sementes da eternidade já aqui embaixo, de viver com o coração projetado para o que nos espera depois. Imerso no presente, sim, mas sem se deixar sobrecarregar, sabendo que cada um é parte do mundo sem ser o seu centro. Não é coincidência que "humildade" e "humor" têm uma origem comum, ambos derivam de "húmus", terra. Quem não se deixa influenciar pela soberba, quem não se torna um seu refém, entende que existe algo de maior do que si próprio, do seu próprio eu. De quem, aliás, aprende a sorrir.

O bom humor dos santos nasce da capacidade de não se levar muito a sério, o seu pensar de forma positiva por saber que nos aguarda um destino como ressuscitados. "O otimismo cristão não é um otimismo adocicado - escreveu São Josemaria Escrivá de Balaguer - e nem mesmo a confiança de que tudo vai dar certo. Afunda suas raízes na consciência da liberdade e na certeza do poder da graça; um otimismo que nos leva a ser exigentes com nós mesmos, a nos esforçarmos para corresponder em cada momento ao chamado de Deus." Há momentos difíceis, momentos de cruz, escreve o Papa em Gaudete et Exsultate, mas nada pode destruir a alegria sobrenatural que – ressalta a Exortação Evangelii gaudium- "adapta-se e transforma-se, mas sempre permanece pelo menos como um feixe de luz que nasce da certeza pessoal de, não obstante o contrário, sermos infinitamente amados." O problema no máximo surge quando, também para o cristão, o peso da responsabilidade limita o olhar dentro do perímetro do presente, quando as lágrimas são apenas tinta para o desespero e não vocabulário da proximidade, da compaixão. Por isso, acontece muitas vezes que as igrejas ressoem de hinos de Páscoa, enquanto o rosto de quem as frequenta é inspirado em uma perene Sexta-feira da Paixão. Para confirmar isso seria suficiente observar a fila daqueles que se apresentam para a Comunhão na missa dominical. "Eles deviam cantar-me melhores cânticos, para eu me decidir a acreditar em seu Salvador - resumia sarcástico Nietzsche - Seria preciso que os seus discípulos tivessem mais o aspecto de pessoas felizes".

Uma queixa que também tem a sua razão histórica, como revela a condenação do riso e da diversão, de tantos Padres da Igreja. Ou como, mais prosaicamente, é relatado em O Nome da Rosa, de Umberto Eco. É a atitude daqueles que acreditam que sim, haverá alegria, mas no mundo que virá, não neste, confinado na tristeza. Daqueles que no Salmo 2 se concentram ao máximo sobre o convite à alegria "com tremor" esquecendo a observação segundo a qual quem "ri é aquele que está nos céus". Daqueles que têm dificuldade para testemunhar o chamado de outro Salmo, o 34: "Olharam para ele, e foram iluminados; e os seus rostos não ficaram confundidos."

Os santos, seu testemunho, nos ajudam a colocar as coisas em seus devidos lugares, enfatizando que a dor e o sofrimento não podem sufocar a alegria, profunda e duradoura, de serem salvos, de ter como destino a vida eterna.

Fala-se que Dom Bosco fosse especialmente alegre nos dias das provas mais duras e Francisco de Assis, alguém que de sofrimento entendia bastante, também é conhecido como "trovador de Deus." Uma filosofia de vida, uma capacidade de ver além, que Thomas More, apóstolo do bom humor, alegre, mesmo no cadafalso onde foi decapitado, explicava assim: "Qualquer coisa que aconteça, por pior que pareça, na realidade será sempre para o bem." A lição é clara: não há nada que impeça um sorriso, que justifique o pessimismo ou o mau humor. Nas palavras de Domingos Sávio, santo menino: a santidade consiste "em ser muito alegres."

O santo é capaz de viver com alegria e senso de humor. Sem perder o realismo, ilumina os outros um espírito positivo e rico de esperança. Ser cristão é "alegria no Espírito Santo" (Romanos 14:17), porque ao amor da caridade segue necessariamente a alegria. Aqueles que amam, sempre ficam felizes na união com o amado Papa Francisco.

"Gaudete et Exsultate". No tema da Exortação Apostólica "Gaudete et Exsultate" o Papa ressalta que o cristão, apesar das provações e sofrimentos, só pode ser alegre, porque o humor é um dos sinais típicos da santidade.

IHU/ Avvenire - Tradução: Luisa Rabolini.

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