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Reflexão sobre a liturgia do 6º Domingo da Páscoa - João 15,9-17
A alegria de Jesus é a de quem vive com uma confiança limpa e incondicional no Pai. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
Não é fácil a alegria. Os momentos de autêntica felicidade parecem pequenos parêntesis no meio de uma existência de onde brotam constantemente a dor, a inquietação e a insatisfação. O mistério da verdadeira alegria é algo estranho para muitos homens e mulheres. Todavia sabem quiçá rir às gargalhadas, mas esqueceram o que é um sorriso alegre, nascido do mais profundo do ser. Têm quase tudo, mas nada os satisfaz na verdade. Estão rodeados de objetos valiosos e práticos, mas nada sabem do amor e da amizade. Correm pela vida absorvidos por mil tarefas e preocupações, mas se esqueceram de que estamos feitos para a alegria.
Por isso, algo se desperta em nós quando escutamos as palavras de Jesus: falei-vos «para que participeis da minha alegria, e para que a vossa alegria seja completa». A nossa alegria é frágil, pequena e está sempre ameaçada. Mas algo grande nos é prometido. Poder partilhar a alegria mesma de Jesus. A Sua alegria pode ser a nossa.
O pensamento de Jesus é claro. Se não há amor, não há vida. Não há comunicação com Ele. Não há experiência do Pai. Se falta o amor na nossa vida, não fica mais que o vazio e a ausência de Deus. Podemos falar de Deus, imaginá-lo, mas não experimentá-lo como fonte de gozo verdadeiro. Então o vazio enche-se de deuses falsos que tomam o lugar do Pai, mas que não podem fazer brotar em nós a verdadeira alegria que o nosso coração pretende.
Quiçá os cristãos de hoje pensamos pouco na alegria de Jesus e não temos aprendido a «desfrutar» da vida, seguindo os Seus passos. As Suas chamadas para procurar a felicidade verdadeira perderam-se no vazio talvez porque continuamos obstinados em pensar que o caminho mais seguro de encontrá-lo é o que passa pelo poder, o dinheiro ou o sexo.
A alegria de Jesus é a de quem vive com uma confiança limpa e incondicional no Pai. A alegria do que sabe acolher a vida com agradecimento. A alegria do que descobriu que a existência inteira é uma graça.
Mas a vida extingue-se tristemente em nós se a guardamos para nós próprios, sem saber como a oferecer. A alegria de Jesus não consiste em desfrutar egoisticamente da vida. É a alegria de quem dá vida e sabe criar as condições necessárias para que cresça e se desenvolva de forma cada vez mais digna e mais sã. Está aqui um dos ensinamentos-chave do Evangelho. Só é feliz quem faz um mundo mais feliz. Só conhece a alegria quem a sabe oferecer. Só vive quem faz viver.
IHU
*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol.
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