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Reflexão sobre a liturgia do 9º Domingo do Tempo Comum - Mc 2,23-3,6
Necessitamos nos libertar de uma cultura individualista que nos habituou a viver pensando só nos nossos próprios interesses. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
Todos os cristãos o sabem. A eucaristia dominical pode-se converter facilmente num “refúgio religioso” que nos protege da vida conflituosa em que nos movemos ao longo da semana. É tentador ir à missa para partilhar uma experiência religiosa que nos permite descansar dos problemas, tensões e más notícias que nos pressionam por todos os lados. Por vezes somos sensíveis ao que afeta a dignidade da celebração, mas preocupa-nos menos esquecer-nos das exigências do que significa celebrar a ceia do Senhor. Incomoda-nos que um sacerdote não siga estritamente a normativa ritual, mas podemos continuar a celebrar rotineiramente a missa sem escutar as chamadas do Evangelho.
O risco é sempre o mesmo: comungar com Cristo no íntimo do coração, sem nos preocupar de comungar com os irmãos que sofrem. Partilhar o pão da eucaristia e ignorar a fome de milhões de irmãos privados de pão, de justiça e de futuro.
Nos próximos tempos vão-se agravar os efeitos da crise muito mais do que nós temíamos. A cascata de medidas que nos ditam de forma inapelável e implacável irá fazer crescer entre nós uma desigualdade injusta. Iremos ver como pessoas próximas de nós vão empobrecendo até ficar à mercê de um futuro incerto e imprevisível.
Conheceremos de perto imigrantes privados de assistência sanitária, doentes sem saber como resolver os seus problemas de saúde ou de medicamentos, famílias obrigadas a viver da caridade, pessoas ameaçadas pelo despejo, gente sem assistência, jovens sem um futuro nada claro... Não o poderemos evitar. Ou endurecemos os nossos hábitos egoístas de sempre ou nos fazemos mais solidários.
A celebração da eucaristia no meio desta sociedade em crise pode ser um lugar de consciencialização. Necessitamos nos libertar de uma cultura individualista que nos habituou a viver pensando só nos nossos próprios interesses, para aprender simplesmente a ser mais humanos. Toda a eucaristia está orientada a criar fraternidade.
Não é normal escutar todos os domingos ao longo do ano o Evangelho de Jesus sem reagir ante as Suas chamadas. Não podemos pedir ao Pai “o pão nosso de cada dia” sem pensar naqueles que têm dificuldades para obtê-lo. Não podemos comungar com Jesus sem nos fazermos mais generosos e solidários. Não podemos nos dar a paz uns aos outros sem estar dispostos a estender uma mão a quem está mais só e indefenso ante a crise.
IHU
*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol.
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