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Reflexão sobre a liturgia do 12º Domingo do Tempo Comum - Marcos 4,35-41
Marcos descreve o episódio para despertar a fé das comunidades cristãs, que vivem momentos difíceis. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
A barca em que Jesus e seus discípulos vão é presa por uma daquelas tempestades imprevistas e furiosas que se erguem no lago da Galiléia ao anoitecer de alguns dias quentes. Marcos descreve o episódio para despertar a fé das comunidades cristãs, que vivem momentos difíceis.
O relato não é uma história tranquilizadora para consolar os cristãos de hoje com a promessa de uma proteção divina que permita que a Igreja caminhe silenciosamente ao longo da história. É o chamado decisivo de Jesus para fazer a travessia com ele em tempos difíceis: "Por que sois tão covardes? Ainda não tendes fé?"
Marcos prepara a cena desde o começo. Ele nos diz que foi "ao cair da tarde". Logo a escuridão da noite cairá no lago. É Jesus quem toma a iniciativa dessa estranha travessia: "Vamos para a outra margem". A expressão não é nada inocente. Convida-os a passar juntos, no mesmo barco, para outro mundo, além do conhecido: a região pagã da Decápolis.
De repente, um forte furacão se ergue e as ondas quebram contra a frágil embarcação, inundando-a. A cena é patética: na parte dianteira, os discípulos lutando impotentemente contra a tempestade; à popa, em um lugar ligeiramente mais elevado, Jesus dormindo pacificamente sobre um travesseiro.
Aterrorizados, os discípulos despertam Jesus. Não compreendem a confiança de Jesus no Pai. A única coisa que vêem é uma incrível falta de interesse por eles. Vêem-se cheios de medo e nervosismo: "Mestre, não te importas se perecemos?"
Jesus não se justifica. Põe-se de pé e diz uma espécie de exorcismo: o vento pára de rugir e se faz uma grande calmaria. Jesus aproveita essa grande paz e silêncio para fazer-lhes duas perguntas que nos chegam hoje: "Por que sois são tão covardes? Ainda não tendes fé?"
O que está acontecendo conosco cristãos? Por que são tantos nossos medos ao enfrentar esses tempos cruciais e tão pouca nossa confiança em Jesus? Não é o medo de afundar aquilo que está nos bloqueando? Não é a busca cega por segurança que nos impede de fazer uma leitura mais lúcida, responsável e confiante desses tempos?
Por que resistimos em ver que Deus está conduzindo a Igreja em direção a um futuro mais fiel a Jesus e seu Evangelho? Por que buscamos segurança no conhecido e estabelecido no passado, e não ouvimos o chamado de Jesus para "passar à outra margem" para humildemente espalhar sua Boas Nova num mundo indiferente a Deus, mas tão necessitado de esperança?
Periodista Digital - Tradução: Gilmar Pereira
*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol.
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