domingo, 22 de julho de 2018

HRW recomenda ao legislativo brasileiro rejeitar reforma da lei dos agrotóxicos

domtotal.com
"O que acontece no Brasil tem uma escala diferente do que acontece em outros países", explica.
Este polêmico projeto, que visa a flexibilizar o uso de agrotóxicos, foi aprovado por uma comissão legislativa em junho e deverá ser submetido à plenária da Câmara dos Deputados.
Este polêmico projeto, que visa a flexibilizar o uso de agrotóxicos, foi aprovado por uma comissão legislativa em junho e deverá ser submetido à plenária da Câmara dos Deputados. (Divulgação)
A organização Human Rights Watch (HRW) recomendou nesta sexta-feira (20) que o Brasil rejeite uma polêmica reforma da lei sobre agrotóxicos e estude com urgência um plano para reduzir o uso de pesticidas altamente perigosos.

"Ao invés de enfraquecer ainda mais as suas leis, o Brasil precisa urgentemente de um plano para reduzir o uso de pesticidas altamente perigosos", declarou à AFP o diretor associado do programa ambiental da HRW, Richard Pearshouse, no contexto da divulgação do relatório "Você não quer respirar mais veneno".

O relatório, que reúne 73 testemunhos de sete comunidades rurais coletados entre julho de 2017 e abril deste ano, recomenda estabelecer áreas de habitação humana e escolas livres de agrotóxico e suspender a pulverização aérea desses produtos até que o Executivo realize um estudo sobre o impacto para a saúde humana e ambiental.

Propõe também controlar a presença de pesticidas na água para consumo humano em comunidades indígenas e rurais, avaliar as escolas em risco de exposição a esses produtos químicos e rejeitar projetos de lei que "enfraquecem a estrutura regulatória brasileira de agrotóxico, incluindo o projeto 6.299/2002", batizado pelos críticos como "PL do veneno".

Este polêmico projeto, que visa a flexibilizar o uso de agrotóxicos, foi aprovado por uma comissão legislativa em junho e deverá ser submetido à plenária da Câmara dos Deputados.

O texto - originalmente redigido pelo empresário agrícola e agora ministro da Agricultura, Blairo Maggi, quando senador - deixa nas mãos de seu Ministério a competência para outorgar registros de agroquímicos, uma atribuição que atualmente depende também das pastas da Saúde e do Meio Ambiente.

Durante o debate, personalidades como a modelo Gisele Bündchen e o cantor Caetano Veloso usaram as redes sociais para se opor à aprovação.

Os produtores de pesticidas rejeitaram o relatório da HRW, indicando que o projeto de lei "não exclui o rigor científico e a transparência no processo de registro" destes produtos, segundo um comunicado enviado à AFP pelo sindicato Sindiveg e a associação Andef.

Os deputados que apoiam as mudanças afirmam que a lei que regula o registro e fiscalização de agrotóxicos, de 1989, está desatualizada e não atende às necessidades do setor.

Problema nacional

"Em áreas rurais do Brasil, pesticidas pulverizados em grandes plantações estão envenenando as pessoas em suas casas e as crianças nas escolas. Este é um problema nacional", adverte Pearshouse, ressaltando a falta de áreas seguras nessas regiões.

Ele admite que o uso indiscriminado de agrotóxicos não é exclusivo do Brasil, mas que esse país é um dos maiores produtores agrícolas do mundo.

"O que acontece no Brasil tem uma escala diferente do que acontece em outros países", explica.

Desde 2008, o Brasil é o maior mercado mundial de agrotóxicos, segundo estudo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO). Cerca de 80% desses produtos são utilizados na produção de soja, cana-de-açúcar, milho e algodão.

"Dos dez pesticidas mais usados ??no Brasil, quatro são proibidos na Europa", diz Pearshouse.

No entanto, Sindiveg e Andef, em seu comunicado, negaram que o Brasil seja o maior consumidor de agrotóxicos, citando dados da FAO segundo os quais o país ocupa o 13º lugar no planeta.

O Brasil "consegue fazer um uso racional de defensivos agrícolas e produzir muito mais usando uma quantidade menor" destas substâncias.

Esses cultivos "são utilizados principalmente como matéria-prima para produtos industrializados" como a produção de energia, roupas ou ração para animais, e não para o consumo humano, apontaram.

O relatório da HRW denuncia "a falta de dados confiáveis ??do governo sobre quantas pessoas no Brasil sofrem intoxicação por agrotóxicos".

Além disso, segundo o porta-voz da HRW, "as pessoas que relatam intoxicação por pesticidas temem ameaças" dos produtores.

Os rostos e nomes das pessoas retratadas no relatório foram protegidos para evitar consequências, as quais, em alguns casos, podem ser fatais, diz Pearshouse.


AFP

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