segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Habemus papam

domtotal.com
Com o passar dos anos a Igreja Católica retomou os trilhos da sua verdadeira missão na terra.
O papa que escolheu ser Francisco e se porta como Francisco.
O papa que escolheu ser Francisco e se porta como Francisco. (AFP Photo/Vincenzo Pinto)
Por Afonso Barroso*

Essa frase latina, liturgicamente pronunciada pelo decano dos cardeais na varanda do Vaticano em 13 de março de 2013, teve um sentido mais amplo do que realmente encerra. No caso da eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, ela transcendeu o simples anúncio de um novo papa. Na verdade, seguiu com ele e o acompanha em sua trajetória como pontífice. Sim, agora nós temos Papa. Um papa diferente de todos ou quase todos que o antecederam na condução dos destinos da Igreja de Pedro. O papa que escolheu ser Francisco e se porta como Francisco. O papa das ideias inovadoras, da tolerância, da caridade, da humildade, do perdão, do respeito às diversidades. O papa que age como verdadeiro chefe da igreja edificada por Cristo sobre a pedra indestrutível do cristianismo. Petrus era a petra.

Mas a história dos papas contém algumas passagens que não têm nada a ver com a grandeza humilde de Francisco. Passagens que a Igreja deve achar mais conveniente trancar no porão do esquecimento. Triste exemplo é o do papa Alexandre VI, o ricaço Rodrigo Borgia, do tempo em que a Igreja dominava religiosa e politicamente a Europa. Era uma instituição com poderes ilimitados, que oprimia, escravizava e até matava em nome de Deus. Tempo da Inquisição, da caça aos não católicos, indexados como hereges ou bruxas. Tempo em que cardeais eram nomeados, mesmo sem currículo religioso e sem fé. Rodrigo Borgia foi um caso exemplar: tornou-se cardeal por nomeação do papa Calisto III, que era seu tio Afonso Borgia. Diz a História que ascendeu ao trono papal à moda do nosso mensalão: comprando cardeais.

Entre verdades e lendas que cercam a vida desse papa há uma sobre o conclave que o elegeu. O Sumo Sacerdote só podia ser eleito pela unanimidade dos votos, e havia no Vaticano um cardeal velhinho e incorruptível. Não se vendia, definitivamente, e era ferrenho opositor à candidatura de Borgia. Já com mais de 95 anos, esse cardeal quase não dormia, passava as noites lendo. Na madrugada que antecedia o conclave, eis que entra furtivamente em seu aposento uma adolescente lindíssima, vestindo uma camisola transparente. Sua eminência tira os olhos do livro e arregala-os diante daquela aparição. A donzela abre o peignoir e se exibe inteiramente nua na frente dele. O coração frágil do religioso não resiste. Uma síncope o mata diante daquela maravilha.

A menina era Lucrécia Borgia, então com 15 anos. Ao derradeiro suspiro do cardeal ela fecha a camisola e sai. Acabara de cumprir com êxito a missão determinada pelo pai, Rodrigo. Naquela manhã o conclave realiza-se sem a presença do cardeal, que não aparece porque jaz inerte em seu leito. E assim foi eleito o novo papa, que escolheu o nome de Alexandre VI. Pode ser lenda esse caso do cardeal nonagenário, mas, em se tratando de Rodrigo Borgia, tem forte cheiro de verdade.

Com o passar dos anos a Igreja Católica retomou os trilhos da sua verdadeira missão na terra. Voltou a pregar o que Cristo havia idealizado, cultuando a fé, a caridade, a obediência aos mandamentos, a prática das virtudes que definem o verdadeiro espírito cristão.

Um dos pontos altos das mudanças ocorridas ao longo dos anos foi exatamente a eleição desse papa diferente, buscado “nos confins da terra”, como ele mesmo disse. Ou seja, num país da América Latina, o primeiro Sumo Pontífice não europeu em mais de 1.200 anos.

E aí está o nosso hermano Bergoglio, que decidiu adotar o nome Francisco para denominação pontifícia. Um papa pé no chão, com os olhos em Deus e na prática cristã. Não creio que algum outro venha a superá-lo.

*Afonso Barroso é jornalista, redator publicitário e editor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário