domingo, 26 de agosto de 2018

Pergunta decisiva

domtotal.com
Reflexão sobre a liturgia do 21º Domingo do Tempo Comum - João 6,60-69
A quem iremos, Senhor?
A quem iremos, Senhor? (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*

O evangelho de João conservou a recordação de uma forte crise entre os seguidores de Jesus. Não temos dados. Apenas nos é dito que aos discípulos lhes resulta duro o seu modo de falar. Provavelmente parecia-lhes excessiva a adesão que espera deles. Num determinado momento, “muitos discípulos voltaram atrás, e não andavam mais com Jesus”.

Pela primeira vez experimenta Jesus que as Suas palavras não têm a força desejada. No entanto não as retira, pelo contrário, reafirma-as ainda mais: “As palavras que vos disse são espírito e vida, mas alguns de vocês não acreditam”. As Suas palavras parecem duras, mas transmitem vida, fazem viver, pois contêm Espírito de Deus.

Jesus não perde a paz. Não o inquieta o fracasso. Dirigindo-se aos Doze faz-lhes a pergunta decisiva: “Vocês também querem ir embora?”. Não os quer reter pela força. Deixa-lhes a liberdade de decidir. Os Seus discípulos não devem ser servos, mas amigos. Se querem, podem voltar a suas casas.

Uma vez mais, Pedro responde em nome de todos. A sua resposta é exemplar. Sincera, humilde, sensata, própria de um discípulo que conhece Jesus o suficiente para não o abandonar. A sua atitude pode ainda hoje ajudar a quem com fé vacilante pondera prescindir de toda a fé.

“A quem iremos, Senhor?”. Não tem sentido abandonar Jesus de qualquer forma, sem encontrar um mestre melhor e mais convincente. Se não seguem Jesus, ficarão sem saber a quem seguir. Não devem precipitar-se. Não é bom ficar sem luz nem guia na vida.

Pedro é realista. É bom abandonar Jesus sem ter encontrado uma esperança mais convincente e atrativa? Bastará substituí-lo por um estilo de vida rebaixado, sem metas nem horizonte? É melhor viver sem perguntas, questões, nem busca de nenhum tipo?

Há algo que Pedro não esquece: “As Tuas palavras dão vida eterna”. Sente que as palavras de Jesus não são palavras vazias nem enganosas. Junto Dele descobriram a vida de outra forma. A Sua mensagem abriu-lhes a vida eterna. Onde poderiam encontrar uma notícia melhor de Deus?

Pedro lembra, por último, a experiência fundamental. Ao conviver com Jesus descobriu que vem de Deus. De longe, a distância, desde a indiferença ou o desinteresse não se pode reconhecer o mistério que está em Jesus. Os Doze conviveram de perto. Por isso podem dizer: “Nós acreditamos e sabemos que tu és o Santo de Deus”. Seguirão junto a Jesus.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

Nenhum comentário:

Postar um comentário