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As palavras e os gestos do Papa Francisco têm incomodado muita gente de fora e de dentro da Igreja.
Com sua linguagem positiva, o Papa tem evitado que a Igreja fique prisioneira da negatividade. (CNS photo/ Paul Haring)
Pe. Rodrigo Ferreira da Costa, SDN
Francisco: um Papa latino-americano, jesuíta, que preferiu morar na casa Santa Marta abdicando-se da “solidão” do palácio papal para ficar mais próximo das pessoas, que continuou usando os sapatos pretos, que pediu para ser chamado de “Francisco” e, com este nome, trouxe uma nova agenda missionária para a Igreja: uma Igreja próxima, ao lado dos pobres e refugiados, misericordiosa, preocupada com a questão ecológica e em saída... Essa nova agenda sacudiu as estruturas da Igreja, pois é um convite a “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (Papa Francisco. Evangelii Gaudium, n. 20).
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Sair da comodidade. Abandonar as “estruturas caducas” que já não servem mais para a evangelização. Fazer com que a pastoral ordinária em todas as instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída”. Eis o grande desafio lançado por Francisco para toda Igreja. Porém, o próprio Papa reconhece que para cumprir essa nova agenda evangelizadora, a Igreja precisa abandonar o “cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’” (EG, n. 33). Pois, “assim se gera a maior ameaça, que é ‘o pragmatismo cinzento da vida cotidiana da Igreja, na qual aparentemente tudo procede dentro da normalidade, mas na realidade a fé vai se deteriorando na mesquinhez’. Desenvolve-se a psicologia do túmulo, que pouco a pouco transforma os cristãos em múmias de museu” (EG, n. 83). Talvez isso explique em parte as críticas sofridas pelo Papa Francisco. Já que muitos preferem manter uma “simples administração”, a enfrentar o desafio da mudança.
As palavras e os gestos do Papa Francisco têm incomodado muita gente de fora e de dentro da Igreja. Não que o Papa tem trazido grandes novidades em seu discurso, mas o seu jeito acolhedor, próximo, pobre e humilde que procura “viver Evangelho sem glosa”, acaba por denunciar aqueles (as) que querem “ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas do Senhor. Mas Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros” (EG, n.270). Percebe-se que a perseguição sofrida por Francisco é reflexo do seu profetismo e de sua fidelidade ao Evangelho. Um Papa que veio do “fim do mundo” com a grande missão de “restaurar” a Igreja de Cristo tem procurado seguir as pegadas de São Francisco de Assis que pediu à Igreja a bênção para viver plenamente o Evangelho de Jesus Cristo, o que o nosso Papa Francisco tem feito e pedido não é outra coisa a não ser viver e anunciar o Evangelho de Jesus sem muitas explicações, como fez o pobre de Assis.
Outra característica de Francisco que incomoda é a sua alegria e leveza na condução da “barca de Pedro”. Seu rosto sempre alegre tem cheiro de ressurreição, transmite esperança e mostra a beleza da fé, pois “um evangelizador não deveria ter constantemente uma cara de funeral” (EG, n. 10). Com sua linguagem positiva, o Papa tem evitado que a Igreja fique prisioneira da negatividade. Pois “mais do que agir como peritos em diagnósticos apocalípticos ou juízes sombrios que se comprazem em detectar qualquer perigo ou desvio, é bom que nos possam ver como mensageiros alegres de propostas altas, guardiães do bem e da beleza que resplandecem numa vida fiel ao Evangelho” (EG, n. 168).
O próprio Jesus alertou aos seus discípulos acerca dos perigos da missão. “Lembrem-se do que eu lhes disse: um servo não é maior do que o seu senhor. Se perseguiram a mim, vão perseguir a vocês também” (Jo 15, 20). Portanto não é novidade, nem causa estranheza essa onda de críticas e perseguições ao nosso Papa, pois os verdadeiros profetas nem sempre são aceitos e, há sempre o desejo de alguém em calar a sua voz. Jesus, porém, chama de bem-aventurados os perseguidos por causa do Evangelho: “Felizes vós quando vos injuriarem e vos perseguirem e vos caluniarem de tudo por minha causa. Fiquem contentes e alegres, pois o vosso prêmio no céu é abundante. Da mesma forma perseguiram aos profetas que vos precederam” (Mt 5, 11-12). Por isso quando o Papa afirma que prefere “uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo seu fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças” (EG, n. 49), ele se inclui nessa Igreja que sai e que se fere na missão. Talvez pudéssemos repetir com Francisco: preferimos um Papa acidentado, ferido e enlameado por ter saído pelas estradas, a um Papa enfermo pelo seu fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças.
*Pe. Rodrigo Ferreira da Costa, SDN, Missionário Sacramentino de Nossa Senhora, Licenciado em Filosofia (ISTA), bacharel em teologia (FAJE), com Especialização para Formadores em Seminários e Casas de Formação (Faculdade Dehoniana). Publicou pela Editora O Lutador (2015) o livro “Equipes Missionárias: rosto de uma Igreja em missão”. Trabalha atualmente na Paróquia Santa Cruz, Alta Floresta-MT.
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