Padre Geovane Saraiva*
O convite à escuta da Palavra de
Deus, em setembro, mês dedicado ao Livro Sagrado, quer questionar nosso
relacionamento e nosso modo de viver, indo além do escutar e do prestar
atenção, num compromisso e engajamento, obedientes à vontade de Deus, que sempre
quer ouvir nosso grito e clamor, sem esquecer do louvor e da gratidão, na
humilde simplicidade e confiante entrega.
Deus nos criou para que
experimentemos, como filhos seus, a liberdade, que se encontra entre os maiores
anseios do ser humano, sendo uma conquista a ser alcançada através do constante
esforço de responder, dentro dos propósitos divinos. É o Reino de Deus, instaurado por Jesus de Nazaré, que foi
encarnado por São Francisco na sua essência, compreendendo-o e vivendo-o de um
modo inigualável, genuíno e original. Ele revelou o cristianismo na sua
natureza e fim, como o que existe de mais belo e precioso, por isso mesmo
exerceu vigorosa influência sobre o ser humano, indicando-nos o caminho da
plena liberdade.
A Bíblia nos ensina que na vida
temos que ultrapassar as barreiras da morte no dia a dia. Para nós, cristãos,
vencer os sinais de morte significa já ter o céu aqui na terra, mas, pela
convergência de esforços e boas ações, encontramos, é claro, seu ápice na feliz
ressurreição. Quando a Escritura Sagrada nos fala que “Deus será tudo em todas
as coisas” (1 Cor 15, 28), na nossa compreensão, é para que tenhamos diante dos
olhos o céu como pátria, na imagem do banquete nupcial ou no regozijo beatífico dos eleitos,
ainda como vitória definitiva e plena reconciliação com Deus, Senhor da vida e
da história.
Na nossa cultura predomina uma
forte tendência ao dualismo. De um lado bem distinto, apresenta-se o ser humano
e tudo ao seu redor como matéria; do outro lado, o mistério de Deus, de Jesus e
do Espírito Santo. Ficam patentes, na mente e no interior das pessoas, dois
mundos, com dificuldade de conciliação e entendimento. Ora, tudo que recebemos
de Deus - dons, qualidades e talentos - deveria ser bem administrado,
multiplicado e partilhado, num espírito solidário, sendo, evidentemente, o
início da promessa vindoura.
Sem renunciar ao nosso ser pessoa
humana e às nossas tendências mais profundas, deixemo-nos questionar pela
Palavra de Deus, no sentido da vivência da nossa fé, na grandeza da própria
vida, numa só coisa, como dom e graça de Deus, que tudo fez por amor, dando-nos
cabeça para pensar e coração para amar, inspirados na atmosfera imorredoura da oração e ternura do Poverello de Assis. Amém!
*Padre, Jornalista, Colunista e Pároco de Santo Afonso,
Parquelândia, Fortaleza-CE. Da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza
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