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Reflexão sobre a liturgia do 27º Domingo do Tempo Comum - Marcos 10,2-16
Jesus destrói pela raiz o fundamento do patriarcado em todas as suas formas de controle, submissão e imposição do homem sobre a mulher. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
Os fariseus colocam a Jesus uma pergunta para o pôr à prova. Desta vez não é uma questão sem importância, mas um fato que faz sofrer muito as mulheres da Galileia e é motivo de vivas discussões entre os seguidores de diversas escolas rabínicas: "É lícito ao marido separar-se da sua mulher?".
Não se trata do divórcio moderno que conhecemos hoje, mas da situação em que vivia a mulher judia dentro do matrimônio, controlado absolutamente pelo homem. Segundo a Lei de Moisés, o marido podia quebrar o contrato matrimonial e expulsar de casa a sua esposa. A mulher, pelo contrário, submetida em tudo ao homem, não podia fazer o mesmo.
A resposta de Jesus surpreende a todos. Não entra nas discussões dos rabinos. Convida a descobrir o projeto original de Deus, que está acima das leis e normas. Esta lei "machista", em concreto, impôs-se no povo judeu pela dureza de coração dos homens, que controlam as mulheres e as submetem à sua vontade.
Jesus aprofunda o mistério original do ser humano. Deus "criou-os homem e mulher". Os dois foram criados em igualdade. Deus não criou o homem com poder sobre a mulher. Não criou a mulher submetida ao homem. Entre homens e mulheres não tem de haver domínio por parte de ninguém.
A partir desta estrutura original do ser humano, Jesus oferece uma visão do matrimônio que vai mais além de tudo o que é estabelecido pela Lei. Mulheres e homens se unirão para "ser uma só carne" e iniciar uma vida partilhada numa mútua entrega, sem imposição nem submissão.
Este projeto matrimonial é para Jesus a suprema expressão do amor humano. O homem não tem direito algum de controlar a mulher como se fosse o seu dono. A mulher não deve aceitar viver submetida ao homem. É Deus mesmo quem os atrai a viver unidos por um amor livre e gratuito. Jesus conclui de forma rotunda: "O que Deus uniu que não o separe o homem".
Com esta posição, Jesus destrói pela raiz o fundamento do patriarcado em todas as suas formas de controle, submissão e imposição do homem sobre a mulher. Não só no matrimônio, mas em qualquer instituição civil ou religiosa.
Temos de escutar a mensagem de Jesus. Não é possível abrir caminhos para o reino de Deus e da sua justiça sem lutar ativamente contra o patriarcado. Quando reagiremos na Igreja com energia evangélica contra tanto abuso, violência e agressão do homem sobre a mulher? Quando defenderemos a mulher da "dureza de coração" dos homens?
IHU
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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