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Corrupção e mentira ferem mortalmente a democracia.
O uso de fake news na mídia social virou coisa corriqueira. (Reprodução)
Por Lev Chaim*
Nos dias de hoje, parece que a troca de ideias ou de conhecimento é o que menos importa. Basta abrir alguns jornais e revistas e passar os olhos na mídia social que você já nota o embate cego e surdo. É um lado contra o outro e não uma ideia contra a outra. Como sobreviver num oceano turbulento desses? – é a pergunta que muitos se fazem e deixam claro a desorientação gerada pelo excesso de pontos de vista antagônicos.
No cenário internacional, o presidente norte-americano, Donald Trump, em seu discurso para a Assembleia Geral da ONU, disse que estará colocando os interesses de seu país acima de tudo e de todos, seja qual for o acordo assinado antes. Aí, eu me pergunto: interesses de seu país ou de certo grupo no poder? Em outras palavras, propôs um total isolacionismo frente à Comunidade Internacional. Do acordo Climático de Paris ele já se retirou, e reativou as usinas de carvão norte-americanas, um dos grandes poluentes do planeta. Ele ainda provocou risos na plateia quando disse que o seu país nunca havia tido um presidente melhor que ele.
Já o presidente francês, Emmanuel Macron, neste mesmo encontro da ONU, em resposta ao discurso de Trump, assumiu um ponto de vista totalmente diverso, enaltecendo a solidariedade internacional, as alianças, como forma de lutar pelos interesses nacionais e internacionais. É como se ele dissesse de outra forma: estamos juntos neste planeta e temos que resolver os problemas em conjunto. Foi uma resposta que pretendeu ser eloquente às intempéries “nacionalistas” e “populistas” de seu colega norte-americano. Mas será que Trump a ouviu?
Outra que parece fazer-se de cega e surda para com as dúvidas dos cidadãos de seu país é a primeira-ministra britânica, Theresa May, com relação ao Brexit (saída da Grã-Bretanha da União Europeia). No primeiro plebiscito votou-se favorável ao Brexit com uma pequena margem de diferença. Mas, agora, que as negociações do governo britânico com Bruxelas parecem estar num impasse insolúvel, muitos na Grã-Bretanha, informados mais detalhadamente sobre o assunto, já começam a duvidar de que isso seja mesmo o melhor para o país.
Se acreditarmos no jornalista e escritor holandês, Joris Luyendijk, num artigo publicado no jornal NRC Handelsblad, a Europa não pode se deixar levar pela falsa retórica do governo britânico sobre o Brexit. Segundo ele: “Com uma produtividade abaixo da italiana e com uma economia que se mostra cada vez mais dependente do Centro Financeiro de Londres (City), o governo britânico de May está querendo deixar de ser sócio do Clube de Tênis, mas ter o direito de ainda poder usar suas dependências da forma que quiser”.
Para Luyendijk, os políticos britânicos realizaram manobras rumo a um pacote absurdo de ideias: “Se eles cumprirem as promessas de renovar a ‘soberania’ britânica, a economia terá um baque forte. Proteger essa economia significa reconhecer que sua ideia de soberania é do século 19 e está completamente desatualizada por décadas, e que o Brexit é baseado em mentiras ou pensamentos irrealizáveis”. Em outras palavras, os políticos favoráveis ao Brexit têm uma grande capacidade para relações públicas, mas sem a mínima noção da realidade.
E aí, volto à ideia inicial. Com todas essas distorções ou interpretações erradas da realidade, fica cada vez mais difícil para o cidadão comum formar a sua própria ideia do que seja mesmo o melhor para o seu país. Mas, com relação ao Brexit, já são muitos os britânicos que estão mudando de campo e acreditando que permanecer no clube europeu seja mesmo a melhor opção para o Reino Unido. E isto vem confirmar o que os jovens britânicos sempre quiseram desde o início de tudo: que o seu país permaneça na União Europeia.
No cenário nacional, as coisas também estão de pernas para o ar. Há poucos dias das eleições presidenciais e parlamentares, o embate se intensificou e o uso de fake news na mídia social virou coisa corriqueira. Isto, sem dizer ainda que a grande imprensa esconde fatos para não desagradar seus patrocinadores e acaba tomando partido do lado que tenta, de todas as maneiras, permanecer no poder. Como já diziam muitos cientistas políticos, corrupção e mentira ferem mortalmente a democracia, coisa que temos que tentar evitar a qualquer custo.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
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