Reflexão sobre a liturgia da festividade de Cristo Rei do Universo
Jesus torna-se
Jesus torna-se "a voz dos sem voz, e voz contra os que têm voz demais". (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
O julgamento contra Jesus provavelmente ocorreu no palácio em que Pilatos residia quando foi para Jerusalém. Ali, em uma manhã de abril do ano 30, encontram-se um prisioneiro indefeso chamado Jesus e o representante do poderoso sistema imperial de Roma.
O Evangelho de João relata o diálogo entre os dois. Na realidade, mais do que um interrogatório, parece um discurso de Jesus para esclarecer alguns temas que interessam muito ao evangelista. Em um determinado momento, Jesus faz esta solene proclamação: "Para isso nasci e para isso vim ao mundo: ser testemunha da verdade". Todo aquele que pertence à verdade escuta a minha voz".
Esta declaração contém uma característica básica que define a trajetória profética de Jesus: sua disposição de viver na verdade de Deus. Jesus não apenas diz a verdade, mas busca a verdade, e somente a verdade de um Deus que deseja um mundo mais humano para todos os seus filhos.
É por isso que Jesus fala com autoridade, mas sem falso autoritarismo. Fala com sinceridade, mas sem dogmatismos. Não fala como os fanáticos, que tentam impor sua verdade. Tampouco como os funcionários, que a defendem por obrigação, mesmo que não acreditem nela. Nunca se sente um guardião da verdade, mas uma testemunha.
Jesus não converte a verdade de Deus em propaganda. Não a utiliza para seu próprio benefício, mas em defesa dos pobres. Não tolera mentir ou encobrir as injustiças. Não suporta as manipulações. Jesus torna-se assim "a voz dos sem voz, e voz contra os que têm voz demais" (Jon Sobrino).
Esta voz é mais necessária do que nunca nesta sociedade presa em uma grave crise econômica. O encobrimento da verdade é um dos pressupostos mais firmes das atuações dos poderes financeiros e da gestação política submetida às suas exigências. Quer-se que vivamos a crise na mentira.
Tudo o que é possível é feito para esconder a responsabilidade das principais causas da crise e o sofrimento das vítimas mais fracas e indefesas é perversamente ignorado. É urgente humanizar a crise pondo no centro de atenção a verdade daqueles que sofrem e a atenção prioritária à sua situação cada vez mais grave.
É a primeira verdade exigida de todos, se não queremos ser desumanos. O primeiro dado antes de tudo. Não podemos nos acostumar com a exclusão social e a desesperança em que os mais fracos estão caindo. Aqueles de nós que seguem Jesus devem ouvir sua voz e instintivamente sair em defesa dos últimos. Quem é da verdade escuta a sua voz.
Periodista Digital - Tradução: Gilmar Pereira
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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