Irreversível

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Quantas perdas ocorrerão até que a maturidade se instale?

O efeito ‘suicida’ é percebido à distância. (Pixabay)

Por Eleonora Santa Rosa*

Uma das situações que mais me impressiona é a total falta de percepção ou mesmo de entendimento quando o quadro já é ruim e pode ficar catastrófico, agravado por atitudes e comportamentos cujo efeito dominó termina por comprometer, de modo irreversível, assuntos profissionais, pessoais, afetivos, familiares, públicos e privados.

Estratégias mal delineadas ou francamente hostis, comportamentos unilaterais desequilibrados e imaturos, sofreguidão por dinheiro e novas relações, autoestima desmedida, egoísmo em estado bruto, levam a resultados imprevisíveis e irreparáveis.

O efeito ‘suicida’ é percebido à distância. No entanto, infelizmente, os envolvidos perdem a capacidade de análise e de ponderação de seus gestos e encaminhamentos. Quantos já não se viram enredados nesse tipo de condução? Quantas relações privadas ou públicas sofreram erosão e agastamento sem volta em virtude da falta de um STOP gigante?

Quantas perdas ocorrerão até que a maturidade se instale? Quantos afastamentos e rupturas serão vistos e sofridos pela mais absoluta falta de sensibilidade e de noção do outro? Quanta arrogância emblematizada em ações individualistas acabará por deletar, inexoravelmente, relações familiares, casamentos, negócios, amizades etc etc.

Autocrítica em doses baixas, embevecimento em doses altas, cegueira temporária em relação ao contexto, surdez quanto ao barulho crescente advindo de desdobramentos óbvios de gestos inconsequentes e a total escassez de noção e semancol causam não só prejuízos tópicos, de curto prazo, como podem ser consideradas verdadeiras bombas de efeito retardado e alto poder de destruição por longo tempo.

No inventário que a vida ensina e lega, ao fim e ao cabo, quanto arrependimento real, quanta capacidade de mudança efetiva, quanta inteireza e humildade presentes na difícil, porém necessária transformação pessoal, coletiva, rumo a outros estágios de conhecimento, comportamento e atitude?

Há um famoso dito: “cada um estraga a sua vida como achar melhor”, nesse particular não faltam modos, meios, fórmulas, caminhos e alternativas para o abismo, para a ruptura, para a dissolução, para o embate final entre o peso incalculável que poderia ter sido evitado e não o foi, por raiva, perversidade, crueldade, vaidade e maledicência, e a leveza benfazeja de quem erra, compreende, luta e busca outros meios de seguir a vida, com generosidade e amor em todos os sentidos.

Nem só a morte é irreversível, muitas vezes os danos perpetrados tornam-se irreparáveis para todo o sempre.

*Jornalista e produtora cultural.