quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Os astronautas e a árvore

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De repente, a gente ouviu uma explosão. Todo mundo ficou calado. Foi quando vi que estava chovendo forte, muito forte.
Disse que, quando ela era criança, chovia diferente do jeito que chove agora
Disse que, quando ela era criança, chovia diferente do jeito que chove agora (Pixabay)
Por Pablo Pires Fernandes*

A gente estava falando sobre a Lua e fingindo que flutuava como os astronautas. O Pedro ficava fazendo uns movimentos engraçados e umas caretas muito divertidas. Ele tentava imitar aquele jeito de andar na Lua, que é muito devagar e esquisito. Todo mundo ria e estava se divertindo dentro da van.

De repente, a gente ouviu uma explosão. Todo mundo ficou calado. Foi quando vi que estava chovendo forte, muito forte. Nem tinha reparado. Depois, uma luz clareou tudo, acho que foi um raio. A gente não falava nada. O Lucas, que é mais novo, começou a chorar baixinho. Aí, a gente ouviu outro barulho, bem alto.

Escutei o som do trovão lembrei de quando era pequena, devia ter a idade do Lucas, mais ou menos. Eu sentia muito medo de trovão, aquele barulho que faz a gente tremer, dá pra sentir no corpo. Quando era criança (ainda sou criança, sei, mas é diferente) como o Lucas, eu acordava de noite e corria para a cama dos meus pais e pulava lá – eles assustavam, mas me abraçavam e deixavam eu dormir no meio deles. Era bom. Só que nunca sabia como eu acordava no meu quarto, na minha cama.

No dia daquele trovão e que tudo aconteceu, acordei com muito sono. Meu pai me chamou três vezes e teve que puxar a coberta para eu levantar da cama e ir tomar o Toddy e a salada de fruta. Detesto salada de fruta, mas como porque meu pai diz que faz bem e fica feliz quando vê que comi tudo. Escovei os dentes e desci correndo porque a van já tinha chegado e tinha que passar ainda na casa do Pedro, da Rita e do Vicente antes de chegar na escola.

Naquele dia, eu estava com sono, mas a professora falou coisas legais e perdi o sono. A professora passou um vídeo sobre a chegada do homem na Lua. A gente riu e ela explicou que aquele jeito de andar deles, dos astronautas, era por causa da gravidade. Que aqui na Terra é diferente de lá no espaço. Depois, ela disse que o nosso planeta é azul por causa dos oceanos e da atmosfera – essa parte eu não entendi direito.

A professora falou sobre a natureza e disse que os mares ocupam 70% da superfície do planeta. Deve ser por isso que a Terra é azul, né? Ela falou sobre a importância de não desperdiçar água, mas isso eu já sei. Que a gente tem que fechar a torneira quando está escovando dente e nem deve ficar fazendo hora no banho. Depois ela falou sobre a chuva e que o planeta está ficando mais quente e mudando tudo. Disse que, quando ela era criança, chovia diferente do jeito que chove agora.

Foi só a professora falar que a gente ouviu um trovão. A sala toda tremeu. Todo mundo riu, menos a professora, que fez uma cara séria e a gente ficou quieto. Daí a aula acabou e a gente ficou feliz porque tinha 10 minutos para brincar antes do sinal.

A Clarice Alvarenga me deu um pedaço de bolo e guardei para comer no caminho de casa. Tive que correr, todo mundo me esperava na van. Fiquei um pouco molhada por causa da chuva. No caminho, a gente falava sobre a Lua e os astronautas. O barulho foi muito alto, alto de verdade. Assustei e não entendi direito. O Lucas começou a chorar e, depois, todo mundo chorava. Essa parte eu não lembro direito, tinha uma árvore. Só lembro que o Ranur disse:

“Tira as crianças, tira as crianças.”

*Pablo Pires Fernandes é jornalista, subeditor do caderno de Cultura do Estado de Minas e responsável pelo caderno Pensar.

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