sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Papa critica bispos dos EUA por escândalo de abusos e cobra união

Francisco alertou que marketing não restaura imagem da Igreja, cuja missão não se reduz à administração de um 'negócio de evangelização'.


O papa Francisco vem lutando para resolver a crise de abuso sexual infantil na Igreja Católica.

O papa Francisco vem lutando para resolver a crise de abuso sexual infantil na Igreja Católica. (AFP/Arquivos)
Por Crispian Balmer
Cidade do Vaticano - O papa Francisco acusou nesta quinta-feira os bispos católicos norte-americanos de não mostrarem unidade diante de uma crise de abusos sexuais, afirmando que disputas internas precisam acabar para se enfrentar o escândalo que dizimou a credibilidade da Igreja.
Em uma carta longa e bastante incomum enviada aos bispos norte-americanos por ocasião do início de uma semana de retiro para refletir sobre a crise, Francisco disse que a resposta ao escândalo mostra a necessidade urgente de uma nova abordagem de gestão e mentalidade dentro da Igreja Católica.
"O povo fiel de Deus e a missão da Igreja continuam sofrendo muito como resultado de abusos de poder, consciência e abuso sexual e da maneira como foram administrados", escreveu o papa, acrescentando que os bispos "se concentraram mais em apontar dedos do que na busca por caminhos de reconciliação".
O papa Francisco convocou bispos católicos de todo o mundo e dezenas de especialistas e líderes religiosos para o Vaticano no próximo mês para discutir a proteção de menores, em sua mais recente tentativa de enfrentar a crise dos abusos.
Vítimas de abuso sexual por clérigos esperam que a reunião finalmente promova uma política clara para tornar os próprios bispos responsáveis pela manipulação inadequada dos casos de abuso.
Antes dessa reunião, os bispos dos EUA se reuniram na quarta-feira perto de Chicago para sete dias de oração e reflexão espiritual.
"A credibilidade da Igreja foi seriamente enfraquecida e diminuída por esses pecados e crimes, mas ainda mais pelos esforços feitos para negá-los ou ocultá-los", disse Francisco.
O papa afirmou que está tão preocupado com a situação que esperava comparecer ao retiro nos EUA, mas acrescentou que não pôde fazê-lo "por razões logísticas". No entanto, ele enviou um representante pessoal para liderar o processo.
Erros passados
A Igreja dos EUA ainda está se recuperando de um relatório do grande júri no ano passado que mostrou que 301 padres no Estado da Pensilvânia abusaram sexualmente de menores em um período de 70 anos. Outros Estados dos EUA iniciaram investigações por conta própria.
"A dor causada por esses pecados e crimes também afetou profundamente a comunhão dos bispos, e não gerou o tipo de desentendimentos e tensões saudáveis e necessários encontrados em qualquer corpo vivo, mas sim divisão e dispersão", disse o papa.
Os críticos acusam Francisco, que se tornou pontífice em 2013, de responder muito lentamente aos escândalos sexuais, de não ter empatia com as vítimas e de acreditar cegamente na palavra de seus colegas clérigos.
Mas em 2018 ele tentou resolver os erros do passado, admitindo publicamente que estava errado sobre um caso no Chile e prometendo que a Igreja nunca mais tentaria encobrir tal delito.
Em julho, ele aceitou a renúncia do cardeal Theodore McCarrick, uma das figuras mais proeminentes da Igreja, alegando que ele havia abusado sexualmente de um menino de 16 anos, e em outubro o cardeal Donald Wuerl, arcebispo de Washington, deixou a posição por causa da forma como lidou com casos de abuso.
"Combater a cultura do abuso, a perda de credibilidade, a perplexidade e confusão resultantes e o descrédito de nossa missão nos exigem urgentemente uma abordagem renovada e decisiva para a resolução de conflitos", escreveu o papa na quinta-feira.
"Isso requer não apenas uma nova abordagem para administrar, mas também uma mudança em nossa mentalidade."

Reuters

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