sábado, 9 de fevereiro de 2019

Acusado de abusos tenta barrar filme sobre pedofilia em Berlim

domtotal.com
Filme relata a criação da associação de vítimas que sofreram abusos do pedófilo Bernard Preynat.
Diretor de cinema francês, François Ozon
Diretor de cinema francês, François Ozon
Diretor de cinema francês, François Ozon (AFP/Arquivos)

Um padre francês acusado de abusos contra mais de 80 jovens tenta adiar a estreia de um filme, apresentado nesta sexta-feira (8) no Festival de Berlim sobre um escândalo de pedofilia na Igreja Católica francesa, que também envolve um cardeal.

O diretor François Ozon rodou no ano passado o filme "Grâce à Dieu" (Graça de Deus), que relata a criação da associação de vítimas "La liberte Word", fundada em Lyon (centro-leste da França) em 2015 por ex-escoteiros que sofreram abusos de um padre pedófilo, Bernard Preynat.

No total, a associação contabilizou 85 vítimas do padre.

Este tema é bastante atual na França, onde desde janeiro acontece em Lyon o julgamento do cardeal Philippe Barbarin, arcebispo da cidade, e de outras cinco pessoas por não denunciar agressões sexuais pedófilas. A sentença está prevista para 7 de março.

Por sua vez, Preynat, acusado em janeiro de 2016 por agressão sexual, poderia ser julgado este ano.

Um dos advogados desse padre entrou com uma ação nesta sexta-feira para adiar a estreia do filme na França, marcada para 20 de fevereiro, para depois do julgamento.

O pedido - que ameaça a estreia do filme - veio um dia depois de François Ozon receber uma notificação de uma colaboradora da Diocese de Lyon, Régine Maire, também julgada com o Cardeal Barbarin, para ter seu nome retirado do filme.

Filme de utilidade pública

O diretor François Ozon, que no filme usa apenas os primeiros nomes das vítimas, cita, em vez disso, o cardeal Barbarin, padre Preynat e Régine Maire, cujos nomes, segundo ele, "já estavam na imprensa".

Ozon assegura que quis fazer um "filme cívico", ao "propor questões" que permitam "um debate" de "utilidade pública".

"Tentei ser o mais equilibrado, o mais objetivo possível", assegura Ozon.

"Não é um filme com mocinhos e bandidos, é algo muito mais complexo", acrescenta o diretor de 51 anos, para quem "houve um pacto de silêncio" em "toda a sociedade" sobre a pedofilia.

"A palavra se liberta pouco a pouco", diz ele. Esta sexta-feira marca a primeira reunião de uma comissão encomendada pelo episcopado para investigar o abuso sexual de menores na Igreja Católica francesa desde os anos 1950.

"O cinema acompanha o olhar da sociedade", disse Ozon, que entre outros filmes dirigiu "Swimming pool" (2003), "Frantz" (2016) e "L'Amant double" (2017).

Com "Grâce à Dieu", uma "ficção baseada em fatos reais", Ozon explica que não quis "fazer um filme sobre a atualidade" nem "atacar a Igreja".

"Meu filme não é focado em um aspecto judicial, tenta fazê-lo no aspecto humano e no sofrimento das vítimas", assegura o diretor de cinema da AFP.

"Percebi que tínhamos que contar uma história humana muito intensa, não sobre o caso em si (...), mas sobre as repercussões da libertação da palavra para as vítimas e seu entorno", disse o cineasta, que pela quinta vez disputa o Urso de Ouro de Berlim.


AFP

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