domingo, 17 de fevereiro de 2019

Felicidade

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Reflexão sobre o VI Domingo do Tempo Comum - Lucas 6,17.20-26
A parábola do homem rico e do pobre Lázaro é uma crua realidade da sociedade.
A parábola do homem rico e do pobre Lázaro é uma crua realidade
 da sociedade. (Annie Spratt/ Unsplash)
Por José Antonio Pagola*

Pode-se ler e ouvir cada vez mais notícias optimistas sobre a superação da crise e a recuperação progressiva da economia. Dizem-nos que já estamos assistindo a um crescimento econômico, mas, crescimento de quê? Crescimento para quem? Dificilmente somos informados da verdade completa do que acontece.

A recuperação econômica em curso está consolidando e até perpetuando a chamada «sociedade dual». Um crescente abismo vai-se abrindo entre os que vão melhorar o seu nível de vida cada vez com maior segurança e aqueles que serão deixados para trás, sem trabalho nem futuro nesta vasta operação econômica.

De fato, ao mesmo tempo, aumenta o consumo ostentoso e provocativo dos que são cada vez mais ricos e a miséria e insegurança dos cada vez mais pobres.

A parábola do homem rico «que se vestia de púrpura e linho e que se banqueteava sumptuosamente todos os dias» e do pobre Lázaro que procurava sem conseguir, para saciar o seu estômago, o que deitavam fora da mesa do rico, é uma crua realidade da sociedade dual.

Entre nós existem esses «mecanismos econômicos, financeiros e sociais» denunciados por João Paulo II, «que, embora manejados pela vontade dos homens, trabalharam quase automaticamente, tornando mais rígidas as situações de riqueza de uns e as de pobreza de outros».

Mais uma vez estamos consolidando uma sociedade profundamente desigual e injusta. Nessa encíclica tão lúcida e evangélica que é Sollicitudo Rei Socialis, tão pouco ouvida, inclusive por aqueles que constantemente o vitoriam, João Paulo II descobriu na raiz desta situação algo que só tem um nome: o pecado.

Podemos dar todos os tipos de explicações técnicas, mas quando o resultado é o enriquecimento cada vez maior dos já ricos e o afundamento dos mais pobres, aí se está a consolidar a falta de solidariedade e a injustiça.

Nas Bem-aventuranças, Jesus adverte que um dia se inverterá o destino dos ricos e dos pobres. É fácil que também hoje sejam muitos os que seguindo Nietzsche, pensam que a atitude de Jesus é fruto do ressentimento e impotência de quem, não podendo obter mais justiça, pede a vingança de Deus.

No entanto, a mensagem de Jesus não nasce da impotência de um homem derrotado e ressentido, mas da sua visão intensa da justiça de Deus, que não pode permitir o triunfo final da injustiça.

Vinte séculos se passaram, mas a palavra de Jesus continua a ser decisiva para os ricos e para os pobres. Palavra de denúncia para alguns e promessa para outros, ainda está viva e interpela-nos a todos.

IHU

*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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